O artigo Felca e o desnudamento da máquina de moer gente, de Joanne Mota, publicado no portal O Vermelho, é mais um tijolo no muro da censura que o imperialismo impõe sobre a sociedade.
Logo no olho do texto, a autora pede punição, diz que “a exploração e adultização de crianças — crime que deve ser combatido com rigor — virou isca para engajamento e lucro. Não é acidente de percurso: é resultado direto de algoritmos projetados para nos manter conectados o maior tempo possível”.
Sempre que a esquerda aparece com um neologismo ou palavra da moda, como “adultização”, é para pedir cadeia. De homicídio tem-se agora o “feminicídio” como agravante. “Transfobia”, cinco anos de cadeia; “Capacitismo”, duzentos anos de cadeia; “Gordofobia”, trezentos anos de cana; “Discurso de ódio”, oitocentos anos de prisão com trabalhos forçados; “Adultização”… prisão perpétua.
A esquerda pequeno-burguesa, de repente, descobriu a “adultização”. Um pouco de leitura ajudaria para ver que isso é mais antigo do que se imagina. Quem leu Os Miseráveis, de Victor Hugo; Germinal, de Émile Zola; David Copperfield ou Oliver Twist, de Charles Dickens; O Herege, de Jack London etc., viu que o capitalismo expôs as crianças às mais brutais formas de exploração e “adultização”. É ridícula a atual histeria.
A pobreza joga crianças na prostituição. O fim dos direitos trabalhistas, os serviços terceirizados feitos em casa, tudo isso requer trabalho infantil. Mas as redes sociais são as grandes vilãs do momento.
Campanha orquestrada
Segundo Joanne Mota, “mais de 175 milhões de visualizações no Instagram e 31 milhões no YouTube em apenas três dias. Até o dia 10 de agosto, eu não fazia ideia de quem era Felca, até me deparar com um vídeo-denúncia que sacudiu as redes, expôs o que está banalizado no nosso dia a dia e somou força ao movimento de quem luta pela regulamentação das Big Techs”. A autora deveria ter se perguntado do porquê desse número de visualizações, pois é óbvio que se trata de uma campanha.
Quem está por trás dessa campanha? O imperialismo, e isso está acontecendo no mundo todo. “Regulamentar” as redes sociais é uma necessidade, pois o grande capital precisa impedir que as pessoas saibam o que está acontecendo no mundo. A exposição das atrocidades que “Israel” vem cometendo na Faixa de Gaza corre o planeta em tempo real, e toda a propaganda sionista foi por água abaixo.
Toda pessoa com uma câmera na mão pode mostrar a violência estatal, por meio de suas polícias, massacrando a população, e isso o imperialismo não pode permitir, precisa que a grande imprensa continue a manipular os fatos, ficar falando em “balas perdidas”, “confrontos”, pessoas “mortas pela polícia”, e toda sorte de manipulação para acobertar esses crimes.
Nada de novo no fronte
Joanne Mota alega que “Felca não apenas trouxe o tema para o centro da disputa política — de onde nem a extrema direita conseguirá escapar — como escancarou como vidas inteiras estão sendo trituradas para manter funcionando a engrenagem da máquina de moer gente em que a internet foi transformada”. Mas pessoas estão sendo trituradas desde sempre, a Internet não aumentou a exploração.
Apesar do cinema, da grande imprensa, dos monopólios televisivos com suas novelas e programação, a autora do texto foi atrás de um “especialista” para falar sobre o “controle contínuo e adaptativo que as plataformas exercem sobre nossas vidas, direcionando comportamentos e filtrando o mundo que nos é apresentado”. Não dá para querer inventar de novo a roda.
Mais neologismo
A esquerda pequeno-burguesa sempre precisa de neologismo para tentar provar que o mundo mudou e deve nos causar espanto. É isso que vemos no intertítulo “Capitalismo de plataforma: quando o usuário é o produto”. O que seria um capitalismo de plataforma e o usuário sendo produto? Não existe teorização, apenas palavras jogadas.
Em tom alarmista, Joanne Mota diz que as plataformas “não vendem só anúncios; vendem nosso tempo de vida — e com isso, tiram de nós nosso direito de viver plenamente, tiram nossas escolhas e, não raro, a própria vida”.
Segundo a articulista, a “adultização de crianças” virou “isca para engajamento e lucro”. Quem lê isso, tem a impressão que as redes sociais viraram um grande balcão vendendo crianças. Mas quem navega na internet sabe que não é assim. Existem milhões de conteúdos jornalísticos, música, culinária, marcenaria, etc., tudo o que se pode imaginar onde crianças simplesmente não aparecem.
A autora do texto reclama de violência e exploração na internet. Será que ela já ligou a televisão nos domingos à tarde, quando as famílias se reúnem para assistir a algum filme ou programas de auditório? Será que já assistiu a desenhos animados com personagens se explodindo, montando armadilhas e se esbofeteando? Tudo isso é antigo, muito antigo, e gerações inteiras cresceram consumindo esse tipo de conteúdo. Nem por isso se pede a censura das televisões, e nem se deveria pedir, claro.
Censura
Joanne Mota alega que “a regulamentação das Big Techs não é cruzada contra tecnologia, mas contra um modelo predatório”, mas isso é falso. Quem está sendo regulado são os usuários. As tais big techs estão tendo ampliado o poder de retirar do ar conteúdos “problemáticos” sem a necessidade de ação judicial.
O que seria um “conteúdo problemático”? No Facebook, por exemplo, a maior parte das páginas que mostravam o genocídio contra o povo palestino eram bloqueadas ou tinham seu alcance reduzido. Por quê? Porque isso configurava “discurso de ódio”. Discurso de ódio é essa invenção da esquerda, que serve muito bem para acobertar os fascistas.
Em seu último parágrafo, Joanne Mota escreve que “se queremos um projeto de sociedade em que ter e aparecer não sejam a tônica, como querem as plataformas digitais, será preciso disputar não só leis, mas também valores”. Acontece que nas redes as pessoas estão aparecendo, isso é democrático, o que concorre com os monopólios de imprensa. E a esquerda está apoiando esses monopólios, exigindo leis e fazendo sua cruzada moral, que mascara sob a palavra “valores”.
Dizer que “a comunicação é infraestrutura da democracia” para defender a restrição das pessoas nas redes e favorecer os tubarões da informação é cinismo.
Estão utilizando as crianças, como já utilizaram discursos de ódio e fobias, para censurar a internet e assim impedir que a informação circule livremente. Trata-se de uma exigência do imperialismo, que a esquerda pequeno-burguesa adotou como bandeira. É uma política extremamente reacionária que deve ser combatida.




