O resultado eleitoral do primeiro turno na Bolívia, em suas eleições presidenciais, demonstra uma situação inédita naquele país, com a esquerda de fora das soluções políticas apresentadas. Resultado da traição do atual mandatário Luis Arce ao Movimiento al Socialismo (MAS), a crise foi aprofundada com os pedidos do ex-presidente Evo Morales pelo voto nulo.
Esta situação permitiu que a direita obtivesse alguma vitória eleitoral, com o senador Rodrigo Paz, de Tarija, do partido Comunidade Cidadã, com 31% dos votos e em segundo lugar Jorge “Tuto” Quiroga, ex-presidente boliviano de 6 de agosto de 2001 a 6 de agosto de 2002, substituindo o Hugo Banzer Suarez, também ex-presidente, do qual foi vice-presidente e do partido Libre.
O ex-Presidente Hugo Banzer nasceu em Concepción em 10 de maio de 1926, falecendo aos 75 anos em Santa Cruz em 5 de maio de 2002. Foi um presidente de 1971 até 1978, quando depôs o presidente Juan José Torres, de esquerda, ambos militares. Durante o período em que governou neste período aumentou a repressão aos sindicatos operários, à Igreja, aos índios e aos estudantes que estiveram favoráveis aos avanços das lutas populares, com práticas como encarceramentos ilegais, forçar o exílio de opositores, recorrendo à tortura e provocando o desaparecimento de pessoas. Criando um êxodo da Bolívia aos países vizinhos como Argentina, Brasil e Chile na América Latina, Espanha e Estados Unidos. Na conjuntura internacional, o regime de Hugo Banzer colaborou com outras ditaduras militares latino-americanas, em especial na América do Sul, sendo parte da organização do Plano Condor.
Em 1978 foi deposto por um golpe militar. Tentou novamente, por meios institucionais, o retorno à presidência da Bolívia, sem sucesso nas eleições de 1985, 1989 e 1993. Apenas em 1997 retornou à presidência, nos marcos de uma “democracia” neoliberal, com alguma estabilidade constitucional, porém retomando as práticas ditatoriais, como a alteração do tempo de mandato de 4 a 5 anos, declarando um Estado de exceção em 2000, quando da privatização do abastecimento de água feito em Cochabamba.
Em 2001, renunciou ao mandato devido às complicações médicas por um câncer de pulmão, mas também devido à crise política instalada com a repressão contra o uso público da água em 2000, sendo sucedido por seu vice-presidente Jorge Quiroga, terminando o mandato do ex-presidente Hugo Banzer, adotando uma política de erradicação dos plantios de coca, principal atividade agrícola da Bolívia, continuando o programa Plan Dignidad do governo anterior, aumentando a crise social no país, quando em 6 de dezembro de 2001, forças de segurança boliviana com apoio e financiamento dos Estados Unidos, mataram o líder cocaleiro Casimiro Huanca, durante um protesto pacífico. Desde setembro de 2001, foram mortos 10 produtores de coca e mais de 350 feridos e detidos por conflitos com o Estado boliviano. O imperialismo norte-americano reconheceu o “êxito” da guerra contra as drogas, com mais de 28 mil hectares destruídos, porém com aumento da pobreza e enfraquecimento da economia local.
O militarismo boliviano sempre estive presente na vida institucional, mesmo com a Assembléia Constituinte, ocorrida entre 2006 a 2009, com o estabelecimento do Estado Plurinacional da Bolívia, conquistado durante o primeiro mandato de Evo Morales, na época no Movimiento al Socialismo. O projeto de Evo Morales foi interrompido pelo golpe de 2020.



