Polêmica

A esquerda e a demonização da tecnologia

Articulista se junta ao time da esquerda alarmista, essa que vê as novas tecnologias como um grande perigo e fruto de todo o mal

Algoritmo Malvadão

O texto Brasil enfrenta com coragem guerra híbrida dos EUA e extrema-direita tecnoplutocrata global aliada aos traidores locais, de Roberto Moraes, publicado nesta quarta-feira(13) no Brasil247, denuncia que “o Brasil está, de forma literal e real, sob uma intensa, complexa e assimétrica guerra híbrida empreendida e direcionada pelos EUA, sob o comando de Trump e com apoio da extrema-direita global”. Essas terminologias como ‘guerra híbrida’, no entanto, não ajudam a entender o que está em jogo.

Trump pressiona o Brasil de duas maneiras, com um tarifaço, que pode até ser entendido como uma guerra comercial. E, simultaneamente, pressiona para que na presidência seja colocado um presidente aliado; no caso, Jair Bolsonaro.

A pressão política de Trump não pode ser tolerada, como já enfatizamos inúmeras vezes. Com relação ao aumento das tarifas, isso vem acontecendo no mundo todo. Todos os países colocam algum tipo de tarifa para proteger o próprio mercado, só não era costume que um país rico, como os EUA, agissem como um país atrasado e fizessem tanto estardalhaço.

Segundo Roberto Moraes, “diariamente, sob a forma de provocativas pílulas, em doses variadas, caminha-se na direção da abolição gradativa do sistema de regras e acordos entre nações”, mas isso de sistema de regras, na prática, não existe, no mundo impera a lei do mais forte.

Em 2012 os EUA manifestaram descontentamento quanto à política para o petróleo do governo Dilma Rousseff. Não demorou nada, e começaram a eclodir escândalos na imprensa, julgamentos-farsa, até o golpe de 2016 – que ainda não acabou.

José Serra, por exemplo, já estava comprometido com os EUA de retirar do Brasil o Pré-sal, como se demonstrou em vazamentos do WikiLeaks. Do golpe para cá, retiraram o quanto puderam da Petrobrás, e o Brasil está sendo saqueado, com a ajuda, inclusive, de órgãos como o Ibama e ministras infiltradas no governo.

Pode-se chamar isso de “guerra híbrida”, mas é o procedimento padrão do imperialismo. E Trump, é importante lembrar, não representa diretamente esse setor.

O que há de novo?

Para Moraes, comparando Trump a Hitler, o presidente americano trabalha “em articulação e coalizão unindo gigantes corporações de tecnologia, lideranças do capital de risco, think tanks, estruturas jurídicas etc., todas articuladas e instrumentalizadas por plataformas digitais estruturadas para ação em captura, controle de dados e manipulação cognitiva, a serviço dos EUA”. Em seguida, afirma que “está em curso uma estratégia de uso intenso da tecnologia digital e guerra híbrida como armas de ‘recolonização’, com o objetivo de recolocar o Brasil no espaço que os EUA sempre chamaram de seu quintal”.

Primeiro, é preciso dizer que os EUA sempre trataram o Brasil como seu quintal. Basta ver os golpes que aplicaram aqui, militar e judiciário, e o quanto interferem na economia. Segundo, as empresas de tecnologia não são os principais agentes da economia, ainda que parte da esquerda insista nesse ponto. O “ataque” às plataformas digitais é, na verdade, uma exigência do imperialismo, que precisa manter a informação controlada nas redes. No mundo todo aumenta a censura na Internet.

Segundo o articulista, “os EUA exigem vassalagem, ofertada pelos líderes da extrema-direita brasileira, não aceitando que o Brasil se posicione com soberania, desafiando a nova ordem algorítmica de base tecnológica, cognitiva e política, que usa a máquina da guerra híbrida como ferramenta para alimentar a esperança de retomada do controle geopolítico sobre toda a AL”.

A vassalagem também não é nenhuma novidade. O Judiciário no Brasil, como se viu na Lava-Jato, anda recebendo ordens diretas de certo país do norte. O Exército continua subserviente aos EUA. A Polícia Federal é controlada pela CIA e pelo Mossad, impedindo, por exemplo, a entrada de palestinos no País. Tudo isso sem a necessidade de “ordem algorítmica”. Com relação ao controle geopolítico, os EUA não apostam em algoritmos, mas em bases militares e em golpes.

Moraes escreve que “de um lado, está a guerra cultural e a tese do caos de Steve Bannon, que atua num movimento de massa e foco na manipulação digital e modulação cognitiva”. Que “objetiva a destruição das instituições e do establishment tradicional. Intenta criar um vácuo de poder propício aos movimentos que levam a uma nova ordem conservadora e plutocrata”. E que “na outra ponta, está a chamada República Tecnológica (…) que objetiva desmontar o Estado-nação por dentro”.

Falando sobre a “guerra cultural” e “manipulação”, para que serve a indústria cultural americana e os grandes jornais? Isso não é novo e a tal “república tecnológica” é uma invenção; enquanto o “desmonte de Estados-nação”, é feito às claras pelo identitarismo e os tais “decoloniais”

Segundo o articulista, o governo Trump, junto à “República Tecnológica”, “ambicionam destruir o Deep State (e instituições) para colocar no lugar uma estrutura tecnoplutocrata unindo os donos das Big Techs e o ideal revolucionário do movimento conservador MAGA”. Não é nada disso. Trump quer desmontar o que puder do “estado profundo” porque tem ali inimigos. Sua suposta união com empresas tecnológicas mostram, no máximo, que existe uma divisão no interior da burguesia americana. A de Trump (o grande capital doméstico), contra o grande capital internacional, que tem drenado para si as riquezas e assim empobrecidos setores importantes da economia americana.

Demonização da tecnologia

Outro hábito da esquerda é demonizar tecnologias, lembrando de certo modo o ludismo do início do século XIX na Inglaterra, que foi um movimento de trabalhadores e artesãos têxteis que passaram a destruir as máquinas que estavam roubando seus empregos.

Segundo Moraes, “a IA [inteligência artificial] é a base tecnológica mais recente em uso por esse movimento dos predadores digitais, que funciona de forma acelerada e potente. Da Empoli (2025) lembra que ‘os engenheiros do Vale do Silício há muito deixaram de programar computadores para se tornar programadores de comportamentos humanos’”. Vai ver e esses engenheiros são formados em publicidade, mestre em mexer com o comportamento humano.

Em tom alarmista, Moraes afirma que “a potência da IA está sustentada na ideia de alimentar o caos, fugindo de toda racionalidade”. Essa nova tecnologia é muito boa. Cabe às pessoas fazer o melhor uso, pois as possibilidades são enormes e a coisa mal começou.

Finalizando, Roberto Moraes escreve que “a saída é uma luta diuturna, corajosa, inteligente e conjunta, tanto interna quanto externa. Dentro do Brasil, a luta é contra as elites cooptadas e de mentes colonizadas”. No Brasil, a luta é contra a burguesia e principalmente contra o imperialismo. E, contrariando o título, é preciso dizer que o Brasil não está enfrentando com coragem da “guerra híbrida”. Na verdade, ao “regulamentar” as redes, é estar a serviço da ditadura mundial imposta pelo grande capital financeiro.

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