No último dia 06 (quarta-feira), o youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, publicou um vídeo de aproximadamente 50 minutos com o título “adultização”. Nele, ele denuncia casos de “sexualização e exploração de crianças e adolescentes” nas redes sociais por outros youtubers e personalidades, que supostamente ganham dinheiro com isto.
Após seis dias da publicação, o vídeo já possui mais de 36 milhões de visualizações.
Dentre as personalidades denunciadas no vídeo de Felca, estão Hytalo Santos. No dia seguinte à publicação do vídeo de Felca, a conta de Santos no Instagram, que tinha 17 milhões de seguidores, saiu do ar. Além desta, ele tinha conta no TikTok, com 2,4 milhões de seguidores, bem como um canal no Youtube, com 5 milhões.
O conteúdo que Santos “produzia” era mostrar a rotina de menores de idade que viviam em uma casa com ele, como se fosse um reality show ou algo semelhante. Uma das menores é a personalidade Kamylinha Santos. No vídeo de Felca, ela aparece como um dos principais exemplos de adultização e sexualização de menores.
Ela foi adotada por Hytalo Santos quando ela tinha 12 anos de idade, época em que já aparecia nos vídeos dele. Sua imagem foi se tornando, segundo Felca, cada vez mais “sexualizada” ao longo dos anos, em todos os aspectos (roupas, atitudes, coreografias de dança e vocabulário). Aos 16 anos, ela foi juridicamente emancipada, recebendo capacidade civil plena e em 2025 foi noticiado que ela sofreu um aborto espontâneo.
Conforme noticiado pelo portal de notícias G1, a apresentadora de extrema direita Antônia Fontenelle já havia feito um feito com as mesmas denúncias contra Hytalo Santos em 2024, mas o poder judiciário da Paraíba ordenou a remoção do vídeo das redes.
Quando da publicação do vídeo de Felca, Santos já estava sendo investigado pelo Ministério Público da Paraíba sob a suspeita de exposição inadequada de menores em suas redes sociais.
Nesta terça-feira (12), o Poder Judiciário determinou a suspensão de todas as redes sociais de Hytalo Santos, a interrupção da monetização dos canais, bem como o proibiu de ter contato com menores de idade.
Outra pessoa que aparece no vídeo de Felca como exemplo de “sexualização” de menores é Bel Peres Magdalena. Em que pese ela tenha 18 anos atualmente, ela ficou famosa através do canal “Bel para Meninas”, criado em 2014 por sua mãe, como extensão de canal que existia previamente. Em 2020, o canal recebeu atenção negativa em razão de vídeos que colocava a garota em situações alegadamente degradantes. Tanto ela quanto sua mãe possuem mais de 1 milhão de seguidores em suas redes.
Também foi denunciado o caso de Caroliny Dreher. Aos 11 anos de idade, sua imagem começou a ser veiculada com vídeos de dança. Segundo o vídeo de Felca, ao longo do tempo ela passou a receber mensagens de cunho sexuais e, eventualmente, a jovem teria começado a divulgar conteúdo sexualizado em diversas plataformas, sob administração de sua própria mãe.
Desde que o vídeo de Felca foi publicado, o tema da regulamentação das redes sociais, que faz parte do plano da burguesia imperialista para censurar cada vez mais a divulgação de informações nas redes sociais, voltou ao centro da cena política brasileira.
Utilizando como pretexto a proteção das crianças, Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, anunciou nesta terça-feira que criará um grupo de trabalho para apresentar uma proposta de projeto de lei “que possa trazer o mais avançado e efetivo Projeto de Lei para proteger as nossas crianças”, conforme noticiado pelo Agência Brasil.
Já segunda-feira (11), ele havia publicado em sua página do X a seguinte mensagem: “o vídeo do Felca sobre a adultização das crianças chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade. Na Câmara, há uma série de projetos importantes sobre o assunto. Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão. Obrigado, Felca. Conte com a Câmara para avançar na defesa das crianças”.
Conforme a Agência Brasil, o grupo de trabalho será formado por parlamentares e especialistas e terá 30 dias para apresentar uma proposta. A agência de notícias também informa, citando Motta, que existem mais de 60 projetos de lei protocolados na Câmara sobre esse tema.
Por parte do governo brasileiro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, informou nesta terça-feira que Lula irá enviar projeto de lei ao Congresso Nacional para regulamentar e fiscalizar plataformas digitais, e que o objetivo seria coibir crimes como pedofilia, tráfico de crianças, prostituição, fraudes bancárias e golpes contra usuários. O ministro também valeu-se do pretexto de proteção das crianças: “essas empresas ganham muito dinheiro às custas da saúde mental e física de crianças, adolescentes e mulheres. Não podem ganhar dinheiro facilitando o crime”.
Embora não tenha havido ainda uma declaração oficial de Lula, a primeira-dama, Janja, já se manifestou pela regulamentação das redes, afirmando que “as redes sociais não são um ambiente seguro para crianças e adolescentes“, acrescentando que “nossas crianças correm riscos seríssimos na internet, sendo expostas a todo tipo de violência“.
Mostrando que a censura nas redes sob o pretexto de proteger as crianças também está sendo apoiada por parte da extrema-direita, que diz defender a liberdade de expressão, os senadores Jaime Bagatolli (PL-RO) e Damares Alves (Republicanos-DF) apresentaram um pedido de CPI para investigar influenciadores e plataformas digitais, conforme noticiado pelo portal de notícias G1, que acrescenta que o partido Republicanos pretende apresentar a chamada “Lei Felca”, que prevê endurecer penas e obrigar as plataformas a retirar rapidamente conteúdos ofensivos.
Por parte da esquerda pequeno-burguesa, um projeto de lei de “regulamentação das redes” também foi apresentado por Taliria Petrone, deputada federal do PSOL e líder do partido na Câmara. Conforme noticiado pela revista Veja, o PL impõe deveres claros às plataformas digitais, como detecção e bloqueio preventivo, suspensão imediata de monetização, interrupção de transmissões ao vivo e comunicação direta com Conselhos Tutelares, bem como pretende classificar a monetização de conteúdos digitais com participação de crianças e adolescentes como trabalho infantil artístico digital, submetendo-a às exigências do ECA
Em publicação sobre os desdobramentos do vídeo de Felca, o G1 também ouviu a advogada Luciana Temer, filha de Michel Temer e diretora do Instituto Liberta. Conforme o portal de notícias, ela afirma que o momento deveria ser aproveitado para avançar em medidas legislativas sobre o tema (“proteção” de crianças e adolescentes em ambientes digitais). Citando o Projeto de Lei 2.628/2020, ela diz que “estamos pleiteando que haja regime de urgência para que ele não precise passar pelas comissões”, acrescentando que “Esse projeto traz preocupações e instrumentos de proteção no meio virtual, incluindo a responsabilização das plataformas pela circulação de conteúdos indevidos”.
Ela também afirma que “esperamos que, com a aprovação, as plataformas sejam obrigadas a fazer uma verificação real, com comprovação de idade”, citando como modelo o que está sendo feito nos países da Europa: “Isso não é inovação brasileira — já acontece na Austrália, no Reino Unido e na França”.





