O artigo A gangue do esparadrapo, assinada por Ricardo Nêggo Tom, publicada nesta terça-feira (6) pelo Brasil247, exemplifica o quanto o debate político no País está rebaixado. Não dá em nada ficar xingando os oponentes políticos, assim como não deu ficar chamando os eleitores de Jair Bolsonaro de gado, tudo isso serve apenas para que se impeça o debate e que se estabeleça a verdadeira disputa política.
A maioria da esquerda, em vez de tentar trazer de volta para a esquerda os setores proletários confusos que foram cooptados pelo bolsonarismo, fez o favor de os empurrar ainda mais para a direita.
“Esquerdice”
Ninguém vai parecer ser mais esquerdista dizendo que “na sociedade dos imbecis, os criminosos deputados bolsonaristas que obstruem os trabalhos na Câmara são heróis”. É irônico que o STF, que não apenas obstrui, mas usurpa funções do Congresso, é recheado de heróis para essa esquerda que se acha muito brilhante e combativa.
Segundo o jornalista, “durante participação no programa ‘Roda Viva’, o cientista Miguel Nicolelis classificou o bolsonarismo como uma doença, e avaliou que a ignorância virou moda na nossa atual conjuntura social. Indivíduos incapazes de distinguir o que é certo do que é errado, cada vez mais ganham voz em redes sociais que funcionam como uma espécie de vírus, disseminando desinformação e dando reconhecimento e notoriedade a quem fala mais bobagens”.
Antes de doença, o bolsonarismo é um fenômeno social e muito de sua força é fruto da debilidade da esquerda. As pessoas que são supostamente incapazes de distinguir entre certo e errado também têm o direito democrático de se manifestarem nas redes sociais. Ou será que vamos voltar aos tempos em que analfabetos não votavam?
Quanto à disseminação de desinformação, a campeã imbatível é a grande imprensa, recheada de pessoas educadas e com discernimento.
Nêggo Tom escreve que “uma sociedade imbecilizada – ou parte dela – é capaz de naturalizar uma tentativa de golpe Estado na qual o chefe da quadrilha se apresenta como o salvador da pátria”. O que dizer de uma esquerda que naturalizou o golpe de 2016, e que transformou o pupilo de Michel Temer, Alexandre de Moraes, em salvador da Pátria? Como escreveram na Bíblia, “antes de olhar o cisco no olho do outro, tire a trave do seu”.
Apesar de ficar falando em imbecilidade pra cá, oligofrenia pra lá, o articulista brinda o leitor com a seguinte pérola: “aos que insistem que não houve golpe porque não se consumou o ato, imaginemos o caso do sujeito que levou a sua amante para casa enquanto sua esposa estava ausente. No momento em que ambos se preparavam para cometer o “delito” que os levou até ali, o sujeito lembra que não tem preservativo e vai à farmácia para comprar. Nesse ínterim, a esposa do sujeito chega em casa de surpresa e flagra a amante do marido no local do “crime”. Teria o sujeito a cara de pau de dizer que não houve traição porque ele não estava presente no local quando sua esposa chegou, e que por isso, não houve a consumação da sua trairagem?”.
O sagaz jornalista não se deu conta de que se determinado sujeito é casado e possui uma amante, já está consumada a traição.
Grande parte da esquerda não consegue entender o absurdo que é julgamento da “tentativa de golpe” oito de janeiro. Não havia pessoas armadas, uma cabeleireira foi presa por passar batom em uma estátua. Um trabalhador foi condenado a 17 anos de prisão por se sentar na cadeira do imperador do Brasil: Alexandre de Moraes.
Essa esquerda que vive falando em Estado Democrático de Direito, deveria explicar como um cidadão comum pode ser julgado pela corte mais alta do País, sendo que não cabe recurso ou revisão em caso de condenação? Deveria explicar como pessoas podem ser condenadas por um crime coletivo. Mas, claro, os “oligofrênicos” são os outros.
O que essa esquerda raivosa não se dá conta, é que a população, a classe trabalhadora, detesta o STF. Todos estão vendo que essas penas são extremamente abusivas e injustas. E, para piorar, está vendo a maioria da esquerda apoiar essas barbaridades, por isso se alinha ao bolsonarismo, que se apresenta como antissistema.
Esquerda chave de cadeia
Seguindo em sua lista de xingamento, Nêggo Tom brinda o leitor com coisas do tipo “o que estamos presenciando é uma vagabundagem parlamentar sem precedentes na história do país, onde uma gangue política exerce o seu mandato soprando apitos de cachorro para uma turba de desajustados e dissonantes cognitivos que pretendem transformar o Brasil num sanatório ideológico”.
Outra característica da esquerda, especialmente a identitária, é a de processar todo mundo, além de querer solucionar questões políticas com a Justiça e a cadeia.
Nessa linha, o jornalista diz esperar que o deputado Hugo Motta (Republicanos) “se manifeste e restabeleça a ordem na casa, nem que seja acionando a Polícia Legislativa para retirar os delinquentes que sequestraram o plenário da Câmara” – [grifo nosso].
Autoritarismo
O articulista diz que “a maioria do povo brasileiro não se converteu à estupidez bolsonarista”, apesar de que Jair Bolsonaro perdeu por uma mínima diferença de votos para Lula. Não adianta tentar esconder o sol com a peneira, negar os fatos, pois sem uma avaliação correta da situação política é impossível tomar decisões acertadas e fazer política de maneira consequente.
Finalmente, há uma frase no último parágrafo que deve ser lida com cuidado: “o bolsonarismo não merece existir”. A esquerda não pode admitir esse tipo de pensamento, pois é idêntico ao que fizeram os fascistas contra a esquerda.
Não vivemos em um momento em que hordas fascistas estejam atacando a esquerda, portanto, é preciso, sim, entender os fenômenos políticos. O que está posto é a batalha de ideias, o debate, as polêmicas. Quem é de esquerda não pode tolerar uma conduta que visa exterminar seus adversários políticos, aqueles que divergem, isso só é admissível em períodos revolucionários ou de guerra civil. Fora daí, trata-se do pior tipo de autoritarismo e intolerância.





