No verão de 2025, o canal “Jabroot” divulgou uma série de vazamentos descritos como baseados em documentos digitais sensíveis. Entre os nomes expostos estavam Abdelatif Wahbi, ministro da Justiça, e Fatima Zahra Mansouri, ministra do Ordenamento do Território, Urbanismo, Habitação e prefeita de Marrakesh.
1. Abdelatif Wahbi: a questão da doação e a polêmica da avaliação
De acordo com os documentos, em 2020 o ministro adquiriu uma propriedade de luxo no bairro Souissi, em Rabat, por cerca de 11 milhões de dirhams, por meio de um empréstimo bancário. Em 2024, transferiu a propriedade para sua esposa por meio de um contrato de doação no valor declarado de apenas 1 milhão de dirhams.
Essa diferença significativa levantou suspeitas de possível evasão de impostos e taxas de registro, já que a tributação é calculada com base no valor declarado.
Wahbi, por sua vez, negou qualquer irregularidade, afirmando que a operação ocorreu dentro de tradições familiares e garantindo que todo o seu patrimônio é devidamente declarado, colocando-se à disposição para qualquer revisão ou responsabilização.
2. Fatima Zahra Mansouri: uma fortuna contestada
Já no caso de Mansouri, os vazamentos apontaram que ela teria acumulado mais de 400 milhões de dirhams em pouco tempo, por meio de operações imobiliárias em Marrakesh.
A ministra rebateu, alegando que suas posses são fruto de herança familiar devidamente documentada desde os anos 1970, e que as terras em questão foram legalmente partilhadas após o falecimento de sua mãe. Acrescentou ainda que a venda de parte dessas terras a uma empresa investidora foi feita com contratos oficiais e valores transparentes, assegurando que as acusações fazem parte de uma campanha política contra sua imagem.
3. Onde está a Direção de Impostos?
Em meio a toda essa polêmica, surgem perguntas inevitáveis sobre o papel da Direção de Impostos:
Por que não houve reavaliação do imóvel objeto da doação de Wahbi, considerando a enorme discrepância no valor declarado?
E por que permaneceu em silêncio diante das suspeitas levantadas sobre a fortuna de Mansouri?
Esse silêncio prolongado aumenta as dúvidas e transmite a impressão de que a administração fiscal aplica dois pesos e duas medidas em casos que envolvem figuras políticas de destaque, em vez de assegurar a igualdade de todos perante a lei.
5. Conclusão
As “Revelações Jabroot” desencadearam um intenso debate sobre a transparência financeira dos responsáveis políticos em Marrocos. Enquanto Wahbi e Mansouri rejeitam as acusações e as classificam como parte de uma campanha política, a opinião pública aguarda um posicionamento claro e transparente das instituições estatais, sobretudo da Direção de Impostos.
Sem uma investigação oficial e transparente, esses casos continuarão sendo uma ferida aberta que aprofunda a crise de confiança entre os cidadãos e as instituições do Estado.





