Nessa quarta-feira (30), 15 países assinaram uma declaração supostamente favorável a criação do Estado da Palestina. O documento, intitulado Chamada de Nova Iorque, foi publicado em meio a uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre uma “resolução pacífica para a questão palestina”, copresidida pela França e pela Arábia Saudita.
A declaração reúne tanto países que já reconheceram a Palestina quanto outros que ainda não o fizeram, mas cogitam fazê-lo com base na proposta de uma “solução de dois Estados”. Entre os signatários que ainda não formalizaram o reconhecimento estão Andorra, Austrália, Canadá, Finlândia, Luxemburgo, Nova Zelândia, Portugal e San Marino. Já entre os que reconhecem oficialmente a Palestina estão Islândia, Irlanda, Malta, Noruega, Eslovênia e Espanha.
A iniciativa é apoiada por uma ampla coalizão internacional, incluindo Turquia, França, Arábia Saudita, Brasil, Canadá, Egito, Indonésia, Irlanda, Itália, Japão, Jordânia, México, Noruega, Catar, Senegal, Espanha, Reino Unido, União Europeia e Liga Árabe.
O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, declarou apoio à “solução de dois Estados” e afirmou que o reconhecimento deve ocorrer em sintonia com um avanço nas negociações. “O que estamos considerando são as circunstâncias em que o reconhecimento possa contribuir para o objetivo de criação de dois Estados”, disse Albanese. A imprensa canadense também informou que o primeiro-ministro Mark Carney está avaliando o reconhecimento.
O embaixador de “Israel” na ONU condenou a declaração, acusando os países signatários de “legitimar o terrorismo”.
“Enquanto nossos prisioneiros estão definhando nos túneis do terror do Hamas em Gaza, esses países optam por fazer declarações vazias, em vez de investir seus esforços na libertação deles”, declarou, ignorando completamente o número de mortos em Gaza, que já ultrapassa 60 mil.
A maioria dos países das Nações Unidas — 147 dos 193 — já reconhecem a Palestina, que atualmente possui status de observador na ONU. Outros países europeus, como Espanha, Irlanda e Noruega, reconheceram o Estado da Palestina no ano passado. Entre os 32 países da OTAN, 14 já reconhecem o Estado da Palestina. Entre os países do G20, 10 já reconhecem a Palestina. Com Reino Unido, Canadá e França, que anunciaram nos últimos dias que poderiam reconhecer o Estado da Palestina, esse número subiria para 13.
A cúpula pela “solução pacífica” ocorre no momento em que o imperialismo ensaia um recuo de sua política nazista na Faixa de Gaza. O fracasso militar de “Israel” e a crise humanitária causada pela fome estão forçando os arquitetos do genocídio a pressionar o governo de Benjamin Netaniahu a diminuir a ofensiva. Entre as demonstrações disso, estão os editoriais de órgãos da imprensa imperialista criticando o primeiro-ministro israelense.
Ainda não está claro que política o imperialismo pretende implementar em Gaza. No entanto, a declaração da Chamada de Nova Iorque indica uma pressão para que a Resistência Palestina, que está sendo moral, militar e politicamente vitoriosa, se renda.
O texto criminoso que, supostamente teria como objetivo defender um povo que está sendo assassinado, inicia da seguinte forma:
“Condenamos o hediondo e antissemita ataque terrorista de 7 de outubro de 2023.”
Trata-se do oposto de qualquer tentativa de chegar a uma “solução pacífica”. Afinal, o texto acusa o lado palestino de ser “antissemita” e, ao mesmo tempo, ignora os crimes praticados por “Israel” antes do 7 de outubro.
O texto segue dizendo que “exigimos um cessar-fogo imediato, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns do Hamas, incluindo os restos mortais, bem como a garantia de acesso humanitário irrestrito”. Nenhuma palavra sobre os palestinos presos por “Israel”, nem sobre a presença das tropas israelenses nos territórios palestinos.
Em determinado momento, o texto clama os países que “ainda não o fizeram” a “estabelecer relações normais com ‘Israel’ e a expressar sua disposição de entrar em discussões sobre a integração regional do Estado de ‘Israel'”. Afinal, se os palestinos estão sendo massacrados, a grande preocupação deveria ser a de estabelecer “relações normais” com quem está praticando o genocídio!
Por fim, convém destacar o trecho no qual a declaração fala abertamente que pretende extinguir a Resistência Palestina:
“Acolhemos os compromissos assumidos pelo Presidente da Autoridade Palestina em 10 de junho, nos quais ele (i) condena os ataques terroristas de 7 de outubro, (ii) exige a libertação dos reféns e o desarmamento do Hamas, (iii) compromete-se a encerrar o sistema de pagamento a prisioneiros, (iv) compromete-se com a reforma do ensino, (v) compromete-se a convocar eleições dentro de um ano para promover uma renovação geracional, e (vi) aceita o princípio de um Estado palestino desmilitarizado.”
O texto é um golpe contra o Hamas. É uma tentativa de roubar a Faixa de Gaza e entregá-la à administração dos criminosos da Autoridade Palestina, que atuam como cachorros do nazissionismo e do imperialismo. Desarmar o Hamas, condenar a operação do 7 de outubro e realizar eleições de acordo com os ditames da Autoridade Palestina conduzirão a um único resultado: o desmantelamento da Resistência Palestina. Sem ela, o genocídio não apenas continuará, como será intensificado a um nível nunca antes visto.





