Um editorial do Estado de S. Paulo, publicado nesta terça-feira (23), expõe a preocupação da burguesia com a política absolutamente descontrolada de Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF). Sob o título “Um caso escandaloso de censura”, o jornal critica duramente a decisão de Moraes de ameaçar prender Jair Bolsonaro (PL) por conta da veiculação, por terceiros, de suas falas em redes sociais — algo que configura censura não apenas ao ex-presidente, mas à imprensa e ao conjunto da população.
“Se é para alijá-lo do debate público, melhor prendê-lo de uma vez”, ironiza o Estadão. E não sem motivo: o jornal teme que os abusos de Moraes acabem por comprometer aquilo que está em jogo de verdade — um golpe para impedir Bolsonaro de concorrer às eleições de 2026.
A hipocrisia do editorial é evidente. O Estadão nunca teve problemas com a perseguição de seus adversários políticos, com a perseguição ao PT, com a prisão arbitrária de Lula ou mesmo com os abusos sucessivos do próprio Moraes — que o jornal sempre elogiou como “defensor do Estado de Direito” enquanto perseguia bolsonaristas e promovia uma repressão desmedida contra os setores que não se ajoelham diante do STF.
A mudança de tom agora reflete o temor de que Moraes esteja indo longe demais e, como o próprio editorial admite, esteja “dando munição ao vitimismo bolsonarista”. Em outras palavras, o Estadão está preocupado que o Judiciário esteja comprometendo a operação orquestrada pela burguesia para inviabilizar eleitoralmente Bolsonaro. Ao transformar a perseguição em espetáculo autoritário, o STF acaba reforçando a base social do bolsonarismo, que ganha fôlego com a imagem de “perseguido político”.
O jornal cita, inclusive, a jurisprudência do próprio STF para demonstrar a arbitrariedade de Moraes: “nem a Lula, na época preso, foi negado o direito de conceder entrevistas”. Bolsonaro, no entanto, está solto, ainda que com tornozeleira, e mesmo assim lhe é vedado se manifestar — pior, seus apoiadores também são proibidos de divulgar suas falas.
Mas como é o Judiciário quem comete o abuso — e como o alvo é Bolsonaro —, os mesmos que se calam frente à censura e à ditadura togada agora aparecem timidamente preocupados apenas porque a manobra judicial corre o risco de fracassar. O STF, para a burguesia, não pode deixar de ser autoritário, mas precisa parecer “imparcial”. Precisa manter as aparências, para que o golpe de 2026 ocorra sem grandes crises.
A crise entre o Estadão e Moraes revela a instabilidade da operação golpista. A tentativa de interditar Bolsonaro por meios judiciais pode acabar saindo pela culatra. E é por isso que a esquerda deve tomar uma posição clara: não se trata de defender Bolsonaro — um inimigo do povo e da classe operária —, mas de defender os direitos democráticos que estão sendo destruídos pelo regime que está se formando no Brasil.





