O artigo A chantagem de Trump e os labirintos da soberania, publicado no portal Esquerda Online nesta segunda-feira (21), mostra que há setores da esquerda que insistem em tratar o mundo pós-eleição de Donald Trump como uma coisa nova, inédita. Muito disso é fruto da decepção que esses setores experimentaram com a inviabilidade de Joe Biden – por acaso o preferido do imperialismo –; e com a derrota de Kamala Harris, o sonho dos identitários.
No primeiro parágrafo, se lê que “quando Trump decide dobrar a tarifa sobre produtos brasileiros, o gesto não é econômico, é simbólico. Em um mundo cada vez mais governado por choques, a chantagem deixa de ser exceção e se transforma em método. Estamos diante de um experimento de reconfiguração imperial”.
A decisão de Trump é tão “simbólica” que a exportação de carne in natura para os Estados Unidos despencou. É, portanto, de cunho econômico, pois o estrangulamento das economias sempre foi uma arma utilizada pelo imperialismo. A chantagem nunca foi exceção, mas regra, o método. Não se sabe de onde o Esquerda Online tirou a ideia de que isso seria uma novidade, ou um “experimento”.
Curiosamente, o texto se contradiz no parágrafo seguinte, onde afirma que “o movimento também remete a uma longa tradição. Desde o século XIX, os Estados Unidos exercem, sobre a América Latina, o papel de poder tutelar. Da Doutrina Monroe à Aliança para o Progresso, passando pelos golpes militares financiados pela CIA, há um padrão: quando um país do Sul tenta caminhar com autonomia, o império intervém. Com armas, com dólares, com bloqueios — ou, agora, com tarifas”.
Os EUA cansaram de impor taxas a outros países, como o Brasil, acusando-os de subsidiar a produção e com isso prejudicando os produtores americanos. E, enquanto impunha sanções, os americanos, eles mesmos subsidiavam criadores de frango etc.
A “novidade”
O artigo diz que “é importante nomear: estamos diante de um novo tipo de imperialismo. Não mais centrado apenas na ocupação militar, mas na dominação pelo endividamento, pelas plataformas digitais, pelas cadeias logísticas e pelas redes de desinformação. Um imperialismo que não precisa mais fincar bandeiras, porque já se embutiu na estrutura das economias periféricas e até no desejo das elites locais”.
O imperialismo invadiu o Iraque, o Afeganistão, destruiu a Líbia, forçou a guerra na Ucrânia, joga seus cães sionistas sobre os palestinos, sobre o Líbano, Irã e agora Síria; e alguém escreve que não está mais “centrado apenas na ocupação militar”?
E se pode citar ainda o cerco em aproximações sucessivas contra a China, o aumento exponencial do investimento em armas. Portanto, essa caracterização do EO de que se trata de “um imperialismo que não precisa mais fincar bandeiras” não encontra apoio na realidade.
A dominação pelo controle das cadeias produtivas, pela desinformação estiveram sempre aí. As redes de desinformação, como os jornais burgueses, são entidades centenárias.
Dizer que “Trump representa, com brutalidade, essa nova forma de poder.”, apenas mascara e isenta o imperialismo que sempre agiu assim, apenas não fazia alarde. Os “democratas” estão cometendo todo tipo de crimes, apenas se utilizam de suas redes de mentiras para dizer que é tudo em nome do bem, que se está lutando contra autocracias, defendendo as mulheres e blá-blá-blá.
Por que interessa apresentar que vivemos uma “nova realidade”? Porque isso significa que serão necessárias novas soluções, e que os “antigos” métodos da esquerda já não têm validade. Ocorre que os “novos” métodos apresentados são a velha e surrada colaboração de classes.
Nesta segunda-feira (21), Lula participou do encontro “Democracia Sempre”, no Chile, que contou com a presença, por exemplo, de Pedro Sánchez, presidente do governo espanhol. A Espanha, um país imperialista, apoia o massacre em Gaza praticado pelo governo nazi-sionista de “Israel”. Uma prova de que essa política de “defesa da democracia” é apenas uma farsa, um modo de atrelar a esquerda à política do imperialismo.
Conjecturas
Segundo o texto “Trump age com brutalidade porque sabe que o tempo do império se esgota”. Mas o atual presidente americano e o imperialismo não são mesma coisa. A urgência de Trump é fruto do buraco no qual a política imperialista jogou a economia americana.
O presidente americano tenta, mas com sucesso muito limitado, parar de torrar dinheiro em guerras para investir na economia doméstica, mas tem pouca margem de manobra.
Se for verdade que “o bolsonarismo se agarra a ele como náufrago a um bote furado”, é preciso dizer que a extrema direita não precisa de Bolsonaro ou de Trump, pois se trata de um movimento social que vai se reorganizar de outra maneira. A derrota da política trumpista nos EUA pode dar lugar a movimentos ainda mais radicais.
O texto se perde fazendo perguntas do tipo “os Estados-nação sobreviverão?”. Afirma de modo equivocado que “a pandemia, a guerra, o colapso climático: tudo isso recolocou o Estado como figura central”., para em seguida perguntar: “mas que tipo de Estado emergirá? Um Estado apêndice das corporações, ou um Estado popular, reconstruído desde baixo? Um Estado policial, voltado à repressão, ou um Estado democrático radical, capaz de reorganizar a produção e o desejo?”.
Estado policial já emergiu, e sob aplausos da esquerda identitária, bem como setores da esquerda que defendem a censura.
Por outro lado, um Estado popular não pode ser construído com uma esquerda que tenta jogar a classe trabalhadora em uma aliança com as democracias liberais (imperialismo) em nome de lutar contra o fascismo.
Na verdade, todo esse movimento visa combater a Rússia, o Irã, e, principalmente, a China. A classe trabalhadora não deve se deixar enganar com essa discurso de “mundo novo” e luta contra ditaduras. Pois os verdadeiros ditadores, são lobos em pele de cordeiro. Não defendem democracia nenhuma, são os responsáveis pela ascensão do fascismo.





