Política internacional

Anti-trumpismo ou anti-imperialismo?

Segundo colunistas do Brasil 247, o Brasil teria iniciado uma espécie de confronto de grande envergadura contra os Estados Unidos

Na última segunda-feira (21), o portal Brasil 247 publicou matéria intitulada A guerra começou e não haverá recuo. Assinada por Reynaldo Aragon e Sara Goes, a coluna parte da ideia de que “Lula e Trump já estão em combate” e de que o Brasil teria iniciado uma espécie de confronto de grande envergadura contra os Estados Unidos. Um leitor desavisado pode pensar que estamos no meio de uma profunda crise. Mas a leitura do texto revela outra coisa: uma mistificação ideológica para justificar a política do governo Lula como se ela representasse um ato de soberania — quando, na realidade, se trata de subordinação à ala “democrata” do imperialismo e de adesão ao autoritarismo do regime do golpe de 2016.

Logo no início, os autores afirmam:

Uma nova era de confrontos explícitos entre o Brasil e os Estados Unidos está em curso, e ela não será resolvida com diplomacia protocolar ou comunicados mornos.

Quem lê isso pode imaginar que algo grave e inédito ocorreu. Mas trata-se, basicamente, de uma tentativa de transformar as declarações de Lula sobre tarifas alfandegárias em um embate histórico. As tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre aço, alumínio, mel, frutas e suco de laranja são o estopim dessa “guerra”, segundo o texto.

As tarifas punitivas aplicadas pelos EUA (…) não são meros instrumentos comerciais: são mísseis diplomáticos disfarçados de política alfandegária.”

Se isso são “mísseis”, o que foi o golpe de 2016, que derrubou Dilma Rousseff sob comando direto dos Estados Unidos, do capital financeiro e da imprensa golpista? Uma bomba atômica? Por que os autores não apontam o verdadeiro ponto de ruptura — a liquidação dos direitos democráticos sob comando do imperialismo?

Mais adiante, o texto diz:

Foi a primeira vez, em décadas, que um país do hemisfério sul ousou confrontar os interesses das big techs em nome da democracia e da soberania informacional.

Ora, soberania informacional de quem? Do STF? Do consórcio da grande imprensa? Censurar contas, suspender perfis e perseguir opositores políticos sob a desculpa de que “regular as plataformas” é uma defesa da democracia. Enquanto isso, Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, Veja e todos os porta-vozes da burguesia e do imperialismo seguem mentindo livremente. Nenhuma medida foi defendida contra eles.

O ponto central do artigo é transformar a repressão do STF e o apoio do governo Lula contra as redes sociais em um gesto de coragem.

A ofensiva estadunidense precisa ser compreendida (…) como reação desesperada à autonomia.

Mas autonomia de quem? Lula continua impedindo a Venezuela de entrar nos BRICS — o que certamente não era desejo de Rússia e China. Não rompeu com nenhuma sanção. Não retirou o Brasil da subordinação ao FMI, ao Banco Mundial, nem revogou as reformas golpistas. Pelo contrário: continua com o Banco Central nas mãos de banqueiros e se recusa a explorar a Margem Equatorial favorecendo a política ambiental imposta pelo imperialismo. O País não confronta os EUA, apenas toma partido de uma das alas da sua burguesia — e, no caso, a que se esconde atrás do “progressismo” de Wall Street, da OTAN e do Vale do Silício.

Os autores continuam:

O Brasil ousou dizer não.”

Mas o governo Lula não ousa sequer dizer não ao STF, que lidera hoje a escalada repressiva contra a população. O próprio artigo elogia a atuação de Alexandre de Moraes e do Supremo, como se esse fosse um bastião da democracia. Esquecem que o STF foi cúmplice do golpe de 2016, da prisão de Lula e da repressão sistemática aos movimentos sociais.

Por fim, o artigo declara:

O que está em jogo é a definição de quem controla a infraestrutura simbólica, econômica e cognitiva da América Latina.

O que está em jogo é o controle sobre o povo brasileiro: suas redes, sua voz, seu direito de se organizar. O marco regulatório das plataformas digitais não atinge as big techs, atinge o usuário. O trabalhador, o militante, o pequeno comunicador — todos estão sendo censurados sob o pretexto de combater “fake news”. E a esquerda pequeno-burguesa, em vez de lutar contra essa censura, atua como tropa auxiliar da repressão.

A verdade é que o bolsonarismo não nasceu nas redes, mas da falência do regime. A censura nas redes não o derrotará. Ao contrário: fortalecerá ainda mais o aparato do golpe de 2016, que se voltará contra todos. E o governo Lula, longe de estar em guerra com o imperialismo, está apenas servindo a sua ala “civilizada” — aquela que combate Trump não por defender a soberania nacional, mas por querer manter o controle da América Latina.

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