Nessa semana, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, divulgou nas redes sociais um vídeo no qual afirma ter tido papel central nas investigações contra Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo. Segundo o deputado, ele próprio teria sido o autor de representações que resultaram em medidas cautelares contra o ex-presidente.
“Cumpri minhas obrigações porque entrei com três representações pedindo medidas cautelares, uso de tornozeleira eletrônica por parte do Bolsonaro, que para mim havia vários indícios. Bolsonaro estava preparando uma fuga.”
O tom do parlamentar é policialesco. Fala-se de “ataques às instituições democráticas”, sem que fique claro o que isso significa exatamente. No processo contra Bolsonaro, virou hábito alegar que ele “desmoralizou as instituições”, como se a população brasileira não tivesse direito de criticar ou mesmo ridicularizar o Estado. Essa postura é perigosa.
Lindbergh prossegue, mencionando o inquérito que investiga Eduardo Bolsonaro por ações realizadas no exterior:
“Essa decisão acontece no inquérito 4995, que é aquele que investiga as ações de Eduardo Bolsonaro fora do Brasil contra as instituições democráticas. Esse inquérito surge de uma representação que eu fiz no dia 23 de junho, descrevendo essas ações do Eduardo Bolsonaro.”
Ele afirma ter levado provas à Polícia Federal, mas não diz claramente quais são. É preciso cuidado com esse tipo de postura. O Brasil já vivenciou tragédias recentes provocadas por esse tipo de atuação, como foi o caso da campanha contra a corrupção, em que uma cruzada moral serviu de justificativa para todo tipo de arbitrariedade.
“No dia 2 de julho, levei um farto material com provas das ações nos Estados Unidos, tanto de intimidação do Poder Judiciário, de obstrução de justiça, quanto aos reiterados ataques às instituições democráticas.”
É sintomático que agora o novo mantra seja “ataque às instituições democráticas”. Mas criticar instituições e autoridades é o dever de qualquer político sério em um país minimamente democrático. Se não houve ataque armado ou golpe militar, não há crime. O que está se configurando é uma tentativa de tornar crime a atividade política e dissidente.
“Eu pedi para o Jair Bolsonaro entrar no inquérito, pois as ações de Eduardo Bolsonaro lá no exterior estavam sendo financiadas por Jair Bolsonaro. Ele transferiu 2 milhões daquela campanha do Pix para sustentar essas ações.”
É óbvio que Bolsonaro pode dar dinheiro ao próprio filho. Ainda que o filho seja deputado e tenha salário, continua sendo seu filho. Essa denota claramente uma perseguição pessoal. Quando se aceita esse tipo de perseguição porque o alvo é alguém odiado, como Bolsonaro, prepara-se o terreno para que amanhã a mesma perseguição seja dirigida contra outros — e, no caso da esquerda, sempre é pior.
“Eu tenho alertado desde o começo. Era uma campanha que no início era dirigida a sanções, à Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, mas sabemos o grau que essa situação chegou com tarifas, com sanções a todo o país.”
Dá-se a entender que qualquer movimentação internacional de aliados da direita brasileira configura crime de traição. Mas, curiosamente, os mesmos que dizem defender a soberania nacional — como Alexandre de Moraes e Geraldo Alckmin — foram os primeiros a apoiar o golpe de 2016 — organizado pelos Estados Unidos. Isso mostra o caráter farsesco da indignação atual.





