Por ocasião do centésimo sétimo aniversário do nascimento de Nelson Mandela, instituído desde 2009 como Dia de Nelson Mandela, uma série de matérias tecendo os mais profundos elogios à figura histórica, mas, muito mais importante, à sua política, foram publicadas. É de se perguntar qual o motivo da idolatria que a imprensa pró-imperialista tem pelo primeiro presidente negro da África do Sul.
A resposta é simples: Mandela, de líder revolucionário e guerrilheiro contra o apartheid fez, enquanto estava preso há cerca de trinta anos, um acordo com o imperialismo, e os governantes do regime supremacista branco, para uma “transição democrática”, apaziguando a situação pré-revolucionária em que se encontrava o país, e mantendo sob controle dos brancos a economia nacional. Tudo em troca de transformar o Congresso Nacional Africano na maior força eleitoral do país.
Em matéria publicada no sítio Alma Negra, com o título, quase tão longo quanto o próprio texto, Dia de Nelson Mandela: líder revolucionário usou a educação como uma ferramenta poderosa contra o racismo, Ricardo Corrêa defende a política do traidor dos negros sul-africanos. Evidentemente, o autor nada fala do contexto sul-africano à época da soltura de Mandela, mas escreve:
“[…] Nos anos seguintes, conquistou a presidência do CNA, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e alcançou o posto de presidente da África do Sul. Faleceu aos 95 anos.
Diversos foram os ensinamentos deixados na luta pelo fim do ódio como intermediador das relações humanas. E a educação se destacou na sua visão humanista, como disse em diversas ocasiões: ‘Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar’.”
Ou seja, para estes “defensores” do negro, o “amor” é a questão-chave. De fato, com o amor, a polícia militar brasileira cessará a campanha de extermínio contra os negros brasileiros. Com amor, a reforma agrária, que concentra na minoria branca a maioria da terra na África do Sul, ocorrerá. Com amor, a economia concentrada na mão de um punhado de capitalistas se colocará a serviço do bem da humanidade. Estamos vendo a “doutrina do amor” do governo Lula em ação, e seu retumbante fracasso.
O negro sul-africano não se levantou contra o branco simplesmente porque o odeia, mas porque este o oprime.
Também é ridículo dar grande importância ao Prêmio Nobel da Paz, que já agraciou assassinos em massa como Barack Obama e Menachem Begin, do mesmo partido Likud de Benjamin Netanyahu.
Em artigo de opinião publicado no sítio do Poder 360, João Raphael segue o mesmo caminho que Alma Preta, chegando a falsificar a história para transformar a luta do negro sul-africano em uma ciranda pacifista, dizendo que, “depois da adoção do apartheid, liderou campanhas de desobediência civil que o levaram a um julgamento injusto, sendo condenado à prisão perpétua em 1964”. Também escreve:
“Mandela promoveu a TRC (Comissão de Verdade e Reconciliação, na sigla em inglês) para curar as feridas do apartheid, enfatizando perdão sem esquecer o passado.
[…]
O legado de Mandela é um lembrete do potencial da África para superar desafios, como conflitos e desigualdades econômicas, por meio da liderança ética e inclusiva.”
Para João Raphael, a questão é moral e religiosa. Além disso, a libertação da África do jugo neocolonial, para ele, não virá das mãos de seu povo, mas sim por uma “liderança ética e inclusiva”. Não é à toa o desprezo que o movimento negro “democrático” tem por figuras como Ibrahim Traoré, lider nacionalista revolucionário de Burquina Fasso. Vemos a podridão da ideologia da “democracia” em ação.
Por fim, temos ainda o artigo publicado no Papo de Responsa, na Folha de São Paulo, intitulado O poder do perdão: lições de Mandela para um mundo adoecido pela vingança, de autoria de Valdeci Ferreira.
Esta belíssima pérola procura estabelecer um paralelo entre a questão Mandela e as Apacs, as Associações de Proteção e Assistência aos Condenados. Podemos dizer, com pouquíssima chance de equívoco, que se trata do moralismo mais bizarro lidando com a questão Mandela. Valdeci escreve:
“[Mandela] Entendeu que seguir adiante exigia deixar para trás todo o fardo amargo da retaliação. Perdoar, para ele, foi decidir que a dor não teria a palavra final.”
O que isto tem a ver com manter o controle da economia na mão dos brancos e anestesiar momentaneamente a população negra para estabilizar o regime político, não está claro. No entanto, a ladainha do perdão não tem valor algum. Os povos oprimidos pelo imperialismo não recebem compaixão alguma, só se fala em perdão quando estes se levantam contra seus algozes.
Também escreve:
“Como Mandela, aprendemos que perdoar é um ato de coragem. E que não há justiça possível sem a reconciliação. Mandela libertou seu povo perdoando seus algozes.”
É absolutamente repulsivo, mas ilustra de maneira muito clara e acabada o porquê da idolatria com Mandela. A “libertação” vem da manutenção da dominação dos mesmos monopólios econômicos, mas agora com “justiça”, democracia e companhia.





