Seguindo a política desastrosa de apologia do imperialismo democrático adotada pelo “Pai dos Povos” ao final da Segunda Guerra Mundial, os “comunistas” do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), antigo “PCB Roraima”, aderiram ao “patriotismo” democrata, como demonstra o editorial, publicado no dia 14 no sítio de seu jornal Em Defesa do Comunismo, intitulado Trump e Bolsonaro, tirem as mãos do Brasil! Complemento com o que esqueceram de escrever: Democratas, mantenham as rédeas!
A crise econômica de 2008 deu origem a um fenômeno político, que tem desorientado sistematicamente a esquerda mundial, particularmente nos últimos dez anos: o fortalecimento da extrema direita “anti-globalista”. O imperialismo tem habilmente usado este fantasma para influenciar a esquerda a uma posição cada vez mais pró-imperialista. O fenômeno é tal que o “antifascismo” que tomou conta da esquerda nacional é, em sua quase totalidade, pró-imperialista. É o caso do PCBR, como demonstraremos aqui.
Os deslizes dos “comunistas” começa logo cedo:
“Querer taxar os produtos brasileiros por conta da repressão contra a extrema-direita mostra que o projeto trumpista é a reedição da tentativa de se construir, dentro do sistema capitalista-imperialista, um grupo de regimes baseados na ditadura militar aberta da burguesia, direcionada contra a classe trabalhadora e todos os povos oprimidos. “
Ora, quem levou adiante a política de golpes de Estado em massa no continente latino-americano, levando ao poder, inclusive, ditaduras fascistóides como no Peru, no Paraguai e no Equador, foi o Partido Democrata, não o trumpismo. É cansativo, mas é preciso esclarecer, não se trata de uma defesa de Trump, tratam-se dos fatos. Finalmente, o exemplo mais claro de ditadura fascista no planeta Terra é o atual regime político ucraniano, que também foi levado ao poder pelo Partido Democrata.
A ideia não faz o menor sentido. A política protecionista do trumpismo busca preservar à burguesia norte-americana e seus interesses no mercado interno, não impor ditaduras fascistas mundo afora. Não porque Trump seja fundamentalmente contrário às “ditaduras”, mas porque o presidente norte-americano tem problemas muitos mais urgentes para tratar dentro de seu país.
O Supremo Tribunal Federal é uma instituição política brasileira dominada pelo imperialismo, o seu papel no golpe de 2016 confirma o fato de maneira indiscutível. É também indiscutível que o setor majoritário do imperialismo tem no Partido Democrata seu principal representante, vide o prelúdio de crise no início do governo Trump na questão dos gigantes, e inacreditavelmente corruptos e ineficientes, monopólios de armas contratados com o Pentágono.
Para concluir a avaliação correta do que está acontecendo, antes de retornar ao editorial do PCBR, o governo brasileiro entrou na linha de fogo de um conflito entre o trumpismo e o setor majoritário do imperialismo. A política do governo Lula de se atrelar ao imperialismo o colocou também nesta mesma linha de fogo.
Em seguida, os “comunistas” se rendem à política identitária, que vem corroendo a esquerda, em sua avaliação do que seria o “fascismo”:
“Cada vez mais, a direita no Brasil e nos EUA faz revisionismo com os crimes desse bloco, adotando as suas teses fundamentais — como o racismo anti-imigrante, a defesa aberta do genocídio, a construção de campos de concentração e a criminalização da população LGBTI+ — tendo como última consequência a defesa aberta da legalização do nazismo, como já é uma realidade nos Estados Unidos.”
Lembremos aos nossos queridos “comunistas” que à época do ascenso do fascismo nos anos 20-30, o problema migratório, se existia, era absolutamente irrelevante, em especial comparado ao atual momento. A construção de campos de concentração foi uma invenção dos democráticos ingleses, os alemães simplesmente usaram na Europa os métodos coloniais do imperialismo. Finalmente, quanto a “criminalização da população LGBTI+”… será que para esses estalinófilos Stalin também é fascista? A criminalização da “população LGBTI+” é uma questão ultra-marginal quando a questão é o “fascismo”. Escreveram muito, mas não expuseram qual a tese fundamental do fascismo, e qual o papel que ele cumpre: o fascismo busca esmagar o movimento operário de conjunto.
O parágrafo seguinte é uma pérola absoluta:
“Usando as armas econômicas do imperialismo, Trump tenta impor a anistia aos que tentaram dar um golpe de Estado no Brasil entre 2022 e 2023. O movimento golpista brasileiro é absolutamente inspirado no golpismo trumpista. A diferença, porém, é que o Brasil é um país com um histórico de lutas populares contra a anistia ao fascismo que ganharam força no último período, enquanto movimentos análogos seguem sendo totalmente reprimidos pelo regime bipartidário estadunidense. O governo Biden pagou o preço por não prender os golpistas de 2020, preferindo criminalizar os manifestantes que combateram o genocídio sionista em Gaza — política imperialista que segue sendo implementada, de forma ainda mais brutal, pelo governo de Trump.”
A discussão sobre o “golpe” de 2022 já foi feita à exaustão neste Diário, deixemo-la de lado portanto. Merece comentário, no entanto, a ideia do “histórico de lutas populares contra a anistia ao fascismo”.
Isto é uma ficção. O “comunista” do PCBR deveria sair às ruas e perguntar às pessoas se faz sentido sentenciar alguém por escrever bobagens com batom numa estátua a mais de dez anos de cadeia. Estes funcionários do STF pintados de vermelho inventam uma luta popular que não existe, ao invés de perder a vergonha, como o fez a cúpula petista, e beijar logo os pés de Alexandre de Moraes.
Para estes “comunistas”, a luta política contra a extrema direita é um problema de polícia. É um problema a ser deixado com o estado capitalista, contra o qual dizem lutar. Não fosse isso, o trecho deixa claro que são apologistas de “Genocide Joe”, arquiteto do golpe de 2016, e responsável direto pelo genocídio dos palestinos e a guerra da Ucrânia. É possível dizer que a “reconstrução revolucionária”, se é que alguém levava isto a sério, foi enterrada absolutamente neste editorial.
Para além do fraseado marxista usual dos demais grupos centristas que se proclamam revolucionários, vale a pena também destacar a defesa da tese das frentes populares:
“Frente à esse cenário, a classe trabalhadora, como classe revolucionária, precisa entrar nessa disputa com independência política, rejeitando a política da Frente Ampla com a burguesia, como faz o governo Lula junto com o STF. É necessário defender todo tipo de repressão contra a extrema-direita, a começar pela garantia de prisão imediata e preventiva de Bolsonaro e seus aliados políticos, militares e empresários que tramaram a insurreição falhada depois das eleições presidenciais.”
E a tese do BRICS como um bloco “subimperialista”:
“A solução, por outro lado, não está na submissão ao bloco subimperialista dos BRICS, liderado pela República Popular da China, que também mantém o Brasil em uma posição de subserviência econômica e, consequentemente, política. O regime do PC chinês não demonstra nenhum interesse em ajudar a superar a histórica dependência tecnológica que o povo brasileiro tem dentro do sistema capitalista-imperialista — senão o contrário, como demonstra a relação do capital chinês frente às privatizações das empresas públicas brasileiras.”
Está claro, o racha do PCB liderado pelos webcomunistas é um racha à direita de um partido, que já não era grande coisa. Temos entre os ditos “revolucionários” mais “patriotas” azuis.




