Na última quinta-feira (10), o portal Esquerda Online, órgão do grupo psolista Resistência, publicou matéria intitulada É hora de fortalecer a contraofensiva à extrema-direita!, defendendo que a vitória da Chapa 1 nas eleições do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) reafirma o “perfil classista, autônomo, combativo e diverso” do sindicato. Segundo o texto, trata-se de um passo decisivo na luta contra o “neofascismo”, na defesa da Palestina e dos direitos da classe trabalhadora.
Uma leitura atenta, no entanto, revela que estamos diante de uma tentativa de mascarar a política pequeno-burguesa e oportunista que há décadas domina o ANDES-SN e que, agora, se apresenta como “combativa”, mas continua aliada ao imperialismo, através do identitarismo, como se pode deduzir pelo “diverso”.
O Esquerda Online tenta associar a nova direção do ANDES à tradição da luta contra a Ditadura Militar. Porém, ignora que o sindicato, sob a direção do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), rompeu com a principal organização que emergiu dessa luta: a Central Única dos Trabalhadores (CUT). O pretexto usado foi que a direção da CUT apoiou políticas contrárias aos trabalhadores — mas, na prática, tratou-se de um abandono do movimento real. Em vez de disputar a direção da CUT, o PSTU preferiu enfraquecê-la para ter uma “central” para chamar de sua.
A retórica de “perfil classista” da Chapa 1 esbarra em outro fato: o ANDES-SN é dominado há décadas pelo PSTU, partido que, assim como o PSOL, apoiou o golpe de Estado de 2016 contra Dilma Rousseff. A vitória atual representa a continuidade dessa linha antipetista, liberal travestida de radical. Se alguém acredita que essa política tenha algo de “classista”, está ignorando a história recente do Brasil.
O texto também faz questão de exaltar a “diversidade identitária” da nova diretoria, mencionando o fato de haver paridade de gênero, presença de negros, LGBTs e até uma diretora palestina. Mas o que essa representatividade efetivamente muda na política concreta do sindicato?
Essa é a mesma política de representatividade que Gabriel Boric no Chile — o “Boulos chileno” — lançou mão como presidente, garantiu paridade de mulheres nos ministérios e deu continuidade à política de interesse dos banqueiros. O mesmo vale para a defesa da “negra no STF”, o exemplo de Joaquim Barbosa deveria ser suficiente para mostrar que a cor da pele não determina o compromisso com a classe trabalhadora. O que importa é a política que se representa — e não a cor, gênero ou sexualidade.
Basta ver o papel de Sônia Guajajara e Anielle Franco no governo Lula: estão longe de representar os interesses reais dos setores oprimidos e miseráveis que dizem encarnar. Não defendem, por exemplo, a legalização das drogas, o fim da Polícia Militar, o direito de autodefesa armada população e a dissolução do STF, medidas indispensáveis parar conter o genocídio desses povos.
O Esquerda Online afirma que a nova diretoria do ANDES se coloca na “linha de frente” da luta contra o fascismo e na defesa da Palestina. Mas como podem dizer isso, se o PSOL apoiou o imperialismo norte-americano, defendendo Joe Biden como “mal menor” contra Trump? Foi justamente o governo Biden que forneceu as bombas responsáveis pelo genocídio na Faixa de Gaza, matando dezenas de milhares de mulheres e crianças diretamente, e condenando centenas de milhares à morte lenta pela fome e destruição das condições de vida. Que solidariedade é essa?
Falam em soberania, mas se trata apenas de “anti-trumpismo”. Ignoram que a luta real é contra o imperialismo — com Trump ou com Biden. São os Estados Unidos que mantêm sanções contra dezenas de países atrasados, sabotam o desenvolvimento nacional e usam a demagogia ambiental identitária como forma de impedir a exploração soberana de nossos recursos. Marina Silva é a ponta de lança dessa política no Brasil, ao trabalhar contra a exploração do “novo pré-sal” na margem equatorial. É a defesa do atraso e não da soberania.
Ainda nesse sentido, o texto do PSOL ataca o Congresso por barrar o aumento do IOF — como se isso representasse uma luta entre ricos e pobres. Evidentemente, o Congresso Nacional representa os interesses diretos de setores capitalistas — isso não é nenhuma novidade. No entanto, transformar o aumento do IOF em uma suposta medida contra os “ricos” é uma falácia. O aumento do IOF sobre operações de crédito internacional não afeta banqueiros ou grandes grupos econômicos, mas penaliza especialmente setores médios da sociedade e pequenas empresas que buscam financiamento no exterior.
Mais do que isso, a medida tem um objetivo claro: aumentar a arrecadação para cumprir as metas fiscais do chamado “teto de gastos”, política antipopular e golpista implementada após o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. O problema real não está na alíquota do IOF, mas no controle do Banco Central — hoje nas mãos dos próprios banqueiros — que define juros extorsivos, encarece o crédito e sabota qualquer tentativa de crescimento econômico. A esquerda pequeno-burguesa, ao aplaudir essa política, apenas legitima os pilares do golpe de 2016 que finge combater.
O governo Lula não combate o real problema: o controle do Banco Central pelos banqueiros, que mantêm os juros altos e o crédito mais caro. Se indispõe por migalhas enquanto deixa o poder econômico nas mãos do capital financeiro.
Também exaltam o movimento privado Vida Além do Trabalho (VAT), que supostamente traria o fim da jornada 6×1. Mas isso é uma farsa se não vier acompanhado da revogação da reforma trabalhista. No Chile, onde uma política semelhante foi aplicada, que reduziu a jornada para 40 horas semanais, a “flexibilização” serviu para aumentar a carga de trabalho nos períodos de alta produção (em até 52 horas semanais) e reduzir salários nos períodos de baixa. A mesma política que a burguesia tentou empurrar durante a pandemia. É por esse motivo que o VAT foi tão promovido pela grande imprensa.
A publicação do Esquerda Online defende substituir a luta de classes pela luta de identidades — a mesma utilizada para apoiar o assassino de Biden. A defesa da vitória da Chapa 1, longe de representar um avanço contra o fascismo ou defesa da Palestina, reafirma o controle de um setor que atua em perfeita sintonia com os interesses imperialistas. Nesse mesmo sentido, assim como a romper com a CUT representou um afastamento dos trabalhadores, a defesa do aumento do IOF e do VAT como solução para a situação atual nada mais é que semear ilusões.





