A pressão do imperialismo sobre o Oriente Médio avança para um novo patamar com o aumento das tensões entre a Síria e o Líbano e a intensificação das ameaças contra o Hesbolá, principal força de resistência à ocupação sionista no sul libanês. Em uma sequência de eventos coordenados, Estados Unidos, governo sírio e setores libaneses articulam uma operação política e militar que pode abrir caminho para uma guerra direta contra o Hesbolá, sob o pretexto de reorganizar a segurança regional.
A crise teve como estopim a questão dos mais de dois mil prisioneiros sírios detidos nas superlotadas cadeias libanesas. O novo governo sírio, liderado por Ahmad al-Sharaa e controlado pela milícia fundamentalista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), acusou Beirute de negligência, exigiu a libertação imediata dos detentos e ameaçou romper relações caso a situação não fosse resolvida. Segundo fontes de direitos humanos, muitos desses prisioneiros estão detidos há anos sem julgamento e são acusados de ligação com grupos extremistas como a Al-Qaeda — os mesmos que sustentaram a rebelião armada contra Bashar al-Assad a partir de 2011.
Sharaa afirmou, em encontro com uma delegação de líderes religiosos libaneses liderada pelo Grande Mufti Abdul Latif Derian, que a situação “não é mais aceitável” e que a próxima visita de seu chanceler, Asaad al-Shaibani, ao Líbano será a “última chance diplomática” antes de medidas mais duras, incluindo o fechamento da fronteira. A postura agressiva reflete a política do novo regime sírio, que ascendeu ao poder após o golpe armado contra Assad em dezembro e é alinhado com o imperialismo, especialmente por meio de suas origens na Al-Qaeda e nos quadros do antigo Estado Islâmico.
Na esteira dessa ofensiva, o Ministério do Interior sírio acusou o Hesbolá de envolvimento em um suposto plano de atentado em Homs, alegando que um cidadão libanês, Mahmoud Fadel, capturado com explosivos prontos para uso, pertenceria a uma “célula do Hesbolá”. A acusação foi rechaçada categoricamente pela resistência libanesa, que emitiu nota oficial denunciando a farsa e reafirmando que não tem qualquer operação em território sírio. Segundo o Hesbolá, trata-se de uma campanha de desinformação para criar um pretexto político e militar contra o grupo.
Essa acusação se alinha com as recentes declarações do enviado especial dos Estados Unidos à Síria, Tom Barrack, que lançou ameaças diretas contra o Hesbolá em entrevista ao The National. De forma explícita, Barrack afirmou que o Líbano deve “agir” para evitar sua absorção pela Síria e sua “dominação estrangeira”. “Você tem ‘Israel’ de um lado, o Irã do outro, e agora a Síria se manifestando de maneira tão rápida que, se o Líbano não agir, vai virar novamente o Bilad al-Sham”, declarou, sugerindo a fragmentação do país caso não se desfaça da resistência armada.
Barrack revelou que os EUA, junto a Arábia Saudita e Catar, apresentaram formalmente ao governo libanês um plano de “reconstrução” econômica condicionado ao desmantelamento do Hesbolá. A proposta prevê:
- entrega dos arsenais (foguetes, drones, mísseis) da resistência a depósitos supervisionados por EUA, França, Exército Libanês (LAF) e o regime sionista;
- reformas econômicas sob ditado externo;
- possibilidade de trocas de prisioneiros palestinos e suspensão parcial da ofensiva sionista, caso o Líbano aceite os termos.
O objetivo é usar a crise econômica como ferramenta de chantagem. Barrack admitiu, contudo, que o Exército Libanês não tem estrutura para desarmar o Hesbolá. “Eles estão usando equipamento com 60 anos. Não têm os soldados nem os meios para isso”, disse, defendendo o reforço das tropas com financiamento estrangeiro e nova missão para a Unifil, força de ocupação da ONU no sul do país.
A manobra tem como meta eliminar a ala militar da resistência, ainda que Barrack afirme que o Hesbolá poderá continuar existindo como partido político. Segundo fontes do canal Al Mayadeen, o governo libanês ainda está debatendo a resposta final à proposta norte-americana. No entanto, já enviou um documento rejeitando a exigência de desarmamento, reivindicando a retirada das tropas sionistas de posições ocupadas, como as Fazendas de Shebaa, e reafirmando seu direito soberano à defesa armada.
Apesar da retórica diplomática, os ataques da entidade sionista ao Líbano continuam. No sábado (12), um drone israelense atingiu uma casa na cidade de Al-Khiam, matando um civil, segundo o Ministério da Saúde. Tropas sionistas seguem ocupando pelo menos cinco posições em solo libanês, violando resoluções internacionais e alimentando a tensão na fronteira.
Com apoio tácito do novo governo sírio — agora aliado da OTAN e da política imperialista —, a ofensiva contra o Hesbolá se amplia. A chantagem econômica, as falsas acusações e as ameaças militares evidenciam que está em curso um esforço articulado para desmantelar a principal força anti-imperialista do Líbano e pavimentar o caminho para a total dominação da região pelo imperialismo e pelo sionismo. O risco de guerra cresce e, com ele, a necessidade de mobilização internacional contra a ofensiva imperialista no Oriente Médio.





