Abu Obeida, porta-voz militar das Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, declarou neste sábado (13), por ocasião do aniversário do martírio do comandante Mohammed Deif, que seu legado permanece vivo e que a luta continua infligindo “perdas estratégicas à ocupação”.
Em comunicado publicado em seu canal no Telegram, Abu Obeida afirmou que Mohammed Deif “liderou o Dilúvio de Al-Aqsa ao lado de seus irmãos, aplicando ao inimigo sionista o golpe mais devastador de sua história, quebrando para sempre sua dissuasão, unificando as energias da nação em torno da Palestina e recolocando a causa palestina no centro da luta”.
O dirigente afirmou que Deif escreveu “com sangue” o “capítulo final da libertação da Palestina”, e que a presença do mártir seguirá como “um pesadelo que assombra criminosos de guerra e ladrões”. Dirigindo-se diretamente ao inimigo sionista, Obeida declarou que os ocupantes “jamais viverão em paz sobre a terra palestina”.
O dirigente também destacou que Deif se somou à longa tradição de dirigentes e combatentes que sacrificaram suas vidas na resistência contra a ocupação:
“Décadas de jihad, perseguição, sacrifício, liderança e brilhantismo culminaram no martírio, e nosso grande comandante se juntou às fileiras dos mártires e líderes lendários de nosso povo. Seu sangue, e o de seus companheiros, agora se mistura ao sangue dos filhos e filhas de nossa nação, que deram tudo por Al-Aqsa e pela Palestina.”
Leia a declaração na íntegra:
“Passou-se um ano desde a partida do grande mártir da nação, o comandante Mohammed Deif, que, com seus irmãos, liderou o Dilúvio de Al-Aqsa, desferindo o golpe mais severo de sua história contra o inimigo sionista; o que levou ao colapso permanente de sua dissuasão, à unificação das energias da nação, à reorientação de sua bússola em direção à Palestina e à retomada da causa palestina como eixo central.
Décadas de jihad, perseguição, sacrifício, liderança e inovação culminaram no martírio, quando nosso grande comandante se uniu às fileiras dos mártires e grandes líderes do nosso povo, e seu sangue, assim como o de seus irmãos dirigentes, se misturou ao sangue do nosso povo e da nossa nação, que sacrificaram o que tinham de mais precioso por Al-Aqsa e pela Palestina.
Deif reavivou em toda a nação a lembrança dos Companheiros e primeiros combatentes mujahidin como Ali, Khalid, Al-Qa’qa’, Al-Muthanna e outros líderes conquistadores. Por décadas, ele permaneceu como inspiração para gerações que não conheceram sua imagem, mas se orgulharam das ações de suas brigadas vitoriosas, e ele permanecerá, como outros grandes líderes, um farol para todos os povos livres do mundo.
Os irmãos, filhos e admiradores de Deif em todas as partes do mundo seguem seus passos, infligindo diariamente mais perdas estratégicas à ocupação, e seu espectro permanecerá como um pesadelo assombrando os criminosos de guerra e ladrões; que não desfrutarão de viver na terra da Palestina depois que Deif e seus irmãos escreveram com seu sangue o capítulo final no livro da libertação da Palestina.”
As Brigadas al-Qassam anunciaram, no dia 30 de janeiro deste ano, o martírio de Mohammed Deif, que era seu chefe de Estado-Maior, juntamente com outros dirigentes da organização. Segundo o grupo, os comandantes foram assassinados em operações no centro de comando, em confrontos diretos com o inimigo no campo de batalha ou durante inspeções às fileiras dos combatentes da resistência.
Além da declaração de Abu Obeida, o Hamas divulgou uma nota oficial relembrando o primeiro aniversário do martírio do comandante Mohammed Deif. O documento ressalta o papel histórico do dirigente na construção da resistência palestina e o impacto duradouro de sua trajetória:
“Um ano desde a partida do chefe de Estado-Maior Mohammed Deif ‘Abu Khaled’
Neste dia, 13 de julho de 2024, o chefe de Estado-Maior das Brigadas Izz al-Din al-Qassam, o grande líder mártir Mohammed Deif ‘Abu Khaled’, partiu, após uma jornada excepcional de mais de três décadas de enfrentamento à ocupação sionista.
O nome do comandante Deif sempre abalou os alicerces da entidade usurpadora, desde a Primeira Intifada e a Segunda Intifada, passando pelas operações de captura de soldados, as batalhas de Al-Furqan e Hijarat Sijil, o acordo Wafa al-Ahrar, Al-Asf al-Makul, Saif Al-Quds, até culminar no maior evento testemunhado por esta geração: o Dilúvio de Al-Aqsa.
Este ícone militar e um dos fundadores mais destacados do maior braço militar da resistência na era moderna, as Brigadas al-Qassam, partiu deixando um legado inspirador para as gerações que lutam pela liberdade, dignidade, vitória e libertação, se Deus quiser.”
Mohammed Deif: o mais procurado por ‘Israel’, por um bom motivo
Batizado Mohammed Diab Ibrahim al-Masri, Mohammed Deif nasceu em 1965, no campo de refugiados de Khan Younis (mesmo local de nascimento de Iahia Sinuar), tendo crescido durante o auge da ocupação sionista da Palestina. Filho de uma família de refugiados palestinos de al-Qubeiba (na Cisjordânia, província de Jerusalém), viu desde cedo as consequências brutais da colonização criminosa de seu país.
Sua formação foi na Universidade Islâmica de Gaza, onde estudou ciências e teve grande envolvimento com o teatro, integrando o grupo Os Repatriados. Demonstrando interesse pelas artes e unindo-a ao ativismo político, fundou o grupo de teatro islâmico al-Ayedun, no qual interpretou figuras históricas da Palestina.
No final de 1987, Deif ingressou no Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), logo nos primeiros meses de fundação do partido, tornando-se parte do comitê técnico do Conselho Estudantil da Universidade Islâmica de Gaza. Em 1989, foi preso pelas forças de ocupação e ficou encarcerado por 16 meses sem julgamento, sob a acusação de atuar no braço militar do Hamas. Após sua libertação, contribuiu para a criação das Brigadas al-Qassam, ala militar da organização, ao lado de Iahia Aiash e Adnan al-Ghoul.
Desde a década de 1990, Deif liderou e participou de diversas operações contra as forças sionistas, sendo considerado peça-chave no desenvolvimento das capacidades militares da Resistência Palestina. Envolveu-se em operações de grande impacto, como os ataques contra soldados sionistas em 1994 e operações que resultaram na morte de dezenas de ocupantes. Durante a Segunda Intifada, foi um dos principais organizadores das ações de guerrilha, tornando-se um dos alvos prioritários dos serviços de inteligência sionistas.
A perseguição a Deif se intensificou após o assassinato de Salah Shehade em 2002, quando assumiu a liderança suprema das Brigadas al-Qassam. A partir desse momento, os ataques aéreos sionistas contra ele se tornaram frequentes.
Sobreviveu a pelo menos cinco tentativas de assassinato, que lhe causaram graves ferimentos e sequelas. Em 2006, um bombardeio destruiu uma casa onde estavam reunidos líderes do Hamas, deixando-o com sérios danos na coluna. Após esse ataque, Ahmed Jabari assumiu temporariamente a liderança militar do Hamas.
A caçada ao comandante palestino nunca cessou. Em 2014, durante um bombardeio das forças sionistas na Faixa de Gaza, sua esposa, Widad Asfoura, e dois de seus filhos foram assassinados.
Os sionistas acreditavam que ele estava no local, mas, novamente, Deif sobreviveu. Nos anos seguintes, seguiram-se novas tentativas de assassinato, todas fracassadas. Em 2021, durante a Operação Guardião das Muralhas, os sionistas tentaram matá-lo duas vezes em uma semana, sem sucesso.
Mohammed Deif é visto pelo sionismo como um inimigo prioritário, não apenas por sua longa trajetória na resistência, mas pelo seu papel na modernização das táticas de combate palestinas. Foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do uso militar de túneis subterrâneos, considerados uma das maiores ameaças às forças de ocupação.
O artigo abaixo, escrito por Amos Harel para o jornal israelense Haaretz para a edição do dia 20 de agosto, dá uma pista do temor despertado por Deif na ditadura sionista. “O chefe da ala militar do Hamas”, escreveu Harel, “está no topo da lista dos ‘mais procurados’ Israel nos últimos vinte anos por um motivo”, acrescentando:
“Mohammed Deif, comandante do Iz al-Din al-Qassam, braço militar do Hamas, e homem procurado em Israel há cerca de 20 anos, é considerado líder desse grupo desde meados da década de 1990. Israel, que fez várias tentativas contra sua vida durante esse período, intensificou seus esforços para eliminá-lo quando a segunda intifada estava em pleno vigor. Ao escapar das tentativas de assassinato por um triz, Deif se recuperou de seus ferimentos e voltou a liderar a ala militar do Hamas depois que seu comandante, Ahmed Jabari, foi morto em um ataque da Força Aérea de Israel no primeiro dia da Operação Pilar de Defesa em novembro de 2012.”
A política de Deif permitiu que a Resistência Palestina mantivesse capacidade ofensiva mesmo sob os intensos bombardeios da ocupação, sendo um dos grandes heróis da conquista histórica do Hamas e de todo o povo palestino, que após 15 meses de uma cruenta campanha genocida realizada por “Israel”, venceu as forças de ocupação e impôs, pela força, a libertação de companheiros da pela libertação da Palestina. O comandante, porém, não conseguiu ver a vitória.
Em 13 de julho de 2024, após décadas de perseguição incessante, foi alvo de um ataque israelense no bairro de al-Mawasi, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. De acordo com informações do Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 90 palestinos foram assassinados na ocasião e mais de 300 ficaram feridos em decorrência do ataque.
A confirmação de seu martírio foi feita pelo Hamas em 30 de janeiro de 2025, marcando o fim da trajetória de um dos mais importantes comandantes da Resistência Palestina. Mesmo após inúmeras tentativas fracassadas de assassinato, que lhe causaram graves ferimentos e a perda de familiares, Deif permaneceu ativo na luta contra a ocupação até seu último momento, sendo um exemplo para revolucionários e apoiadores da luta pela libertação da Palestina.





