Em recente entrevista concedida antes das eleições internas do Partido Trabalhadores (PED), o então candidato e agora presidente nacional, Edinho Silva, deixou claro o rumo que pretende dar à maior organização de esquerda da América do Sul.
Perguntado sobre sua definição ideológica, relutou em dizer que era de esquerda ou socialista. Preferiu a fórmula vaga do “lulismo”. Um lulismo, diga-se, que não se compromete com o legado histórico do partido que o fez surgir como uma organização de luta das massas, mas um “lulismo” que é sinônimo da submissão aos inimigos dos trabalhadores. Pelo contrário, já vislumbra um PT sem Lula, sem o maior líder popular nas urnas — como se fosse possível separar a figura de Lula do partido.
Na entrevista, Edinho abraçou a política “mudança climática” ditada pelo imperialismo. A mesma agenda usada por Marina Silva e Sônia Guajajara para emparedar o governo Lula, impedindo a exploração do “novo pré-sal” na Margem Equatorial — uma oportunidade estratégica para alavancar a economia nacional, retomar a indústria e gerar empregos.
Sobre a luta contra Bolsonaro, seu discurso é marcado por contradições: diz que era preciso derrotar o suposto “fascismo”, mas se opôs à campanha pelo “Fora Bolsonaro”. Na época, ignorou que o líder de extrema-direita só chegou à presidência porque Lula foi tirado das eleições de 2018 por uma fraude judicial, com apoio inclusive de Alexandre de Moraes. Hoje, o ministro que votou contra a Constituição Federal, pela prisão de Lula em segunda instância, se tornou o novo paladino da “democracia”.
Edinho pinta um mundo dividido entre “fascismo” e “democracia”, com Donald Trump elevado à condição de maior fascista do século XXI. Mas ignora o papel criminoso de Joe Biden e Netaniahu — os verdadeiros chefes do genocídio em Gaza. Sob o ex-presidente norte-americano, o regime nazista israelense recebeu as bombas que mataram milhares de mulheres e crianças palestinas. Mesmo assim, Edinho defende o apoio ao “mal menor”, o que, na prática, é submissão total ao imperialismo.
Neste mesmo sentido, perguntado se Lula deveria romper relações com o “Estado de Israel”, desconversou. Parece que combater o fascismo é posar de diplomata com criminosos de guerra.
Ainda na política internacional, também desconversou sobre o reconhecimento de Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela. Ignorou a importância do Brasil apoiar a entrada do país no BRICS, alinhando-se assim à política do imperialismo, que busca isolar governos nacionalistas e populares.
O presidente do PT destacou a importância de se aproximar das novas profissões de motoristas de aplicativo, mas não defendeu revogar a reforma trabalhista, a Lei de terceirização e a reforma da previdência — pilares do golpe de 2016 contra Dilma Rousseff que destruiu os direitos dos trabalhadores. Nenhuma proposta de reversão do estrago causado pela direita.
Sobre o rebaixamento do salário mínimo, disse que o PT não rasgaria sua história, mas também não reconheceu o que de fato aconteceu durante o atual governo. Defende isenção de imposto para quem ganha até cinco mil, mas se recusa a criticar a política econômica de Gabriel Galípolo no Banco Central — um funcionário dos banqueiros indicado por Lula para o comando da economia. Também não defendeu a revogação quando questionado sobre o teto de gastos, desconversou dizendo que é preciso taxar os ricos. Mas seria como Haddad está supostamente fazendo?
Por incrível que pareça, Edinho reconheceu que a Polícia Militar é uma corporação assassina, mas, como “solução”, propõe cercar as cidades com câmeras, como se isso não fosse voltar-se contra o povo quando vierem as mobilizações populares, além de impor um Estado policial de vigilância permanente do povo no seu dia a dia. Assim aconteceu em Araraquara, a Guarda Municipal, fortalecida em seu governo, atuou politicamente contra a defesa da Palestina.
No plano político, ainda que tenha pavimentado o caminho para a vitória da extrema-direita em todo Brasil, em vez de abandonar, defendeu não recuar da política identitária.
E admitiu que, com a perda de poderes do Executivo, o Brasil caminha para um regime semipresidencialista — o que, para ele, exige mais conciliação com os golpistas. Em Araraquara, não hesitou em reunir PSDB, MDB e outros partidos golpistas sob a bandeira de uma “candidatura das mulheres”. Um verdadeiro descalabro.
Na campanha de sua candidata, Eliana Honain, o principal mote de campanha foi o lockdown imposto na pandemia, medida autoritária vendida como “científica” que só serviu para blindar João Doria das manifestações populares — exatamente o que Edinho fez de pior como prefeito. Agora, repete tudo aquilo que o governo Lula fez de pior.
Se der certo, será o único caso da história em que repetir a mesma fórmula daria um resultado diferente.




