Em entrevista publicada nesta sexta-feira (11) pelo jornal The National, o enviado especial dos Estados Unidos à Síria Tom Barrack, proferiu ameaças diretas ao Líbano e à resistência armada do Hesbolá. Segundo ele, o país enfrentará o “colapso” ou a “dominação estrangeira” caso não aceite desarmar completamente o grupo, considerado uma força central na defesa do território libanês contra as investidas da ocupação sionista.
De acordo com Barrack, o Líbano estaria sob iminente risco político: “Você tem ‘Israel’ de um lado, o Irã do outro, e agora a Síria se manifestando de maneira tão rápida que, se o Líbano não agir, vai virar novamente o Bilad al-Sham”, disse, referindo-se ao antigo nome da região da Grande Síria. Ele ironizou ainda que “os sírios dizem que o Líbano é a nossa praia. Então, precisamos agir”.
As declarações não foram apenas simbólicas. Barrack confirmou que os Estados Unidos, em aliança com Arábia Saudita e Catar, pretendem oferecer apoio econômico ao Líbano, mas apenas mediante o cumprimento de exigências específicas: o completo desarmamento do Hesbolá e a adoção de reformas econômicas determinadas pelo imperialismo. Um plano com esses termos foi entregue formalmente ao governo libanês no mês passado.
A proposta norte-americana tenta transformar a devastação econômica do país em instrumento de chantagem. Com base nesse plano, o financiamento da reconstrução, a suspensão da ofensiva sionista e até a liberação de prisioneiros palestinos por meio de trocas mediadas pela ONU estariam condicionados à rendição da resistência nacional.
Apesar do cessar-fogo firmado em novembro, sob mediação dos EUA, os ataques da entidade sionista seguem ocorrendo regularmente contra cidades e vilarejos do sul libanês, o Vale do Becá e a periferia sul de Beirute. No sábado (12), um civil foi assassinado após um drone israelense atingir uma casa residencial em Al-Khiam, conforme relatório do Ministério da Saúde do Líbano. Ainda hoje, tropas sionistas permanecem ocupando cinco posições estratégicas no território libanês.
Barrack defendeu que o Hesbolá entregue seus arsenais, incluindo foguetes, drones e sistemas de mísseis, a depósitos sob supervisão internacional de Estados Unidos, França, a entidade sionista e o Exército Libanês (LAF). Mas reconheceu que o próprio LAF não possui estrutura para cumprir essa tarefa.
“Eles estão usando equipamento com 60 anos. Não têm os soldados nem os meios para isso”, declarou. Segundo ele, seria necessário “reforçar” o LAF com financiamento externo e redefinir o papel da força de ocupação da ONU (Unifil) para que participe do processo.
As ameaças de Barrack geraram forte reação entre autoridades libanesas. O governo entregou uma resposta formal em sete páginas, exigindo a retirada completa das tropas sionistas de todos os territórios ocupados, como as Fazendas de Shebaa, e reafirmando o direito soberano do país sobre o uso das armas. No entanto, o documento não cedeu à exigência norte-americana de desarmamento, o que levou Barrack a afirmar que ainda haverá “queda de braço” para que se alcance uma “conclusão final”.
O enviado dos EUA criticou ainda o presidente Joseph Aoun por não assumir publicamente um compromisso com o cronograma de desarmamento. Segundo ele, Aoun teme provocar uma guerra civil.
Barrack acusou o país de nunca ter cumprido acordos internacionais e reclamou da “fadiga” dos países do Golfo, que se recusam a financiar o LAF por causa da corrupção dos dirigentes locais: “Eles dizem: ‘já demos dinheiro demais ao Líbano, que acabou nas mãos de líderes corruptos. Acabou’”, declarou.
O tom beligerante de Barrack contrasta com sua retórica moderada dias antes, quando esteve em Beirute para negociar com as autoridades locais. Após encontro com Aoun, o representante norte-americano chegou a afirmar que estava “largamente satisfeito” com a resposta libanesa e que ela estava “dentro do escopo” do que os EUA pretendem. Ele declarou, à época, que o país não seria obrigado a cumprir prazos rígidos, desde que avançasse na direção desejada pelo governo Trump.
Barrack também afirmou que a dissolução do Hesbolá como partido político não faz parte da proposta – “Isso é uma questão libanesa”, disse –, mas reiterou que o objetivo norte-americano é o desmonte da ala militar da resistência. Segundo fontes ouvidas pelo canal Al Mayadeen, o Líbano ainda não concluiu suas deliberações internas sobre a proposta dos Estados Unidos.
A resposta final deverá ser construída com base em um consenso entre os principais dirigentes políticos do país. Enquanto isso, a pressão externa se intensifica e a chantagem econômica se apresenta como instrumento principal de um plano cujo objetivo é eliminar o último obstáculo militar sério à expansão do imperialismo e da ocupação sionista no Líbano e na região.



