O artigo Trump faz defesa de Bolsonaro em ato de ingerência imperialista no seu julgamento, publicada no sítio Esquerda Diário nesta segunda-feira (7), mostra como determinados setores da esquerda têm uma leitura confusa e esquemática da situação política, pois não conseguem analisar os fatos objetivamente. Por fazerem oposição ao direitista Bolsonaro, por exemplo, automaticamente não conseguem admitir que haja contra o ex-presidente uma perseguição política.
No primeiro parágrafo lê-se que “o presidente dos EUA, Donald Trump, publicou hoje uma declaração aberta em defesa de Jair Bolsonaro, contra a sua condenação judicial, acusando do país promover uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente e seus apoiadores”.
Em seguida, conclui que “a postagem, feita na rede social do presidente americano chamada Truth Social, não é um mero gesto diplomático, representa mais uma tentativa de ingerência imperialista dos Estados Unidos na política nacional”.
O Esquerda Diário poderia, por exemplo, ter criticado a demagogia de Trump que, enquanto presidente, poderia ter anistiado, mas nada fez em favor de Julian Assange, perseguido implacavelmente pelo imperialismo.
Se Lula criticasse o governo Netaniahu por promover um genocídio em Gaza, seria uma ingerência? No entanto, cobrar atas das eleições venezuelanas foi, sim, uma intromissão nas questões internas da Venezuela.
O terceiro parágrafo do artigo diz que “Trump, símbolo da ultradireita global, não apenas relativiza a intentona golpista de 8 de janeiro de 2022 como se coloca mais abertamente como protetor da extrema-direita brasileira e de seu principal representante hoje que é Jair Bolsonaro. Ao dizer que “o único julgamento que deveria ocorrer é nas urnas”, se enfrenta diretamente contra o julgamento em curso contra o ex-presidente, buscando interferir no seu resultado”.
O fato de Trump ser quem é não invalida automaticamente tudo o ele diga. Como já dissemos em outras ocasiões, não houve uma tentativa de golpe no início de 2022. Em 2018, no entanto, o tuíte do comandante do Exército, Villas-Bôas Corrêa, ameaçando colocar os tanques nas ruas, caso o Supremo não votasse pela prisão de Lula, foi uma ingerência, exigência do imperialismo, e o Supremo nada fez.
Trump está certo quando diz que o único julgamento de um político deve ocorrer nas urnas, para isso, inclusive, que se criou o foro privilegiado. No Brasil, com apoio de boa parte da esquerda, e é preciso lutar contra isso, o STF tem anulado milhões de votos ao cassar mandatos de parlamentares.
Não faz sentido afirmar que o “o julgamento contra Bolsonaro e o STF não tem o objetivo de fazer com que ele pague pelo seu golpismo e pelos seus crimes de fato. Pois se trata de uma das muitas medidas que o STF adota para domesticar o bolsonarismo para que siga defendendo suas ideias misóginas, racistas e escravistas dentro das regras democráticas desse regime degradado”.
Qual a vantagem para a burguesia de manter algum político dentro de um cercado para defender determinadas ideias negativas? Bolsonaro é alvo desse julgamento farsa para que não concorra nas próximas presidenciais, uma vez que tem chances reais de vencer, e o imperialismo pretende colocar uma espécie de Milei na presidência.
Soberania
Não se pode aceitar que qualquer país tente se intrometer nas questões de soberania do Brasil, muito menos quando se trata do imperialismo. No entanto, é fato que Bolsonaro está sofrendo uma perseguição política. Neste País, já se viu todo tipo de julgamento farsesco, como o Mensalão, Petrolão, Lava Jato. A burguesia não tem escrúpulos em perseguir um político da direita, pois ela é pragmática. E a esquerda não deve se calar diante dessas injustiças; pois, se já foi ontem, amanhã será a próxima da lista.
No último parágrafo, o artigo diz que “não obstante que qualquer declaração de Lula contra a ingerência de Trump possa ler levada a sério enquanto combate ao imperialismo americano pela subserviência ao STF (cabeça de praia do imperialismo americano na política brasileira) e ao regime da dívida pública, implementando todo programa econômico para garantir o seu pagamento, que é o verdadeiro mecanismo de controle ao orçamento e às decisões da política nacional”.
Não se pode dizer que o governo petista seja subserviente ao STF, e sim que busca algum tipo de apoio político, uma vez que está sendo emparedado pela Câmara e pelo Senado. O erro do PT foi não ter buscado apoio das bases, que poderia utilizar para pressionar o Congresso. Se valendo do Supremo, apenas fortalece essa instituição golpista.
Finalizando, o texto chama por uma oposição de esquerda ao governo Lula. Embora pareça radical, temos aqui uma completa adesão à política do imperialismo, que não quer nem Lula, nem Bolsonaro, e o Esquerda Diário –em política não existe coincidência– ataca os dois.
A história de “combater a extrema direita”, como finaliza o texto, sempre acaba em uma política de colaboração de classes, pois o fascismo nada mais é que uma das faces da política burguesa. Isso que o texto chama de “organização independente dos trabalhadores”, em 2016, se traduziu em apoio ao golpe contra Dilma Rousseff e com a subida de Michel Temer ao poder.
Em política, medem-se as pessoas e os partidos por aquilo que fazem, não por aquilo que dizem. Toda crítica deve sempre levar em consideração os interesses da classe trabalhadora, e nunca se deve trabalhar com esquemas prontos que supostamente servem para tudo.
É preciso que os trabalhadores entendam que, por trás de um discurso supostamente radical, esconde-se, como já se viu, uma intenção golpista que só vai favorecer nosso principal inimigo: o imperialismo.




