Esquerda reformista

Não se separa educação da luta de classes

Texto de petista apenas reforça o pensamento de setores pequeno-burgueses da esquerda, que abandonam a luta de classes e pregam a reforma do Estado pela educação

Jornal, Garrafa, Maço de Cigarros

O artigo Dialética da guerra, de Tarso Genro, publicado no Brasil 247 neste sábado (21), é uma lista interminável de citações de autores. No entanto, o essencial, para quem se dispuser a ler os quase 15 mil caracteres, é que traz uma ideia ultrapassada: a de que pode existir uma educação transformadora.

Conforme setores da esquerda vão se aburguesando, e se afastando das lutas históricas da classe trabalhadora, caem, invariavelmente, nessas fórmulas que já não deram certo nas mãos de socialistas utópicas, como Robert Owen. E, principalmente, já foram refutadas por Friedrich Engels, que diferenciou o socialismo utópico do científico.

Em seu primeiro parágrafo o texto diz que “se a cavalaria moderna é feita de drones e algoritmos, e se os romances de cavalaria foram substituídos por narrativas de ódio viralizadas, a única trincheira possível está na educação que desmascara a barbárie. Não há Dom Quixote sem Sancho Pança, nem revolução sem letramento crítico”.

De cara, existem dois temas recorrentes na maioria da esquerda: a questão dos “algoritmos”, ou o poder das plataformas digitais; e o tal “discurso de ódio”, um termo que os identitários utilizam exaustivamente e que serve, por exemplo, para colocar pessoas na cadeia ou servir de álibi para a implementação da censura no Brasil.

Os algoritmos seriam armas de guerra utilizadas pelos fascistas nas redes sociais, as quais seriam utilizadas para disseminar ódio e notícias falsar (fake news), e nunca faltam os que digam que é preciso proteger as crianças.

Nada disso é novo. Não faz tanto tempo assim, e a televisão era considerada a grande aliciadora de menores e um perigo para a família e a sociedade.

Repressão

Os ataques aos algoritmos e às big techs têm um propósito muito claro: censurar as redes sociais. Essa luta, que a esquerda pequeno-burguesa acredita que tenha inventado, é, de fato, o desejo do imperialismo, que não quer a livre circulação de informação, precisa deter o monopólio.

Toda a lei repressora é apresentada como algo benéfico. Qualquer pessoa vai achar certo que não se difunda o ódio, seja em ato, ou em discurso. O esquerdista ingênuo acredita que o ódio é coisa de fascista e, ao combatê-lo, estará combatendo também o fascismo.

A burguesia, que é uma classe consciente, abraçou a questão do “combate ao discurso de ódio”. Primeiro, porque sabe que pode continuar odiando à vontade. Como fazem abertamente, por exemplo, contra os russos e sua cultura. Segundo, que é mais uma chance de tornar a sociedade mais repressiva, e poderá utilizar esse recurso para perseguir a esquerda.

Quem duvida que seja assim, basta verificar que em redes sociais, como o Facebook, a esmagadora maioria das páginas que denunciavam os crimes do sionismo contra os palestinos ou era fechada, ou sofria sabotagem dos algoritmos. E qual a desculpa? Sim, o “discurso de ódio”.

Aquilo que, supostamente, deveria combater os fascistas, na verdade, os está protegendo. No Brasil, há investigações e condenações judiciais contra aqueles que ousaram criticar os sionistas. Afinal, não custa nada enquadrar os críticos do sionismo na categoria de antissemitas e racistas.

Trincheira da educação

Tarso Genro diz que, em vista dos algoritmos e do ódio, a única trincheira possível está na educação que desmascara a barbárie. Não há Dom Quixote sem Sancho Pança, nem revolução sem letramento crítico.

Existe uma esperteza aí de Genro, que tenta parafrasear Lênin, que no seu livro Que Fazer afirma que “sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária”. Ocorre que o bolchevique não está dizendo que se possa criar um sistema educativo produtor de revolucionários; mas que, na luta política, o militante deve desenvolver seu pensamento crítico, pois isso vai potencializar sua prática. Existe aí uma relação dialética, não um convite ao mero diletantismo.

Portanto, a proposta de Lênin se choca frontalmente com a de Tarso Genro, que diz que “para uma mudança estrutural na formação de uma cidadania ativa, neste novo contexto, é preciso um sistema educacional renovado que revise e enfrente dois desafios: alfabetizar numa nova linguagem e letrar com novas tecnologias”. Essa conversa de formação de cidadania é uma proposta reformista e direitista.

Não é possível reformar o Estado capitalista, muito menos transformá-lo por um sistema educacional. Genro deixa de lado o principal para as mudanças sociais: a luta de classes. Repetindo o que escrevemos em uma matéria anterior, se existisse uma “educação libertadora”, caberia a pergunta de Karl Marx: quem educa os educadores? Na terceira Tese de Feuerbach (1845), Marx escreveu:

“A doutrina materialista de que os homens são produtos das circunstâncias e da educação, e de que, portanto, homens transformados são produtos de outras circunstâncias e de uma educação modificada, esquece que as circunstâncias são transformadas pelos próprios homens e que o próprio educador deve ser educado. Por isso, essa doutrina leva necessariamente à divisão da sociedade em duas partes — uma superior à sociedade (em termos de educadores e governantes).”

Uma educação genérica, dissociada da luta de classes, é muito mais um auxílio para a manutenção do Estado burguês. Basta ver o que acontece nas universidades, tomadas pelo identitarismo, que é uma ideologia burguesa, conservadora e direitista, impulsionada pelo imperialismo. Inúmeras bolsas de estudo, publicações, teses, são financiadas se tratarem de temas que interessem aos identitários.

É apenas a esquerda revolucionária que tem criticado abertamente e demonstrado o quão deletério é o identitarismo. E é por meio da crítica, e do embate político, que tem educado seus militantes e a classe trabalhadora, que aprende a combater esse inimigo infiltrado na esquerda.

No mais, é preciso combater ideias como as que estão contidas nesse texto de Tarso Genro. Ele não aponta para nada que não seja o retrocesso. A esquerda não tem que pensar em reformar o Estado burgues, mas em superá-lo. Essa conversa morna de “vamos educar”, além de inócua e desmobilizadora, joga a classe trabalhadora direto nos braços da burguesia, que é quem controla as redes de ensino.

Todo militante tem, obviamente, que estudar e se esclarecer, mas não deve ter ilusões e, principalmente, nunca deve abandonar a única perspectiva de mudanças: a revolução socialista, a derrota do imperialismo, e a extinção das classes sociais.

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