Ásia

Imperialismo está criando uma OTAN no Pacífico?

O “Pacto de Defesa” é parte de uma corrida imperialista que busca alterar o curso histórico da ascensão da China

Na última semana, a revista Foreign Affairs, porta-voz do imperialismo norte-americano, publicou o artigo The Case for a Pacific Defense Pact – America Needs a New Asian Alliance to Counter China (A Defesa de um Pacto de Defesa no Pacífico – Os Estados Unidos Precisam de uma Nova Aliança Asiática para Conter a China). O texto, assinado por Ely Ratner, ex-Secretário Adjunto de Defesa para Assuntos do Indo-Pacífico, expõe a necessidade do governo dos Estados Unidos em formular um novo pacto militar no Indo-Pacífico, projetado para conter a “ameaça” de dominação chinesa na região.

Segundo o ex-Secretário de Joe Biden, “chegou a hora de os Estados Unidos construírem um pacto de defesa coletiva na Ásia”, uma iniciativa que, embora formalmente ausente até agora, já está sendo construída de forma informal através da intensificação dos laços militares bilaterais e multilaterais.

Para Ratner, a crescente ameaça que a China representa para os interesses norte-americanos torna imprescindível a formalização de uma aliança militar multilateral que vá além do modelo tradicional de parcerias bilaterais. Ele afirma que, “sem um compromisso sólido com a defesa coletiva, o Indo-Pacífico caminha para a instabilidade e o conflito”.

A China, em sua visão, tem aspirações de “tomar Taiuã, controlar o Mar da China Meridional, enfraquecer as alianças com os EUA e, por fim, dominar a região”. Caso isso aconteça, alerta, o resultado será uma ordem regional liderada por Pequim que relegará os EUA à condição de potência diminuída — “menos próspera, menos segura e incapaz de acessar ou liderar plenamente os mercados e tecnologias mais importantes do mundo”.

Essa percepção traduz uma tentativa deliberada de manter o domínio mundial dos EUA, deslocando recursos militares para pontos estratégicos em toda a Ásia. Segundo o especialista, “os Estados Unidos deslocaram forças militares mais móveis e letais para locais estratégicos em toda a Ásia” e reformularam suas parcerias de segurança para conferir aos aliados maior responsabilidade e integração mútua. Essa “treliça” de relações militares — combinada com iniciativas como a aliança AUKUS (Austrália, Reino Unido e EUA) e o “Quad” (Austrália, Índia, Japão e EUA) — visam reforçar a capacidade de contenção chinesa.

Países como Japão, Filipinas e Austrália já demonstram um reposicionamento estratégico em resposta à atuação firme chinesa. Conforme Ratner, o Japão reinterpretou sua constituição pacifista para permitir maior cooperação militar com aliados, enquanto as Filipinas, anteriormente focadas na insurgência interna, voltam sua atenção para a defesa contra ameaças externas, sobretudo na disputa pela soberania marítima no Mar da China Meridional. A Austrália, por sua vez, revisa suas prioridades de defesa “de cima a baixo”, com planos de gastos militares recordes e foco na preparação para “grandes ameaças mais próximas”, o que indica a percepção de que a localização geográfica não protege mais contra a China.

Essa convergência regional, segundo Ratner, é inédita na história do Pacífico, onde, durante a Guerra Fria, a dissuasão era predominantemente bilateral e restrita. Agora, a emergência de um “sistema de autodefesa coletiva”, similar à OTAN, passa a ser vista como necessária para evitar a eclosão de conflitos armados, uma avaliação confirmada por líderes regionais como o ex-primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba, que alertou para o risco de guerras sem um pacto multilateral.

Essa movimentação dos Estados Unidos representa mais uma etapa da ofensiva imperialista global contra a China, cuja ascensão é vista como uma ameaça ao domínio imperialista norte-americano. A proposta do “Pacto de Defesa do Pacífico” é uma resposta política ao avanço das rotas comerciais e projetos chineses, como as Novas Rotas da Seda, que disputam mercados, influência política e acesso a recursos estratégicos.

O aprofundamento das alianças militares no Indo-Pacífico não significa apenas aumento da presença bélica norte-americana, mas implica diretamente no aumento das tensões militares, que colocam em risco a estabilidade regional e o futuro de povos inteiros. Essa militarização ocorre num contexto em que os Estados Unidos, além de protegerem seus interesses econômicos, buscam reverter sua perda relativa de poder e conter o crescimento econômico e tecnológico da China, objetivo que, segundo Ratner, só será alcançado através de um pacto formal, pois as “iniciativas de defesa existentes permanecem muito informais e rudimentares”.

Entretanto, o avanço dessa estratégia enfrenta contradições internas. Ratner admite que o governo Trump (e seus desdobramentos políticos) demonstram pouco interesse em alianças multilaterais, priorizando o protecionismo e o nacionalismo. “Certamente”, diz ele, “muitos alicerces do pacto podem não ser finalizados até um futuro governo americano”. Além disso, a crescente cooperação da China com países do Sudeste Asiático, ASEAN e da Ásia Central desafia a capacidade norte-americana de manter suas alianças isoladas e fragmentadas.

O “Pacto de Defesa do Pacífico”, portanto, é parte de uma corrida imperialista que busca alterar o curso histórico da ascensão da China e garantir a manutenção da hegemonia norte-americana. O isolamento crescente dos Estados Unidos, a desconfiança mundial, e o poder econômico crescente da China fazem desse pacto um esforço urgente e inadiável.

Enquanto os EUA buscam uma coalizão militar restrita a seus tradicionais aliados — Austrália, Japão e Filipinas —, a China consolida suas parcerias com a ASEAN e a União da Ásia Central, utilizando-se das chamadas rotas econômicas “macias, insinuosas e lucrativas” para ampliar sua influência. Essa disputa é a expressão da luta interimperialista pelo controle de mercados e recursos estratégicos, em que os trabalhadores e povos da região são os principais prejudicados.

A expansão militar no Indo-Pacífico eleva o risco de confrontos diretos, ameaçando uma escalada que pode culminar em conflitos de maior escala. É urgente denunciar essa política belicista e exigir que os trabalhadores de todos os países envolvidos, se oponham à presença militar dos Estados Unidos na região e a guerra contra a China. Uma questão central na luta contra o imperialismo e pela soberania popular nesses países.

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