HISTÓRIA DA PALESTINA

O intelectual palestino Bendali Saliba al-Jawzi

Foi historiador, linguista e militante da causa nacional, com atuação em universidades da Rússia e participação ativa no movimento palestino

Entre os grandes nomes da luta cultural e intelectual do povo palestino contra o domínio estrangeiro, destaca-se Bendali Saliba al-Jawzi. Nascido em Jerusalém, al-Jawzi viveu no seio de uma tradicional família cristã palestina e teve cinco irmãos: Mariam, Katrina, Helaneh, Qustandi e Saliba. Ao longo de sua vida, conciliou o papel de pai — com sete filhos, frutos do casamento com Liudmilla Lornichevna Zueva — com o de intelectual comprometido com a causa árabe e a preservação da identidade nacional palestina frente ao domínio colonial otomano e à ofensiva imperialista europeia.

Desde cedo demonstrou interesse pelas letras e pelo estudo. Iniciou sua formação na escola ortodoxa Deir al-Musalliba, em Jerusalém, seguindo para um internato também ortodoxo no norte do Líbano, em Bkaftin. Em 1891, foi contemplado com uma bolsa de estudos da Igreja Ortodoxa para estudar teologia em Moscou, mas logo abandonou o curso, recusando-se a seguir uma vida clerical.

Em vez disso, optou por aprofundar seus estudos seculares e transferiu-se, em 1895, para a Academia de Kazan, onde obteve em 1899 um mestrado em língua árabe e estudos islâmicos. Sua tese, dedicada à escola racionalista mu‘tazilita do Islã, já revelava seu espírito crítico e sua vocação para a investigação filosófica e histórica.

No ano seguinte, tentou retornar à Palestina para se estabelecer em sua terra natal. No entanto, o governo otomano o obrigou a deixar o país, provavelmente em função de suas posições políticas e de sua formação intelectual avançada — vista como uma ameaça pelo regime. De volta à Rússia, al-Jawzi passou a atuar como professor assistente de árabe e estudos islâmicos na Universidade de Kazan. Permaneceu nesse posto até 1920, tendo sido transferido da Faculdade de Direito para a Faculdade de História e Literatura, onde aprofundou ainda mais seu trabalho sobre a tradição árabe-islâmica.

Em 1909, realizou uma viagem marcante à Palestina e à região do Levante com um grupo de estudantes russos, em missão acadêmica. Durante essa visita, travou contato com diversos intelectuais árabes de destaque, como Isaaf al-Nashashibi, Jamil al-Khalidi e Khalil al-Sakakini. Em Beirute, conheceu também o orientalista russo Ignaty Krachkovsky, que se tornaria uma figura importante nos estudos árabes na Rússia.

Em 1920, mudou-se para Baku com sua família, assumindo uma posição de destaque na Universidade Estatal de Baku. Inicialmente, lecionou língua e literatura árabe na Faculdade Oriental, e mais tarde se tornou reitor da mesma. Em 1921, realizou uma missão científica ao Irã, de onde trouxe valiosos manuscritos em árabe e persa que foram doados à biblioteca universitária.

Em 1928, retornou à Palestina, desta vez em um momento crucial da organização nacional palestina. Proferiu conferências em várias cidades palestinas sobre a história e o pensamento árabe, sendo aclamado como um grande intelectual. Participou do VII Congresso Nacional Palestino, em junho daquele ano, e foi eleito membro do Comitê Executivo Árabe — órgão que centralizava as articulações políticas do movimento nacionalista palestino durante o Mandato Britânico.

Dois anos depois, em 1930, foi nomeado chefe do Departamento de Língua Árabe da Universidade de Baku, onde recebeu, em 1931, o título de doutor honorário em literatura árabe. Ainda nesse período, retornou à Palestina para uma nova rodada de palestras, desta vez voltadas a temas de sociologia e filosofia. Visitou também o Egito, onde foi calorosamente recebido por intelectuais locais ao lado de seus companheiros Khalil al-Sakakini e Adil Jabr.

A partir de 1932, problemas cardíacos o afastaram do trabalho, mas ele retomou suas atividades em 1938 como diretor do Departamento de Árabe da filial da Academia de Ciências do Azerbaijão. Mesmo com a saúde debilitada, escreveu mais de cinquenta artigos para a enciclopédia do Azerbaijão, demonstrando sua incansável dedicação ao saber.

Ao longo da vida, al-Jawzi escreveu e traduziu vinte e seis obras, além de deixar manuscritos inéditos em russo e árabe. Sua produção científica não se limitou à Rússia: colaborou com publicações do mundo árabe, como Al Athar e Al-Kulliyya, no Líbano, e Al-Hilal, Al-Muqtataf e al-Rabita al-Sharqiyya, no Egito. Era reconhecido internacionalmente como um dos maiores especialistas em língua árabe e estudos orientais, tendo contestado com firmeza muitas das visões distorcidas de orientalistas europeus e russos.

Bendali Saliba al-Jawzi faleceu em Baku, no início de 1942, e ali foi sepultado.

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