No último dia 26, foi divulgado o resultado da votação do relatório anual da Cassi (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil).
O relatório é um instrumento, estatutário, de prestação de contas da Cassi ao corpo social do banco que, se aprovado, será levado para o envio à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), reguladora das operadoras de saúde.
O resultado da votação, conforme divulgado pela Cassi, foi de 70.030 votantes, dos quais 39.773 optaram pela aprovação do relatório, 9.622 pelo NÃO, 9.527 votos em branco e 11.108 nulos.
Uma questão que chama atenção – nesse caso devemos tirar a conclusão de que se não for ingenuidade somente poderia ser por má-fé – as direções sindicais avaliaram como uma grande vitória, com a seguinte argumentação: a participação foi a maior em 5 anos e que o relatório foi aprovado pelos associados com mais de 80% dos votos válidos.
Para chegar nesses números, levam em consideração apenas aqueles associados que votaram pelo SIM ou pelo Não (49.395), deixando de lado os votos em branco e nulos e, logicamente, aqueles que deixaram de votar.
Medida essa que não revela a verdadeira análise política do que efetivamente se passou na votação, já que esse números “não contabilizados” por eles, não deixam de representar uma manifestação de descontentamento de uma grande parcela dos associados.
Mesmo com toda a propaganda da direção do Banco do Brasil, da Cassi, do Movimento Sindical, com mais de 12 apresentações presenciais nas capitais, transmissões online, reuniões com as entidades representativas dos funcionários e aposentados do BB e lideranças dos Conselhos de Usuários da Cassi, mostra uma realidade totalmente oposta a essa pintada de cor de rosa por todo esse setores.
Os últimos dados da Cassi mostram que a entidade tem 160.239 associados, entre ativos e aposentados, aptos a votar. Se, dentro desse universo 70.030 votaram, logicamente, chegamos à conclusão de que 90.209 não votaram, ou seja, 56,3% que, somados aos votos nulos, brancos e NÃO (30.257), temos 120.466, ou seja, 75,18% que não concordaram, anularam, se abstiveram e não votaram. E, então, teríamos apenas 24,82% de associados que efetivamente aprovaram o relatório. É preciso levar em conta esse números, para ser feita uma verdadeira análise política e que se não caia numa espécie de abstracionismo de que está tudo lindo e maravilhoso, sendo que a realidade é totalmente oposta.
Não é por acaso que grande parte da categoria, e esses números revelam isso, está descrente com que vem acontecendo com a Cassi. Os ataques contra esse gigantesco patrimônio dos trabalhadores do Banco do Brasil tem sido sistemático desde a era do famigerado governo neoliberal de FHC (PSDB) no começo da década de 1990, período em que os salários dos bancários ficaram congelados por 8 anos e consequentemente, congelou-se o aumento das contribuições dos associados da Cassi, enquanto a inflação médica galopava, contribuindo para o déficit da entidade.
Já houve várias mudanças no estatuto que sempre penalizaram os trabalhadores e desoneraram a patrocinadora, ou seja, o Banco do Brasil. Em 1996, a reforma aumentou em 200% a contribuição dos associados, passando de 1% para 3%, enquanto a da empresa passou de 2% para 3%. Ou seja, enquanto os funcionários tiveram um aumento de 200% na contribuição, o banco teve um aumento de apenas 50%.
Além da contribuição do banco, limitada a 3%, ficou estabelecido que ele passaria a arcar com mais 1,5%, correspondente às despesas administrativas. No estatuto anterior, essas despesas eram de total responsabilidade do banco; com a mudança, as despesas extras passaram a ser responsabilidade da Cassi. Como já denunciávamos naquela época, nada demonstrava que a receita extra do banco cobriria essas despesas.
Naquele período, os gastos administrativos da Cassi estavam em torno de 15% da receita total. Ou seja, descontando o 1,5% do banco, a Cassi arcava com cerca de 13,5% das despesas administrativas. Hoje, essas despesas ultrapassam os R$ 500 milhões e são de inteira responsabilidade da Cassi.
Em 2007, houve outra mudança, novamente com o discurso de que a Caixa de Assistência enfrentava dificuldades — narrativa apoiada pela burocracia sindical, pelas pelegas Contec e Anabb. Após uma intensa manipulação, mesmo com o corpo social rejeitando a mudança do estatuto por três vezes, o novo texto foi aprovado. Dentre outras alterações, instituiu-se a cobrança de “coparticipação”, que varia de 10% a 30% sobre eventos de diagnóstico e terapia não vinculados à internação hospitalar. Quanto ao banco, ficou acordado um investimento de R$ 300 milhões na Cassi, em serviços próprios — recursos que o funcionalismo nunca chegou a ver.
Em 2016, mais uma mudança foi aprovada, com aumento de 1% nas contribuições extraordinárias até o final de 2019, novamente com a justificativa de déficit nas contas da Cassi.
Agora, em 2025, está previsto um déficit de cerca de R$ 700 milhões, e é natural que os trabalhadores estejam com a “pulga atrás da orelha” sobre o que está por vir.
Não é de hoje que este Diário e a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, por meio do coletivo Bancários em Luta, vêm sistematicamente denunciando que, por trás das mudanças nos estatutos da Cassi — desde a primeira, com o discurso de que a entidade estava falida e precisava ser capitalizada — até as alterações de 2007 e a última de 2019, sempre com o mesmo argumento, o objetivo tem sido onerar mais os trabalhadores e desonerar o banco. Os números da votação de hoje, no relatório da Cassi, analisados de forma realista, mostram a insatisfação crescente com esse processo.
É preciso reverter esse quadro de paralisia. As organizações de luta dos trabalhadores devem partir para a ofensiva e barrar os ataques desferidos contra a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Os interesses dos grandes capitalistas e banqueiros, nacionais e internacionais, caminham no sentido de liquidar um modelo baseado no princípio da solidariedade — cláusula que une trabalhadores da ativa e protege os aposentados, com ampla cobertura e custeio baseado no sistema mutualista, no qual o conjunto dos participantes contribui com regras iguais e o fundo gerado custeia as despesas assistenciais de cada participante e seus dependentes, cuidando de todo o grupo de acordo com suas necessidades de saúde. É justamente essa espinha dorsal do plano que os capitalistas querem destruir.




