HISTÓRIA DA PALESTINA

Emile Habibi, comunista e jornalista palestino

Figura central da resistência dos árabes de 1948, Habibi foi deputado, editor e romancista, autor do célebre O Pessoptimista, traduzido em mais de 16 idiomas

Emile Habibi nasceu em Haifa, em 1922, numa família protestante palestina. Seu pai, Shukri Habibi, era originário da cidade de Shafa Amr, nas imediações de Haifa, e sua mãe, Warda, era também palestina.

Casado com Nada Habibi, teve três filhos: Rawiya, Juhaina e Salam. Sua formação educacional começou na escola primária do governo em Haifa, seguida pela escola secundária Burj, em Acre, e foi concluída na St. Luke’s, uma escola missionária escocesa localizada em Haifa, onde se formou em 1939.

O despertar político de Habibi ocorreu durante a Grande Revolta Palestina (1936–1939), um levante nacional contra a ocupação britânica e a imigração sionista, duramente reprimido. Em 1940, aos dezoito anos, ingressou no Partido Comunista da Palestina, marco inicial de uma trajetória militante que atravessaria décadas.

Antes de se dedicar exclusivamente à política, trabalhou por um breve período na refinaria de petróleo de Haifa e chegou a tentar um curso universitário à distância pela Universidade de Londres. No início dos anos 1940, mudou-se para Jerusalém, onde trabalhou como locutor da Rádio Jerusalém. Em 1943, abandonou o posto para se dedicar em tempo integral ao Partido Comunista, assumindo a secretaria da organização em Haifa.

Como intelectual e militante, destacou-se desde cedo. Foi membro da Liga dos Intelectuais Árabes, fundada em 1941, e colaborador da revista al-Ghadd. Em 1944, após a cisão interna do Partido Comunista entre judeus e árabes, Habibi foi um dos fundadores da Liga de Libertação Nacional na Palestina (Jabhat al-Tahrir al-Wataniyya), que passou a congregar os militantes comunistas árabes. No mesmo ano, fundou o semanário al-Ittihad, em Haifa, que se tornaria um dos principais órgãos da imprensa comunista árabe sob ocupação sionista.

Dois anos depois, colaborou com outros intelectuais na produção da revista al-Mihmaz, que teve circulação significativa na Palestina, Transjordânia e Iraque, embora tenha durado pouco tempo. A Nakba de 1948 marcou profundamente sua trajetória. Residindo em Ramalá à época, conseguiu retornar a Haifa mesmo após a ocupação sionista da cidade. A partir de então, assumiu a tarefa de integrar os comunistas árabes que permaneceram nos territórios ocupados ao Partido Comunista de “Israel”.

Habibi tornou-se uma das figuras públicas mais conhecidas entre os árabes que permaneceram sob o regime sionista. Entre 1952 e 1972, foi eleito sucessivamente para a Knesset (parlamento israelense) como representante do Partido Comunista, onde denunciava a repressão contra os árabes e lutava pela igualdade de direitos e pela libertação da Palestina. Em 1956, estabeleceu-se em Nazaré, onde viveria até sua morte.

Entre 1972 e 1977, foi editor do al-Ittihad, escrevendo uma coluna semanal sob o pseudônimo “Juhaina”. Também atuou na revista al-Jadid. Em 1977, foi enviado a Praga para representar o partido na revista Problems of Peace and Socialism, publicada por partidos comunistas de vários países. Permaneceu na Tchecoslováquia até 1980. Ao retornar, reassumiu a direção do al-Ittihad, que, sob sua liderança, tornou-se um jornal diário em 1983.

Foi membro do Comitê Central e do Bureau Político do partido até 1989, quando rompeu com a direção por discordar de sua oposição à perestroika de Gorbatchov, que Habibi apoiava. Como resultado, foi destituído da redação do jornal e, em 8 de maio, renunciou a todos os seus cargos partidários. Dois anos depois, em agosto de 1991, anunciou sua saída definitiva do Partido Comunista de “Israel”, declarando que se dedicaria exclusivamente à literatura.

A produção literária de Emile Habibi é amplamente reconhecida no mundo árabe e internacional. Desde os anos 1940, publicava contos e textos jornalísticos. Sua primeira novela, O Sexteto dos Seis Dias, lançada em 1968, obteve atenção entre escritores e críticos árabes.

Em 1974, seu reconhecimento explodiu com As Circunstâncias Estranhas do Desaparecimento de Sa‘id Abu’l Nahs, o Pessoptimista, obra de sátira política aclamada por romper com os paradigmas do romance árabe tradicional. O livro apresenta uma visão crítica e irônica da condição dos árabes sob ocupação sionista, utilizando o sarcasmo como forma de resistência moral e intelectual.

Ao longo dos anos, suas obras foram traduzidas para o russo, inglês, francês, alemão, hebraico e outras línguas. O Pessoptimista foi classificado em sexto lugar na lista dos cem melhores romances árabes, segundo a União de Escritores Árabes em Damasco. Em 1991, a revista al-Majalla, publicada em Londres, elegeu Habibi o escritor mais importante do mundo árabe.

Em 1995, fundou a revista mensal Masharif, publicada simultaneamente em Haifa e Ramalá, demonstrando sua insistência na unidade cultural palestina, apesar da fragmentação territorial e política imposta pela ocupação.

Ao longo da vida, recebeu diversos prêmios literários e culturais, como a Medalha de Jerusalém para Cultura, Artes e Literatura, conferida pela OLP em 1990. Dois anos depois, aceitou o Prêmio de Literatura do Estado sionista, gesto que provocou intensa controvérsia nos círculos culturais árabes. Habibi respondeu à crítica destinando o valor do prêmio à Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, para tratamento de feridos da Primeira Intifada.

Emile Habibi faleceu em 1996, em Nazaré, e foi enterrado em Haifa, como desejava. Sua lápide traz inscrita a frase “Fiquei em Haifa”, reafirmando seu compromisso com a terra e com a resistência.

Seu nome batiza uma praça em Haifa e uma rua em Ramalá. Em 1997, a cineasta Dalia Karpel produziu o documentário Emile Habibi: Fiquei em Haifa, e sua obra completa foi publicada em sete volumes pela editora Arabesque, em Haifa, com edições também lançadas em Beirute, Amã e Ramalá.

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