No último domingo, dia 30, o Partido da Causa Operária (PCO) organizou um ato político na Praça do Patriarca, no centro de São Paulo, em memória dos 61 anos do golpe militar de 1964. O evento, que reuniu militantes e simpatizantes, destacou-se por sua abordagem independente, sem concessões às forças que hoje compõem o regime político, e por sua ênfase no combate à ditadura judicial em curso no país.
Os discursos proferidos pelos oradores chamaram a atenção dos presentes por sua análise profunda da conjuntura política e das relações entre a repressão do passado e do presente. Presente nas duas atividades, Ana Moreno destacou a importância da atividade e da linha política adotada pelo PCO:
“O ato do PCO em memória do golpe de 1964, contra a ditadura de ontem e de hoje, pelo fim da tutela militar no país e em homenagem aos guerrilheiros que lutaram contra o regime de exceção com uma perspectiva revolucionária e socialista foi uma verdadeira aula pública. O partido promoveu uma agitação política no centro da cidade de São Paulo com falas que se dirigiram à população trabalhadora e procuraram demonstrar as relações do atual momento que vivemos com a estrutura repressiva que começou a ser implantada no país no período da ditadura e que se aprofunda em ritmo acelerado após o golpe de 2016, processo este que continua em marcha.”
Outro ponto de destaque na atividade foi a diferenciação clara entre o ato do PCO e outras manifestações ocorridas no mesmo dia. Miguel Palma, presente no evento, apontou a inconsistência de setores da esquerda que participaram de um ato na Avenida Paulista:
“Gostei muito das diversas falas dos companheiros. E o que mais me chamou a atenção foi a clara delimitação do nosso ato em relação ao que ocorreu na Paulista. Nós do PCO e dos Comitês de Luta procuramos deixar claro a interferência do imperialismo aqui no Brasil desde 64 até agora”.
Segundo Palma, a falta de um posicionamento claro da esquerda tem levado a derrotas sucessivas: “o ato da Paulista, mesmo com todo o aparato disponível, mostrou a falta de rumo em que se encontra a maioria da esquerda: há vários anos em que a esquerda não consegue agrupar um número em torno de 7 mil pessoas, e quando consegue, ao invés de denunciar os muitos ataques que os trabalhadores vêm sofrendo, lança a palavra de ordem ridícula de ‘Sem anistia’, ainda com o agravante de que o direito à anistia é uma das bandeiras históricas da esquerda”.
Ao longo das falas, ficou evidente a preocupação dos organizadores e participantes em reforçar a necessidade de um movimento combativo, que não se subordine às forças do regime. Segundo os discursos, os mesmos setores que articularam o golpe de 1964 continuam exercendo influência direta sobre a política nacional, recorrendo agora a novos mecanismos de repressão, como a tutela do Judiciário sobre o poder político.
As atividades do dia foram concluídas com uma palestra no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), abordando o papel do imperialismo no golpe de 1964 e suas consequências para o Brasil e a América Latina. A palestra também ressaltou como a esquerda da época cometeu erros que se repetem nos dias de hoje, especialmente no que diz respeito à conciliação com setores que atuam a serviço do grande capital.
Como destacou Ana Moreno, “as atividades do dia 30 de março foram encerradas com uma palestra didática e bastante incisiva sobre as causas do golpe de 1964, o papel fundamental do imperialismo na série de golpes na América Latina, e os erros da esquerda naquele momento, que coincidem em grande medida com os erros que vemos atualmente nos rumos tomados pela frente ampla da esquerda com os golpistas”.
A discussão levantada na palestra buscou evidenciar um aspecto frequentemente omitido quando se trata do golpe de 1964: o papel central desempenhado pelos monopólios norte-americanos e europeus na derrubada do governo de João Goulart. Enquanto setores da esquerda atual centram sua crítica nos militares, o PCO tem procurado destacar que o golpe e a ditadura subsequente foram, em última instância, promovidos e sustentados pelo imperialismo. Este entendimento é fundamental para a base da esquerda compreender as forças que ainda hoje influenciam o regime político brasileiro e consigam combatê-las.