Nessa segunda-feira (31), a Justiça da França condenou Marine Le Pen, líder da extrema direita do país, por desvio de fundos, impedindo-a de concorrer a cargos públicos por cinco anos. O veredicto efetivamente impediu a atual favorita nas eleições presidenciais de 2027 de participar do pleito, uma medida extraordinária, mas que, segundo a juíza responsável, foi necessária porque ninguém está imune à “violação do Estado de Direito”.
Jordan Bardella, um dos principais aliados de Le Pen, declarou nas redes sociais: “não apenas Marine Le Pen foi injustamente condenada; a democracia francesa foi executada”. Líderes de extrema direita de toda a Europa, incluindo o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, concordaram:
“Je suis Marine!”, declarou Orbán.
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro também criticou a decisão: “esta decisão é claramente um ativismo judicial de esquerda. Onde quer que a direita esteja presente, a esquerda e o sistema trabalharão para tirar seus oponentes do jogo”.
Elon Musk, homem forte no governo de Donald Trump, seguiu a mesma linha: “quando a esquerda radical não consegue vencer pelo voto democrático, eles abusam do sistema legal para prender seus oponentes. Este é seu manual padrão em todo o mundo”.
O ex-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini, também de extrema direita, declarou ainda que “pessoas que têm medo do julgamento dos eleitores são frequentemente tranquilizadas pelo julgamento dos tribunais. Em Paris, eles condenaram Marine Le Pen e gostariam de excluí-la da vida política”.
Mas não foi apenas a extrema direita que criticou a decisão tomada pelo tribunal francês. O governo do nacionalista russo Vladimir Putin também se insurgiu contra a condenação de Le Pen. O porta-voz russo Dmitry Peskov afirmou que “bem, de fato, mais e mais capitais europeias estão trilhando o caminho de atropelar as normas democráticas. Claro, não queremos interferir nos assuntos internos da França, nunca fizemos isso… Mas, em geral, nossas observações das capitais europeias mostram que elas não estão nem um pouco relutantes em ir além da democracia durante o processo político”.
As declarações do governo russo não ocorrem por causa de um alinhamento ideológico entre o nacionalismo russo e a extrema direita europeia. Elas ocorrem porque a Rússia vem acompanhando muito de perto processos semelhantes ocorrendo em seu entorno, no qual as lideranças populares estão sendo impedidas de concorrer por manobras judiciais – que, na prática, nada mais são do que um processo de golpe de Estado.
É o que está acontecendo, neste momento, na Romênia, onde o principal candidato das eleições, Calin Georgescu, encontra-se preso e excluído das próximas eleições presidenciais. Georgescu, não por acaso, é aliado dos russos, o que motivou uma interferência direta do imperialismo no regime romeno para impedir que sua candidatura fosse vitoriosa.
A sentença enfureceu Le Pen. Murmurando a expressão “incrível”, ela deixou rapidamente a sala do tribunal antes do final da audiência. Em entrevista à emissora TF1, Le Pen afirmou que a decisão era uma tentativa “política” de impedi-la. Ela afirmou que milhões de franceses estavam “indignados” e prometeu lutar. “Eu estou eliminada, mas, na realidade, são milhões de franceses cujas vozes foram eliminadas”, disse. Ela também afirmou: “não vou me submeter a uma negação democrática com tanta facilidade”.
Apesar da diferença entre os países – a Romênia é um país atrasado e a França, um país imperialista – os casos de Georgescu e Le Pen são semelhantes. Uma pesquisa de opinião divulgada recentemente mostrou que Le Pen teria 34 a 37% dos votos na próxima eleição, mais de 10 pontos à frente do seu rival mais próximo. O presidente Emmanuel Macron está limitado a dois mandatos e não pode se candidatar novamente.
Le Pen negou qualquer irregularidade no caso que levou à sua condenação, que envolvia acusações de que seu partido, o Reagrupamento Nacional (RN), teria desviado milhões de euros de fundos do Parlamento Europeu entre 2004 e 2016. Le Pen foi condenada não por se enriquecer pessoalmente, mas por supostamente supervisionar um esquema complexo para pagar membros do partido com dinheiro destinado aos assistentes de parlamentares europeus.
O tribunal também sentenciou Le Pen a quatro anos de prisão.
A decisão não afeta seu mandato atual como deputada na Câmara baixa. Porém, se Macron convocar novas eleições, como fez no ano passado, ela não poderá concorrer novamente. Dada a atual paralisia em um parlamento dividido, uma dissolução neste ano é possível.
O regime francês vive uma enorme turbulência política há anos. Chefiado pelo banqueiro Emmanuel Macron, o regime vem se revelando cada vez mais autoritário, como resposta à necessidade do imperialismo de manter uma política de austeridade brutal e de apoio a aventuras militares como a guerra da Ucrânia. No ano passado, Macron dissolveu o parlamento após a vitória arrasadora de Marine Le Pen no parlamento europeu. Nas novas eleições, seu partido teve uma vitória marcante, tornando-se o partido mais votado da França. Em resposta, Macron deu um golpe, nomeando um primeiro-ministro que não correspondia ao resultado das eleições legislativas. Em um movimento inusitado, Le Pen se uniu à esquerda francesa para derrubar o primeiro-ministro de Macron.