Índios de várias aldeias em Alagoas estão sem acesso às aulas desde o início do ano letivo de 2025 devido à falta de transporte escolar. A situação afeta principalmente comunidades localizadas a até dez quilômetros das escolas, como as dos povos Kalankó, Karuazu, Katokin e Koiupanká, no Alto Sertão do estado. Lideranças cobraram uma solução do governo estadual na última semana, em reunião com a secretária de Educação Roseane Vasconcelos, mas até a última terça-feira (18), o problema persiste, comprometendo a educação de cerca de 3 mil alunos atendidos por 17 escolas estaduais voltadas aos índios.
Líder do povo Kalankó, Paulo Kalankó relatou que o ano letivo começou apenas para os alunos mais próximos das unidades escolares. “Iniciamos com poucos estudantes, só os que moram perto, porque os municípios não estão fornecendo transporte. Isso atinge vários povos, e a educação em Alagoas está em péssimas condições”, disse ele ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Ele informou que sete vans seriam necessárias para atender todos os turnos na região de Água Branca, já que caminhonetes, usadas anteriormente, foram proibidas por decisão judicial devido a questões de segurança. A secretária prometeu articular com os municípios uma solução, mas não há prazo definido.
Presidente do Fórum Estadual Permanente de Educação Escolar Indígena, Cícero Jiripankó destacou que a ausência de transporte cria uma “municipalização forçada” da educação dos índios. “O estado investe em infraestrutura em alguns lugares, mas deixa outros sem condições. Sem transporte, os alunos ficam nas escolas municipais, enfrentando preconceito e racismo”, afirmou em entrevista ao CIMI. Ele lembrou que quatro novas escolas foram entregues em 2025, mas a falta de acesso esvaziou salas de aula, apesar da boa estrutura. A Secretaria de Educação (SEDUC) propôs um Processo Seletivo Simplificado em até 60 dias para contratar professores, mas o transporte segue sem resolução.
A SEDUC informou ainda que a responsabilidade pelo transporte escolar é dos estados, conforme a Resolução 05/2012 do Conselho Nacional de Educação, mas os municípios podem atuar via Regime de Colaboração. Em nota ao portal Alagoas 24 Horas publicada na última segunda-feira (17), a pasta afirmou que está “em diálogo com os municípios para regularizar a situação”. Já a imprensa local, noticiou que a aldeia Moxotó Poço da Areia, do povo Jiripankó, em Pariconha, depende de uma escola em Pernambuco, mas a cheia do rio Moxotó impede a travessia. Finalmente, o CIMI informou, em seu perfil oficial no X, que “lideranças cobram transporte escolar para aldeias a até 10 km das escolas em Alagoas, mas o governo estadual não resolve”.