Najib Nassar foi um dos primeiros intelectuais árabes a perceber o perigo representado pelo sionismo na Palestina e a dedicar sua vida à denúncia desse projeto colonial. Jornalista, escritor e ativista político, Nassar usou sua voz para alertar os palestinos sobre a ameaça sionista e defender a unidade nacional árabe. Sua trajetória é marcada pela resistência, perseguições e uma luta incansável em defesa da Palestina.
Origens e formação
Nascido na aldeia de Ayn Unub, no atual Líbano, Nassar cresceu em uma família numerosa, com quatro irmãos e duas irmãs. Recebeu sua educação básica em Shuwayfat e completou o ensino secundário em Suq al-Gharb antes de ingressar na Universidade Americana de Beirute, onde se formou em farmácia. Seu caminho, no entanto, logo tomaria outro rumo.
Após trabalhar como farmacêutico em Safad e no Hospital Escocês de Tiberíades, Nassar percebeu a crescente presença sionista na Palestina e os efeitos devastadores da colonização sobre os camponeses árabes. Esse contato direto com a realidade dos agricultores palestinos o fez abandonar a farmácia e se envolver no jornalismo e na política.
Já em 1905, Nassar iniciou uma campanha para expor os perigos do sionismo, publicando artigos em periódicos como al-Muqattam (do Cairo) e Lisan al-Hal (de Beirute). Com a restauração da Constituição Otomana, ele tomou uma decisão audaciosa: vendeu todas as suas propriedades e adquiriu uma prensa em Beirute. Em 1908, fundou em Haifa o jornal al-Karmel, que rapidamente se tornou uma referência na luta contra o sionismo.
A posição combativa de al-Karmel rendeu a Nassar a ira das autoridades otomanas, que, pressionadas pelos colonos sionistas, fecharam temporariamente o jornal em junho de 1909. No ano seguinte, foi levado a julgamento em Istambul, acusado de incitar divisões sectárias. No entanto, o tribunal não encontrou provas para condená-lo e Nassar foi absolvido.
Em outubro de 1911, ele reuniu seus textos sobre o sionismo no livro O Sionismo: Sua História, Objetivos e Importância, onde analisava o movimento sionista e seus planos de ocupação da Palestina. Para isso, utilizou fontes sionistas, incluindo a Enciclopédia Judaica, demonstrando sua capacidade de análise crítica.
Nassar não se limitava à denúncia: em 1913, propôs a criação de uma “Sociedade Nacional Não-Sionista”, com sede em Nablus, para fortalecer a economia, a agricultura e a organização social árabe frente à colonização sionista. No mesmo ano, combateu acordos entre líderes árabes e sionistas, denunciando-os na imprensa egípcia.
A Primeira Guerra Mundial e a perseguição otomana
Com o início da Primeira Guerra Mundial, Nassar se opôs à entrada do Império Otomano no conflito ao lado da Alemanha, prevendo que isso traria ainda mais problemas para os povos árabes. A consequência foi sua perseguição pelas autoridades otomanas.
Forçado a se esconder, primeiro encontrou abrigo com a família Fahum em Nazaré e depois fugiu para a Transjordânia, onde viveu como pastor junto à tribo dos Sardiyya por dois anos e meio. Quando decidiu se entregar, foi preso e levado a julgamento em Damasco, mas recebeu perdão pouco antes do fim da guerra em 1918.
A luta contra o mandato britânico e o sionismo
Com a ocupação britânica da Palestina, Nassar retornou a Haifa e retomou suas atividades políticas. Reeditou al-Karmel e passou a defender a criação de uma Renascença Econômica Árabe, visando fortalecer a economia palestina e evitar que as terras árabes fossem vendidas a colonos judeus.
Em novembro de 1918, participou da fundação do Partido Árabe, que, apesar de efêmero, refletia a necessidade de uma organização política que combatesse o domínio britânico e o avanço sionista. Depois, integrou as associações Muçulmano-Cristãs, que surgiram em várias cidades palestinas como forma de resistência ao Mandato Britânico.
Em 1920, Nassar defendeu a criação de escritórios de informação árabe na Europa para expor ao mundo os verdadeiros objetivos do sionismo. Ao mesmo tempo, continuou denunciando a venda de terras para os colonos sionistas e conclamando os palestinos à unidade nacional.
Participou ativamente dos Congressos Nacionais Palestinos. No Terceiro Congresso, realizado em Haifa em dezembro de 1920, defendeu a criação de comitês de camponeses e trabalhadores para enfrentar a expansão colonial. No Quarto Congresso, realizado em Jerusalém em 1921, representou a Associação Muçulmano-Cristã de Haifa e reafirmou a necessidade de uma frente ampla contra o sionismo.
Ao longo do período do Mandato Britânico, al-Karmel permaneceu como um dos principais jornais de resistência ao sionismo, apesar das constantes perseguições. Nassar e sua esposa Sadhij, foram incansáveis nessa luta. Em 1938, Sadhij foi presa sob a acusação de fornecer armas para os combatentes árabes e passou um ano na prisão. O jornal sofreu diversas suspensões até ser fechado definitivamente pelos britânicos em 1944, com base nas leis de emergência impostas em 1939.
Os últimos anos de Nassar foram marcados por um sentimento de amargura ao ver suas previsões se concretizarem. Ele dividia seu tempo entre sua casa em Balad al-Shaykh e Baysan, visitando familiares e cuidando de um pomar de bananas.
Morreu em Nazaré em 3 de março de 1948, pouco antes da ocupação de Haifa e da aldeia de Balad al-Shaykh pelas forças sionistas, escapando assim de testemunhar a Nakba (palavra árabe que significa “Catástrofe”) e a destruição de sua terra natal.