Na última sexta-feira, dia 14, o presidente Luís Inácio Lula da Silva denunciou, em Sorocaba, uma alta inflacionária gigantesca sobre o preço dos ovos no último mês, que não teria razão de ser. O presidente deu explicações sobre uma série de possíveis alternativas, demonstrando por que não parece ser um movimento fruto de flutuações naturais no mercado:
“Nós estamos com um problema de alimentos, que vocês já sabem que tem. O ovo está caro. Até hoje eu não encontrei uma explicação do porquê que o ovo está caro.”
“Eu fiz um estudo e descobri o seguinte: em janeiro de 2003 a caixa de ovos com 30 dúzias custava R$ 144,15; em janeiro de 2024 essa mesma caixa de ovo custava R$ 143,09; em janeiro de 2025, janeiro agora, essa caixa de ovo custava R$ 144,05, o mesmo que custava em janeiro de 2003. E em fevereiro, ela subiu pra R$ 210! Eu estou querendo descobrir onde é que teve um ladrão que passou a mão no direito de comer ovo do povo brasileiro. […] Porque não é possível num mês subir de 140 para 210.”
“Alguns dizem para mim: ‘é porque aumentou a exportação e o dólar tá caro’ [aumento de mais de 50% na exportação]. Tudo bem que o cara que vai exportar ele vai ganhar mais porque vai ganhar em dólar, mas o que ficou aqui não tem que subir de preço. Nós só exportamos 0,9%, menos de 1% dos 59 bilhões de ovos [projeção para a produção nacional este ano]. Por que subiu o ovo?”
“Ah, porque fez muito calor, e a galinha diminui os ovos tudo quando tem muito calor. Mentira. Porque calor fez no ano passado, porque no final do ano agora choveu bem […], então as galinhas não reclamaram, então alguém está sacaneando as galinhas.”
“Nós estamos em uma tarefa muito grande, o presidente da República, o ministro da Fazenda, porque nós queremos encontrar quem é o pilantra que aumentou o ovo tanto. Não é possível.”
Explicações que não explicam
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), associação de produtores, o custo de produção subiu e acumula alta significativa nos últimos oito meses, com aumento de 30% no preço do milho, usado como ração para as galinhas, e uma subida acumulada superior a 100% nos custos de embalagens. Isto, no entanto, não explica o aumento repentino nos preços, já que os números citados são acumulados de oito meses.
Ainda segundo a entidade, outro motivo para a escalada é a Quaresma, quando a população católica reduz o seu consumo de carne vermelha, destacadamente às sextas-feiras, e seria uma “situação sazonal”, comum ao período pré e durante a Quaresma, que acontece em abril. O não consumo de carne às sextas por um setor da população aparece como algo ao menos estranho para explicar a alta vertiginosa nos preços, de outra proporção. Conforme a ABPA, a subida deve perdurar até o fim da Quaresma.
Segundo Tabatha Lacerda, diretora administrativa do Instituto Ovos Brasil (IOB), que também reúne empresas e associações de produtores, o custo de produção seria uma possível causa, junto à Quaresma que, contudo, teria demonstrado seu efeito antes do esperado e seria “uma surpresa”.
Uma outra explicação seria o aumento nas carnes, que impulsiona o consumo do ovo, tradicional na alimentação da população mais pobre especialmente em períodos de perda no valor da renda. Ainda em fevereiro, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) havia alertado para a alta no preço dos ovos, apontando o preço das carnes como um incrementador da demanda.
Também na última sexta-feira, dia 14, o Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, aprovou a redução a zero dos impostos de importação sobre uma série de alimentos: carnes, café torrado e café em grão, milho, azeite de oliva, óleo de girassol, açúcar, massas alimentícias, bolachas e biscoitos, sardinha (até 7,5 mil toneladas), óleo de palma (aumento da cota de importação de 60 mil para 150 mil toneladas).
Frente a aumentos constantes no preço dos alimentos, à exceção dos ovos motivados pela exportação combinada à alta do dólar, o governo Lula precisa tomar uma posição em defesa dos trabalhadores brasileiros, e de sua própria popularidade, que depende disso. Se a inflação corrói o poder da população mais pobre de se alimentar, cabe ao governo estabelecer limites progressivamente mais restritos às exportações e, em caso de agravamento da situação, implementar uma política de controle de preços dos alimentos.