O economista Mark Carney assumiu oficialmente o cargo de primeiro-ministro do Canadá nesta sexta-feira (14), após prestar juramento em uma cerimônia realizada em Ottawa. Ele substitui Justin Trudeau, que esteve à frente do governo canadense por mais de nove anos. A posse ocorreu diante da governadora-geral Mary Simon, representante formal do rei Charles III no país.
Junto a Carney, também tomaram posse os membros do novo gabinete, que mantém grande parte dos ministros do governo anterior. Em sua primeira declaração após a posse, o novo primeiro-ministro enfatizou que o Canadá necessita de um governo “adequado ao propósito”. “Os canadenses esperam que ajamos, e é isso que nossa equipe fará”, escreveu Carney, líder do Partido Liberal, nas redes sociais.
O economista, que já comandou o Banco do Canadá e o Banco da Inglaterra, está sendo elogiado pela imprensa burguesa e caracterizado como uma pessoa competente para lidar com a crise econômica e as tarifas comerciais dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump. Em discurso anterior, ele denunciou o impacto das políticas protecionistas da Casa Branca na economia canadense, afirmando que defenderá a soberania do país contra eventuais tentativas de anexação, mencionadas pelo presidente norte-americano. “Nunca, de forma alguma, faremos parte dos Estados Unidos”, afirmou durante seu discurso de posse.
Após a cerimônia, conversando com jornalistas, afirmou estar disposto a dialogar com o presidente dos Estados Unidos: “respeitamos o presidente Trump. [Ele] colocou algumas questões muito importantes no topo de sua agenda. Entendemos sua agenda”. Além disso, disse saber que ele e Trump podem “encontrar soluções mútuas que beneficiem a ambos”.
Além da disputa com Trump, o novo governo liberal enfrenta dificuldades internas. O Partido Liberal, atualmente em minoria na Câmara dos Deputados, pode ser forçado a convocar eleições antecipadas. Caso Carney decida manter o Parlamento em funcionamento, a oposição — formada pelo Partido Conservador, pelo Novo Partido Democrático e pelo Bloco Quebequense — poderá apresentar uma moção de desconfiança para derrubar o governo.
Quem é Mark Carney
A chegada de Mark Carney ao cargo de primeiro-ministro marca um fato inédito na política canadense: ele é o primeiro líder do país sem qualquer experiência política anterior. Economista de 59 anos, Carney foi eleito recentemente como líder do Partido Liberal e governará nos próximos meses até a realização de novas eleições.
Formado pela Universidade Harvard, ele construiu sua carreira no setor financeiro, trabalhando por 13 anos no banco norte-americano Goldman Sachs antes de ingressar na administração pública. No comando do Banco do Canadá, foi um dos principais responsáveis pela condução da economia do país durante a crise do imperialismo em 2008. Posteriormente, tornou-se o primeiro estrangeiro a liderar o Banco da Inglaterra durante o período do Brexit.
Além de sua trajetória no setor financeiro, Carney atuou como enviado especial da ONU para ação climática e finanças em 2019. Antes de disputar a liderança liberal, comandava uma empresa canadense de especulação. Sua política durante a campanha interna do Partido Liberal foi marcada por críticas à política comercial dos Estados Unidos, prometendo medidas de retaliação contra as tarifas impostas por Trump.
A renúncia de Trudeau e a crise do Partido Liberal
A posse de Carney ocorre pouco mais de dois meses após o anúncio da renúncia de Justin Trudeau, em meio a pressões dentro do Partido Liberal. No dia 6 de janeiro, Trudeau declarou que deixaria o cargo assim que um sucessor fosse escolhido, justificando sua saída pelas dificuldades de liderança diante das disputas internas da legenda.
A crise liberal se aprofundou após a renúncia da ex-ministra das Finanças e vice-primeira-ministra Chrystia Freeland, em dezembro de 2024. Freeland foi alvo de controvérsias devido ao seu histórico familiar e divergências sobre a resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos. O desgaste político de Trudeau também se intensificou com a crescente insatisfação popular em relação a medidas impopulares, como o imposto sobre carbono, a repressão a protestos e as políticas de imigração.
Com a ascensão de Carney, o Partido Liberal tenta reverter sua queda nas pesquisas, que apontam um cenário de disputa acirrada com os conservadores na eleição geral prevista para outubro. Se optar por dissolver o Parlamento e convocar o pleito antecipadamente, Carney terá de enfrentar uma corrida eleitoral com a popularidade da legenda fragilizada e a possibilidade de um governo conservador em breve.