Nascido em Tulcarém, no coração da Palestina histórica, Sa‘id al-Karmi cresceu em uma família conhecida por seu envolvimento cultural. Desde cedo, foi enviado ao Cairo para estudar na prestigiosa Al-Azhar, onde recebeu formação religiosa e linguística. No Egito, teve contato com importantes pensadores reformistas do mundo islâmico, como Jamal al-Din al-Afghani e Muhammad Abduh, cujas ideias inspirariam sua trajetória intelectual e política.
Ao retornar à Palestina, al-Karmi se tornou inspetor escolar e, posteriormente, mufti do distrito de Tulcarém. Essa posição lhe permitiu influenciar a formação da juventude palestina e consolidar a educação como um instrumento de resistência contra a dominação estrangeira.
Atuação política e repressão otomana
A restauração da Constituição Otomana em 1908 reacendeu as aspirações nacionalistas árabes, e al-Karmi rapidamente se engajou nessa luta. Tornou-se uma figura-chave no Partido Otomano para a Descentralização Administrativa, fundado no Cairo em 1912, e liderou a organização no distrito de Bani Saab, que incluía Tulcarém e Qalqiliya.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano, temendo a crescente mobilização dos árabes por autonomia, perseguiu duramente os nacionalistas. Al-Karmi foi preso e condenado à morte em 1915, junto com outros militantes nacionalistas sírio-árabes. No entanto, sua execução foi suspensa devido à sua idade, e ele teve sua pena comutada para prisão perpétua, sendo encarcerado na Cidadela de Damasco. Ficou detido por mais de dois anos até ser libertado em 1918, após a intervenção de aliados na causa árabe.
Após sua libertação, al-Karmi continuou seu trabalho como intelectual e educador. Foi convidado a integrar o recém-criado governo árabe de Damasco em 1918, onde desempenhou um papel central na revitalização da língua árabe, promovendo sua modernização e consolidação como idioma oficial da administração pública. Participou da fundação da Academia Árabe de Ciências e chegou a presidir interinamente a instituição por dois anos.
O compromisso de al-Karmi com a educação e a cultura árabe não se restringiu à Síria. Ele participou do Primeiro Congresso Nacional Palestino, em 1919, fortalecendo a resistência intelectual contra a ocupação estrangeira e promovendo a unidade árabe na luta pela autodeterminação.
Últimos anos e legado
Nos anos seguintes, al-Karmi continuou a desempenhar papéis administrativos e educacionais em diversas partes do mundo árabe, passando por Amã, onde foi chefe da Justiça e do Conselho Educacional, antes de retornar a sua cidade natal, Tulcarém. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se ao ensino.
Morreu em 1935, aos 83 anos.Apesar de ter produzido relativamente poucas obras escritas, sua influência foi imensa, especialmente no campo da linguística, da educação e da política. Seu filho, Abd al-Karim al-Karmi, mais tarde publicou uma biografia sobre sua vida, resgatando sua importância como poeta e intelectual.