No dia 11 de março de 1975, há exatos 50 anos, os setores mais reacionários das forças armadas e da burguesia portuguesa tentaram derrubar os avanços da Revolução dos Cravos, em um golpe fracassado que acabou acelerando ainda mais o processo revolucionário no país. A tentativa de contra-revolução foi liderada pelo general António de Spínola, um dos chefes do regime salazarista que, após a derrubada da ditadura, procurou reorganizar as forças da direita para frear as conquistas populares. O golpe, no entanto, foi derrotado pela mobilização dos trabalhadores, soldados e militantes de esquerda, que tomaram as ruas e garantiram a continuidade do avanço revolucionário.
Após a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, que derrubou a ditadura fascista do Estado Novo e pôs fim à guerra colonial, Portugal entrou em um processo revolucionário profundo, com ocupações de fábricas, nacionalizações de setores estratégicos e forte organização popular. Esse avanço, no entanto, encontrou resistência das camadas burguesas que temiam a radicalização da revolução.
O general Spínola, primeiro presidente do novo regime, havia sido afastado do poder em setembro de 1974, após fracassar em suas tentativas de conter a revolução. Exilado na Espanha franquista, passou a conspirar com setores militares descontentes e forças da direita tradicional, organizando um golpe para restabelecer a ordem burguesa. Para isso, contou com o apoio da rede terrorista de extrema direita ELP (Exército de Libertação de Portugal) e do grupo MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal), além de tentativas de articulação com governos imperialistas.
Na manhã de 11 de março de 1975, unidades militares leais a Spínola tentaram tomar pontos estratégicos em Lisboa e derrubar o governo do Movimento das Forças Armadas (MFA). A ação principal aconteceu no Regimento de Polícia Militar da Ajuda, onde oficiais direitistas tentaram mobilizar tropas contra o governo. Spínola esperava que o movimento se espalhasse, mas enfrentou uma resistência imediata.
O golpe encontrou forte oposição dentro das próprias Forças Armadas. Soldados e oficiais revolucionários se recusaram a aderir à intentona e passaram a prender os golpistas. Paralelamente, o movimento popular entrou em cena: milhares de trabalhadores saíram às ruas, organizaram barricadas e cercaram os pontos onde os reacionários tentavam agir. Os quartéis insurgentes foram rapidamente neutralizados, e Spínola foi obrigado a fugir para o Brasil, onde recebeu abrigo da ditadura militar brasileira.
O fracasso da tentativa de golpe teve consequências explosivas. Com a traição dos setores burgueses exposta, o Movimento das Forças Armadas e as organizações populares avançaram na nacionalização de bancos e indústrias, expropriando diretamente os grandes capitalistas que haviam apoiado Spínola. Em poucos meses, cerca de 70% da economia portuguesa passou para controle estatal, consolidando uma das maiores ondas de nacionalização já vistas na Europa.
Além disso, o episódio fortaleceu a organização popular, com a criação de Conselhos Revolucionários em empresas e bairros operários, radicalizando ainda mais o processo. O Partido Comunista Português (PCP) e setores da esquerda radical ampliaram sua influência, tornando-se protagonistas na luta contra qualquer retrocesso.
A tentativa de golpe de 11 de março de 1975 demonstrou que os setores reacionários estavam dispostos a tudo para deter a Revolução dos Cravos, mas também revelou que a mobilização popular e o avanço das forças revolucionárias eram a única garantia de derrotar a burguesia e suas conspirações. A resposta do movimento operário e dos soldados revolucionários foi exemplar: ao invés de recuar, aprofundou-se a revolução e se atacaram diretamente os interesses da classe dominante.
Cinco décadas depois, o episódio segue como um exemplo concreto de que não há conciliação possível com a burguesia. Sempre que a classe trabalhadora avança, os capitalistas tentam restabelecer sua dominação à força. O golpe fracassado de Spínola é uma lição de que apenas a mobilização revolucionária pode garantir as conquistas do povo, impedindo que a reação tente reverter os avanços conquistados.