No dia 31 de março, completam-se 61 anos desde o golpe militar de 1964, que derrubou o governo nacionalista de Jango. Este foi, provavelmente, o pior acontecimento da história do Brasil, pois representou o assassinato da Revolução de 1930, que estava transformando o país em uma verdadeira potência. Depois do golpe, a nação nunca se recuperou: foi completamente tomada pelo imperialismo, que impede qualquer desenvolvimento nacional. Os militares, lacaios dos EUA, continuam sendo um dos maiores problemas do Brasil. Todos os anos, eles comemoram o dia mais obscuro da nossa história. Por isso, a esquerda deve tomar as ruas em protesto contra a tutela militar sobre o regime político!
O golpe militar de 1964 é amplamente mal compreendido, inclusive pela esquerda nacional. Filmes como “Ainda Estou Aqui” mostram um aspecto da Ditadura Militar, que foi a repressão fascista imposta ao país. No entanto, sendo um filme ligado à Rede Globo e ao Itaú, não revela o caráter principal do regime: a ditadura foi o freio e o assassinato do que havia surgido com a Revolução de 1930, que transformou o Brasil de uma grande fazenda de latifundiários de café na nação mais industrializada fora dos países imperialistas e da URSS.
Essa revolução foi tão profunda que, mesmo durante o regime militar, a indústria nacional continuou crescendo. Contudo, a ditadura impôs um freio a esse crescimento, e o neoliberalismo foi o golpe final que levou a indústria nacional a decrescer. Mas foi apenas com o golpe de 1964 que se tornou possível impor o neoliberalismo no Brasil. Isso porque a essência do golpe não foi o governo militar em si, mas sim o controle total do regime político pelo imperialismo. As greves operárias que derrubaram a ditadura foram incapazes de romper esse controle imperialista sobre o Brasil.
Um dos aspectos centrais dessa dominação são justamente as forças armadas. Na prática, todo o comando militar do país está a serviço dos norte-americanos. Nem sempre foi assim: essa subordinação começou com o golpe de 1964. Na década de 1950, por exemplo, militares nacionalistas ajudaram a criar a Petrobrás, algo inimaginável atualmente. Outros setores impediram um golpe de Estado em 1955. Essa ala nacionalista foi completamente expurgada logo após o golpe.
Mesmo sob o regime “democrático”, as forças armadas continuam sendo uma ameaça constante ao país. Caso o imperialismo esteja em desacordo com o governo, elas ameaçam ou até mesmo entram em ação. Durante o golpe de 2016 e no processo da prisão de Lula, esses militares articularam toda a intervenção imperialista. O homem forte do governo Temer era o general Etchegoyen. Villas Bôas, o comandante das forças armadas, participou diretamente da prisão de Lula.
Essa casta de generais segue encastelada no poder. Eles não estão na dianteira da política porque Lula não assume uma postura de combate ao imperialismo. Mas, se isso acontecesse, seriam uma ameaça permanente ao governo. Essa ameaça, na verdade, é um dos fatores que impede que Lula adote uma política mais nacionalista. Os militares, a imprensa burguesa e os banqueiros são as principais forças que impõem uma camisa de força ao governo do PT.
Só a luta pode acabar com a tutela dos militares
O imperialismo organiza uma campanha cujo principal alvo é o ex-presidente Jair Bolsonaro. Querem retirá-lo da eleição para que possam escolher o candidato da direita. Com isso, há uma certa campanha na imprensa burguesa contra os militares, mas de forma farsesca, sem realmente combater a tutela militar sobre o Brasil.
A imprensa fala muito dos golpistas do 8 de janeiro, um golpe de Estado que não aconteceu. No entanto, a política correta, que seria derrubar todos os golpistas do poder, poderia sim ser aplicada em relação aos golpes de 2016 e 2018. Se essa política fosse levada adiante, resultaria na derrubada não apenas de Braga Netto, mas de todos os generais do Brasil. Além deles, boa parte dos ministros do STF, os empresários da imprensa burguesa e parte do Congresso Nacional também seriam atingidos.
Ou seja, a campanha “contra os golpistas” da imprensa burguesa está longe de ser um real enfrentamento aos militares golpistas. Isso tem uma explicação simples: não se trata de um ou outro general golpista no Brasil, mas sim de uma instituição militar que, como um todo, é golpista. Por isso, também é tão fácil encontrar documentos dos militares falando sobre golpes — eles representam uma ameaça permanente. A conclusão que a esquerda deveria tirar desses vazamentos, portanto, não deveria ser nenhuma novidade: é preciso exonerar todos os generais, almirantes e brigadeiros do país e reformar completamente as forças armadas.
Um dos motivos pelos quais a Venezuela é tão demonizada é porque é um dos poucos países da América Latina onde isso aconteceu. Os militares tentaram dar um golpe em 2002, mas foram derrotados pelos trabalhadores e, assim, caíram. Nos demais países que enfrentam o imperialismo, também não há militares golpistas — é o caso da Rússia, da China, do Irã, etc. Ou seja, para um país crescer, ter prosperidade e conquistas para os trabalhadores, é preciso expurgar a casta de militares pró-imperialistas do governo.
Prender Bolsonaro sozinho não muda essa situação. O bloco político que está prendendo Bolsonaro não é a esquerda, não são os trabalhadores — é o mesmo bloco que impôs a ditadura militar de 1964, o grande capital imperialista. Se acharem necessário e possível, eles lançarão novamente as forças armadas contra os trabalhadores para alcançar seus interesses. Não é algo distante da realidade: em 2022, o imperialismo orquestrou um golpe militar no Peru, vizinho do Brasil.
Só existe uma força política capaz de derrotar os militares: a classe operária. Por isso, o PCO está convocando mais uma vez uma grande manifestação contra a tutela dos militares sobre o país. No domingo (30), caravanas de todo o Brasil estarão em São Paulo realizando uma das mais importantes manifestações do ano. Não adianta falar em uma abstrata “luta contra os golpistas” em coro com a imprensa burguesa. É preciso derrubar os golpistas! Derrubar todos os generais lacaios dos norte-americanos!