Em pronunciamento à nação nessa quarta-feira (5), o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que está disposto a oferecer proteção a aliados com base em suas forças nucleares, em claro desacordo com a política do governo norte-americano de pôr fim à ajuda militar à Ucrânia.
“Respondendo ao chamado histórico do futuro chanceler alemão [Friedrich Merz], decidi abrir o debate estratégico sobre a proteção de nossos aliados no continente europeu por meio de nossa dissuasão [nuclear]. Aconteça o que acontecer, a decisão sempre esteve e permanecerá nas mãos do Presidente da República, chefe das Forças Armadas”, disse. Cabe ressaltar que, após a saída do Reino Unido, a França é o único país da União Europeia com um arsenal nuclear.
Ele ainda afirmou que a Rússia representa uma ameaça à segurança do continente:
“Quem pode acreditar que a Rússia irá parar na Ucrânia? A Rússia tornou-se, enquanto falo com vocês e nos próximos anos, uma ameaça para a França e a Europa.”
A declaração de Macron ocorre em meio à decisão do governo de Donald Trump de suspender o compartilhamento de inteligência com a Ucrânia, além da interrupção da assistência militar, que vinha sendo garantida desde o início do conflito. Com a medida, o presidente norte-americano visa forçar o presidente ucraniano, o ditador sem mandato Vladimir Zelensqui, a aceitar os termos do acordo costurado com o presidente russo, Vladimir Putin.
Apesar da pressão, Macron defendeu a continuidade da guerra e a necessidade de um compromisso de longo prazo com o exército ucraniano. Ele também sugeriu a possibilidade de envio de tropas europeias para a região, afirmando que “certamente exigirá apoio de longo prazo ao exército ucraniano e poderia potencialmente envolver o envio de forças europeias”. No entanto, garantiu que essas tropas não participariam diretamente dos combates, mas ajudariam a “garantir a paz” uma vez que um acordo fosse alcançado.
A política de Macron expressa a crescente tensão entre os líderes europeus, todos eles capachos do imperialismo, e o governo Trump, cuja base social está em choque com a política externa dos grandes monopólios. Indo na contramão das medidas tomadas por Trump, que visam diminuir os custos com as forças armadas, Macron enfatizou a necessidade de investimentos mais robustos em defesa e na criação de uma “força dissuasória” na Europa. “Para permanecer um espectador nesse mundo perigoso, seria uma loucura”, declarou o presidente francês, argumentando que a segurança da Europa não pode depender exclusivamente dos Estados Unidos.
A posição de Macron também está alinhada com a do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que, nos últimos dias, reforçou o compromisso do Reino Unido com o apoio à guerra da Ucrânia. Ambos os chefes de Estado têm tentado atenuar o impacto do distanciamento norte-americano e demonstrar que a Europa está disposta a assumir um maior protagonismo na questão.
A França, mesmo sendo uma potência nuclear, não tem capacidade real de substituir os EUA na defesa europeia. O exército francês é infinitamente mais fraco, a quantidade de ogivas nucleares é muito inferior à da Rússia e a crise social em que a França se encontra pode obrigar Macron a rapidamente abandonar a ideia de aumentar os custos com a guerra.
Enquanto isso, o governo ucraniano tem buscado formas de manter o apoio europeu e reagir à mudança de política dos Estados Unidos. Em uma publicação nas redes sociais, Zelensqui agradeceu a Macron por sua “visão clara” e pelos “esforços conjuntos para a paz”. O presidente ucraniano insistiu que um acordo com a Rússia só poderia ser alcançado com “garantias de segurança fortes e duradouras para a Ucrânia, a Europa e o mundo inteiro“.
Macron também anunciou que a França sediará uma reunião de chefes militares europeus na próxima semana para discutir futuras estratégias de defesa. O encontro servirá para alinhar as posições dos aliados europeus diante da política que vem sendo adotada por Donald Trump.
O discurso de Macron revela o desespero do imperialismo com a questão da Ucrânia. A vitória de Donald Trump nas eleições de 2024 expressou o imenso descontentamento social nos Estados Unidos com a política externa do Partido Democrata. A política de ingerência estrangeira, junto à política neoliberal no próprio país, despejou milhões de trabalhadores nas ruas. O recuo de Trump nas guerras, no entanto, causa um outro problema: na medida em que os Estados Unidos desistem de levar adiante as suas guerras brutais, sua autoridade como xerife do planeta vai desabando.
O acordo que Trump propõe é uma rendição a Vladimir Putin. Levantará a cabeça de todos os oprimidos e tornará a dominação imperialista muito mais complicada. E é isso que Macron, Starmer e os demais líderes europeus temem. Eles todos são políticos extremamente impopulares, que só conseguiram se eleger por causa do apoio do imperialismo. Se o imperialismo se mostra fraco, esses governos serão vistos como fragilizados.