O governo alemão está buscando maneiras de impedir a retomada do gasoduto Nord Stream 2, mesmo quando as negociações entre Rússia e Estados Unidos tornam cada vez mais realista a possibilidade de reativação do projeto.
De acordo com o jornal Bild, Richard Grenell, enviado especial dos EUA, fez visitas não oficiais à Suíça para discutir a reativação do gasoduto, com o governo norte-americano intermediando o fornecimento de gás russo através do Nord Stream 2 e a possível reconstrução do Nord Stream original.
Supostamente, investidores dos EUA estão pressionando pela ativação do gasoduto russo como um possível trunfo nas negociações de paz na Ucrânia, com a intermediação de Matthias Warnig, ex-executivo do Nord Stream 2.
O gasoduto, que nunca chegou a ser utilizado, poderia representar uma reviravolta caso fosse finalmente ativado – um movimento que alguns interpretam como um reflexo do quanto o governo norte-americano estaria disposto a reconsiderar sua postura diante da Rússia.
Rumores indicam que o acordo incluiria os EUA atuando como intermediários na distribuição de gás através do Nord Stream 2, além da reconstrução do gasoduto Nord Stream original para o transporte de hidrogênio verde da Finlândia.
Segundo o Financial Times, a proposta envolve empresários norte-americanos entrando em contato com a Casa Branca em esforços de bastidores para negociar a paz na Ucrânia. Há indícios de que um consórcio de empresários dos EUA já elaborou um acordo pós-sanções com a Gazprom, proprietária do Nord Stream 2.
Enquanto isso, o governo alemão segue obstinado em manter o gás fechado, ignorando os interesses do próprio povo, que sofre com a alta nos preços da energia e com os impactos econômicos dessa política.
Explosão criminosa do gasoduto
Em setembro de 2022, os gasodutos Nord Stream foram alvo de um ataque criminoso com explosivos subaquáticos, resultando em um vazamento catastrófico. Apenas uma das linhas do Nord Stream 2 permaneceu intacta, mas, apesar da possibilidade de utilizá-la para atenuar a crise energética, o governo alemão se recusa a fazê-lo, temendo represálias políticas e sanções impostas por seus próprios aliados.
O jornalista estadunidense Seymour Hersh publicou, em fevereiro de 2023, um artigo investigativo apontando que a explosão dos gasodutos Nord Stream foi orquestrada pelos Estados Unidos, com apoio de aliados da OTAN. Segundo a reportagem, mergulhadores da Marinha dos EUA teriam instalado os explosivos durante exercícios militares da Aliança em junho de 2022, cabendo às forças norueguesas a ativação das bombas três meses depois.
Um breve histórico
2005: O governo alemão, sob a gestão do então chanceler federal social-democrata Gerhard Schröder (SPD), juntamente com o governo russo, já sob a presidência de Vladimir Putin, assina uma declaração de intenção para construir o gasoduto Nord Stream 1, destinado a levar gás da Rússia para a Alemanha através do Mar Báltico. As primeiras propostas para o projeto já haviam sido feitas na década de 1990.
2006: É fundada a empresa Nord Stream AG para planejar e implementar o projeto. A estatal russa Gazprom e vários fornecedores europeus de energia se envolvem no empreendimento, pois não só a Alemanha, mas também outros países europeus, têm interesse no fornecimento de gás russo.
2010: Começa a construção do Nord Stream 1. O gasoduto de tubo duplo, cada um com 1.224 quilômetros de extensão, conecta Wyborg, na Rússia, a Lubmin, no estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
2011/2012: Os dois tubos entram em funcionamento, e a operadora informa que eles deverão abastecer a Europa com gás por pelo menos 50 anos. Os custos de construção somam 7,4 bilhões de euros.
2013: Inicia-se o planejamento do Nord Stream 2: duas linhas adicionais de 1.250 km de extensão, que funcionarão paralelas às tubulações já existentes entre a Rússia e a Alemanha.
2015: São assinados os primeiros contratos do Nord Stream 2. A Gazprom e vários fornecedores europeus de energia voltam a se envolver no projeto. Apenas um ano antes, a Rússia havia anexado a Crimeia.
2016: Desde o início, Ucrânia, Polônia e os Estados Bálticos, em especial, se posicionam contra o Nord Stream, alegando preocupações com a segurança. Após a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, a resistência norte-americana ao projeto também aumenta. Trump faz advertências contra a dependência excessiva da Alemanha do fornecimento de energia russa.
2018: Inicia-se a construção do Nord Stream 2. A chanceler Angela Merkel admite, pela primeira vez, que o gasoduto não se trata apenas de um projeto do setor privado e que “é claro que fatores políticos também devem ser levados em consideração”. No entanto, parar o projeto está fora de questão para a Alemanha.
2019: Os EUA aumentam a pressão, ameaçando impor sanções. Richard Grenell, então embaixador dos EUA na Alemanha, envia cartas ameaçadoras para empresas alemãs envolvidas no Nord Stream.
22 de fevereiro de 2022: Na iminência da operação especial russa, o chanceler Olaf Scholz ordena a suspensão da certificação do Nord Stream 2, interrompendo assim o processo de aprovação do projeto.
24 de fevereiro de 2022: A Rússia inicia a operação especial na Ucrânia. O fornecimento de gás via Nord Stream 1 continua, mas devido às sanções da União Europeia contra a Rússia, o volume recebido pelos Estados-membros é reduzido.
Julho/agosto de 2022: A Rússia fecha o Nord Stream 1, alegando necessidade de manutenção. No final de agosto, o fornecimento é completamente interrompido. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declara que o fluxo de gás só será retomado quando as sanções contra a Rússia forem suspensas.
26 de setembro de 2022: Ambos os trechos do gasoduto Nord Stream 1 e um dos dois trechos do Nord Stream 2, próximos à ilha dinamarquesa de Bornholm, explodem. Alemanha, Dinamarca e Suécia iniciam investigações.
2023: Com o tempo, várias teorias surgem sobre os responsáveis pelos ataques. O jornalista investigativo americano Seymour Hersh afirma que os EUA e a Noruega foram os responsáveis pela explosão dos gasodutos.
Agosto de 2024: A Procuradoria-Geral alemã emite uma ordem de prisão contra um ucraniano por suspeita de envolvimento na sabotagem. Segundo a imprensa alemã, o suspeito foi visto pela última vez na Polônia e, desde o começo de julho, estaria na Ucrânia. As autoridades polonesas afirmam que a fuga do suspeito foi possível porque a Alemanha não havia incluído seu nome na lista de procurados em todo o espaço Schengen.