O filme Sem Chão foi o vencedor da categoria melhor documentário do Óscar de 2025. O filme, idealizado pelo jornalista e cineasta palestino Basel Adra, denuncia com crueza a prática genocida de colonização e apagamento do povo palestino por parte de “Israel”.
O longa é codirigido por Adra, pelo palestino Hamdan Ballal e pelos israelenses Yuval Abraham e Rachel Szor. Apesar da produção ser a primeira com diretores palestinos a ser premiada, ela vem sendo classificada como “palestino-israelense”, e não simplesmente palestina. Após 15 meses de genocídio em território palestino, que provocou mobilizações em todo o mundo Óscar se viu obrigado a fazer algum tipo de demagogia com a questão, de modo a não ver sua popularidade despencar.
É razoável dizer, portanto, que o filme só foi premiado porque tinha em sua equipe sionistas, que foram colocados na produção para diminuir o impacto da denúncia e para defender a política de “dois Estados”. Yuval Abraham, em vários momentos, se mostrou um inimigo do povo palestino, caluniando abertamente a vanguarda de sua resistência, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).
Sem Chão se passa ao longo de 4 anos, reunindo filmagens de 2019 a 2023 (dias após a Operação Dilúvio de Al-Aqsa no dia 7 de outubro de 2023). O filme segue a história de Adra e de como, ao longo de todo a sua vida e principalmente ao longo destes 4 anos, os sionistas vem utilizando da força e do assassinato de milhares de pessoas para ocupar a região de Masafer Yatta, na Cisjordânia.
A linguagem cinematográfica crua e – até certo ponto – amadora do filme retrata de forma emocionante o quanto a ocupação sionista é vil e o seu impacto na vida de milhões de palestinos. As filmagens de Adra ressaltam aos olhos dos espectadores e nos aproxima da realidade vivida pelos palestinos. Momentos como a demolição de uma escola palestina pelos sionistas, soldados israelenses enchendo poços de água com cimento para impedir a reconstrução, soldados e colonos atirando em palestinos trazem à tona a realidade palestina.
Sem Chão vai além de um testemunho pessoal: ele expressa um processo histórico que se desenrola desde o início do século XX. E, ao fazê-lo por meio da trajetória de Adra, sua família e sua comunidade, o documentário confere a essa história uma dimensão profundamente pessoal, algo que só o cinema é capaz de oferecer.
Isso tudo fica bem exposto e bem trabalhado no documentário sem a necessidade de grandes explicações. A produção respeita a inteligência do espectador enquanto mantém seu olhar firme sobre a dura realidade do local, sem suavizar os eventos que retrata.
A participação de Abraham coloca em contraste, de forma mais pessoal, as diferenças de diretos dos palestinos e israelenses na Palestina ocupada, adicionando mais uma camada à representação da opressão sofrida pelos palestinos. Porém, a participação dele coloca a todo momento a falácia dos dois Estados. Abraham funciona como um lembrete constante para a “necessidade dos dois Estados”, sendo – na realidade – a oposição à libertação real da Palestina.
Em determinada cena do filme, Abraham e Ballal discutem a presença do israelense na Cisjordânia e como Ballal poderia confiar em Abraham se quem estava destruindo a sua casa poderia ser um amigo ou irmão de Abraham. Ballal diz que “se ninguém fizer nada a situação [a ocupação] não vai mudar”, algo que o israelense parece incapaz de entender. O que Ballal demonstra neste momento é que caso não haja ação – ou melhor – luta armada – a situação não irá mudar.