A recente visita do presidente ucraniano Vladimir Zelensqui à Washington revelou a crise na relação entre Quieve e seu principal financiador, o governo dos Estados Unidos. Longe de fortalecer laços ou garantir mais apoio para sua luta contra a Rússia, a viagem terminou em um embate público entre Zelensqui e o presidente norte-americano Donald Trump. A troca de acusações evidenciou quem realmente deseja a paz e quem insiste na continuidade da guerra.
O encontro entre os dois mandatários inicialmente buscava consolidar um acordo sobre exploração de recursos minerais entre os dois países, mas se transformou em um evento caótico. Durante a reunião, Trump acusou o líder ucraniano de ingratidão pelo apoio militar fornecido pelos EUA e de se recusar a negociar um cessar-fogo com Moscou. “Você está brincando com a Terceira Guerra Mundial”, disse Trump, destacando que seu homólogo “não tem mais cartas na mesa” e que a melhor opção seria interromper o confronto.
A tensão entre os líderes ficou evidente quando a reunião foi abruptamente interrompida, sem a assinatura de qualquer acordo. Trump reforçou sua posição ao afirmar que a Ucrânia está “ficando sem soldados” e que a guerra só beneficia aqueles que lucram com o conflito. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, descreveu o encontro como um “fiasco”, com Trump dizendo a Zelensqui que ele deveria voltar apenas quando estivesse “pronto para buscar a paz”.
A visita também foi marcada por um pedido frustrado de Zelenqui por mais garantias de segurança e maior envolvimento dos EUA na guerra. Trump, por sua vez, reafirmou sua intenção de reduzir o apoio financeiro e militar a Quieve e de buscar uma solução diplomática direta com Moscou.
O fracasso da visita de Zelensqui gerou reações diversas em âmbito internacional. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, classificou o evento como “um fracasso político e diplomático completo”. Segundo ela, a postura belicista de Zelensqui reforça sua irresponsabilidade ao insistir na guerra ao invés de buscar soluções pacíficas.
O governo húngaro também expressou sua preocupação. O chanceler Peter Szijjarto apontou que o encontro deixou claro “quem deseja a paz e quem busca continuar o conflito”. Para ele, a posição de Trump representa “o momento mais importante dos últimos três anos”, pois reforça a necessidade de negociação e diplomacia para encerrar a guerra.
Já o secretário-geral da OTAN Mark Rutte aconselhou Zelensqui a restabelecer suas relações com a administração de Trump, relembrando o apoio que os EUA forneceram anteriormente, como a entrega de mísseis antitanque Javelin em 2019, fundamentais para a defesa ucraniana nos primeiros anos do conflito. Rutte enfatizou que a Ucrânia precisa reconhecer o papel dos EUA no fornecimento de assistência militar e diplomática.
Por outro lado, líderes europeus como Emmanuel Macron, Olaf Scholz e Ursula von der Leyen reafirmaram seu apoio à Ucrânia. No entanto, o apelo para um caminho diplomático começa a ganhar força, com setores dentro da própria União Europeia questionando até quando continuarão financiando um conflito sem perspectivas de vitória para Quieve.
Crise energética
Outro ponto de tensão envolvendo a Ucrânia foi a tentativa de ataque ao gasoduto TurkStream, uma infraestrutura essencial para o abastecimento de energia da Europa. A Hungria considerou a ação um ataque à sua soberania, pois a instalação é crucial para o fornecimento de gás ao país. “Energia é uma questão de soberania”, declarou Szijjarto, ao condenar o ataque e exigir uma posição clara da União Europeia sobre o assunto.
O ataque, realizado por drones ucranianos contra uma estação de compressores na Rússia, foi interceptado pelas defesas aéreas russas. No entanto, o incidente levanta preocupações sobre a estabilidade da infraestrutura energética na região. Moscou classificou a tentativa como “terrorismo energético”, reiterando sua acusação de que a Ucrânia age de forma irresponsável ao ameaçar a segurança do fornecimento de gás para a Europa.
Com a guerra caminhando para mais um ano sem sinais de resolução, a pressão por negociações cresce. Trump deixou claro que os EUA não estão dispostos a sustentar indefinidamente a guerra e que um acordo com a Rússia é a única solução realista.
Ao insistir em confrontos e recusar soluções diplomáticas, Zelensqui se isola cada vez mais na comunidade internacional. O fracasso da sua visita a Washington pode marcar uma virada no desenrolar do conflito, com mais países buscando caminhos para a paz.
A Rússia, por sua vez, reforça sua posição de que a estabilidade na região só será alcançada quando as causas do conflito forem eliminadas. Com o avanço de suas tropas e o enfraquecimento do exército ucraniano, a pressão por negociação pode se tornar inevitável.