Isaaf al-Nashashibi foi um ilustre estudioso natural de Jerusalém. Seu destaque lhe rendeu o título de Adib al-‘Arabiyya, “o mais importante estudioso árabe”. Nashashibi teve um papel fundamental na afirmação da língua árabe clássica e de sua cultura.
Origens
Nashashibi nasceu em Jerusalém, filho de um deputado do Parlamento Otomano e notável abastado da cidade. Iniciou seus estudos na escola primária tradicional (kuttab) em Jerusalém, prosseguindo para o Collège des Frères e, posteriormente, para o Dar al-Hikma College, em Beirute.
Em Beirute, aprendeu francês e foi orientado por professores ilustres da época, como Shaykh Abdullah al-Bustani, Shaykh Muhyiddin al-Khayyat e Shaykh Mustafa al-Ghalayini. Graduando-se em 1905, retornou a Jerusalém, onde, em 1908, editou o jornal al-Asma’i, publicado por Hanna al-Isa.
Nesse período, começou a publicar artigos nas revistas al-Nafa’is, de propriedade de Khalil Baidas, e al-Manhal, de Muhammad Musa al-Maghribi. Ele teve uma produção prolífica de poesias publicadas em al-Nafa’is.
Educação palestina
Além de se interessar profundamente pela literatura árabe clássica e pela filosofia ocidental, Nashashibi assumiu o cargo de professor de língua árabe no Salahiyya College, em Jerusalém, durante a Primeira Guerra Mundial.
Com a ocupação britânica, participou das atividades do Arab Club (al-Nadi al-Arabi) e trabalhou pela independência da Palestina, sendo nomeado professor de árabe na Rashidiyya Secondary School.
Posteriormente, tornou-se diretor dessa escola e, mais tarde, Inspetor-Geral de Árabe no Departamento de Educação Pública. Nessa função, supervisionou a elaboração dos currículos para o ensino da língua árabe e do islamismo, além da formação de docentes.
Em 1923, Nashashibi foi eleito membro da Academia Árabe de Damasco (al-Majma’ al-‘Ilmi al-‘Arabi), passando a publicar artigos em suas revistas no ano seguinte.
Com o aumento das tensões entre ele e o Departamento Britânico de Educação, Nashashibi renunciou a seus cargos no governo em 1929. A partir de então, dedicou-se à escrita e à realização de palestras, viajando anualmente ao Egito e a al-Sham (região do Levante).
Delegado palestino
Nashashibi foi delegado de Jerusalém no Congresso Pan-Islâmico, realizado na cidade entre 7 e 17 de dezembro de 1931. No evento, foi eleito secretário do Comitê de Orientação da conferência.
Ele também esteve presente na Conferência Nacional Árabe, realizada em 13 de dezembro de 1931. Dessa conferência, nasceu o Partido Árabe da Independência da Palestina (Hizb al-Istiqlal).
Defesa da cultura árabe
Entre 1937 e 1947, Nashashibi publicou uma série de artigos no jornal do Cairo al-Risala, intitulada Nuql al-Adib (“Conversa de mesa de um homem de letras”). Frequentemente assinava seus textos com pseudônimos como “Um leitor”, “al-Sahmi” e “Hashim, al-Arabi”. Essa produção lhe conferiu grande destaque no mundo árabe.
Em 1947, mudou-se para o Cairo, onde passou a residir no Continental Hotel, que transformou em um ponto de encontro para acadêmicos e intelectuais. No mesmo ano, foi premiado pelo governo libanês com a Medalha de Mérito de Ouro, em reconhecimento a suas contribuições para o renascimento da língua árabe.
Considerado o decano dos homens de letras da Palestina, foi merecedor da alcunha Adib al-‘Arabiyya. Defendendo com vigor o fusha (árabe clássico), criticava os defensores do árabe coloquial.
É dele a frase:
“A língua é a nação, e a nação é a língua. Quando a primeira enfraquece, a segunda também enfraquecerá, e quando a segunda morrer, a primeira também morrerá.”
A citação foi publicada na introdução de seu livro al-Bustan.
Despedida
Nashashibi faleceu em 22 de janeiro de 1948, no Cairo, sendo sepultado no cemitério de Abd al-Qadir Bey Mukhtar, em um funeral de grande destaque. Foi homenageado por célebres literatos e pensadores egípcios, entre eles Ahmad Lutfi al-Sayyid e Ahmad Hasan al-Zayyat.
Zayyat o descreveu da seguinte forma:
“Nashashibi foi o último de uma geração de homens de letras e linguistas distintos que, como esta era moderna, com sua natureza e cultura, não podem esperar reproduzir. Portanto, cabe àqueles que se preocupam com nossa nobre herança e se orgulham de nosso passado glorioso lamentá-lo por um longo tempo e se sentirem desanimados com o arabismo e o árabe daqui em diante.”
Infelizmente, sua preciosa biblioteca foi saqueada após a ocupação sionista de Jerusalém. Todavia, seu legado para a língua árabe e a cultura palestina o tornou uma figura colossal, comparável a gigantes como Luís de Camões para a literatura lusófona.