Gustavo Machado, apresentador do canal Orientação Marxista e militante do PSTU, publicou no dia 24 de fevereiro um vídeo intitulado “PUTIN, TRUMP E CHINA: o que está por trás da guerra da Ucrânia”, no qual busca analisar os últimos desdobramentos da guerra na Ucrânia.
No entanto, nada de novo foi apresentado no vídeo para aqueles que já conhecem e acompanham a política do PSTU. É a continuidade da política do “nem-nem” que levou o partido a ficar ao lado do imperialismo em praticamente todas as oportunidades nos últimos anos.
No entanto, seguindo a política do PT de tentar mudar a comunicação sem mudar de política, já que a política é desastrosa e precisa ser mascarada, o PSTU tenta alçar Gustavo Machado ao posto de principal teórico do partido. Um dos anúncios do vídeo, por exemplo, é o de que Machado está publicando 7 volumes de livros sobre a Rússia.
Os argumentos do vídeo, como dissemos acima, são os mesmos que o PSTU vem cultivando desde que a Rússia iniciou a operação militar em território ucraniano. O primeiro desses argumentos é o de que “devemos apoiar a população ucraniana, porque foi ela que foi invadida”. O engraçado é que o partido de Machado não se importou com a Ucrânia durante o golpe de Estado de 2014, pelo contrário, apoiou o golpe orquestrado pelo imperialismo e o chamou de “revolução”.
Gustavo Machado também argumenta que agora o imperialismo norte-americano passou para o lado da Rússia, ao mesmo tempo que tenta dizer que tanto Biden quanto Trump têm os mesmos interesses na guerra da Ucrânia. Ele ignora completamente a luta de classes interna dos EUA e a posição do imperialismo internacional, não só dentro dos Estados Unidos, contra a política de desmonte da máquina de guerra por Trump.
Se Trump é a mesma coisa que Biden e busca o mesmo objetivo, por que é que Trump está tentando desmontar instrumentos de dominação do imperialismo como a USAID e o NED?
Esse ponto não é discutido no vídeo. A diferença entre os dois governos, segundo Gustavo Machado, estaria na forma como Trump e Biden lidam com a Rússia e com a China. Sobre os chineses, ele volta a falar sobre o “imperialismo chinês”, mito criado para justificar agressões do imperialismo contra a China.
Para Machado, o capital interno da Rússia, que antes era dominado pelo imperialismo norte-americano e europeu, foi substituído pelo capital do “imperialismo chinês”. Isso justificaria a mudança de postura do novo governo norte-americano, que buscaria acabar com a guerra e sacrificar a Ucrânia para conseguir algum contrato com a Rússia e, com isso, desferir um golpe contra o “imperialismo chinês.”.
Ele também argumenta que Trump quer “parar a China pela força”, o que contradiz o que havia sido dito anteriormente, que Trump buscaria um tipo de acordo com Putin para acabar com a influência chinesa dentro do gigante euroasiático.
Já sobre os interesses russos em começar a guerra, Gustavo ignora a possibilidade da entrada da Ucrânia na OTAN e repete a propaganda imperialista da “Grande Rússia” que Putin desejaria construir. Ele argumenta que o que Putin quer é reconstruir a o Império da Rússia da época dos czares.
O leitor deve reparar que há todo um malabarismo para defender a posição do imperialismo. Para um militante que se diz trotskista, sua principal luta teria que ser contra o imperialismo. Daí, para justificar suas posições, os militantes do PSTU inventam o imperialismo na China, inventam que sabem ler os pensamentos de Putin e inventam a construção da “Grande Rússia”.
Diferente de “Israel” que propagandeia abertamente o “Grande Israel”, com a dominação sobre regiões do Líbano, da Síria, da Jordânia, do Egito e da Arábia Saudita, para além da própria Palestina, a Rússia não faz propaganda da tomada de territórios de outros países. Sendo assim, como o PSTU consegue saber o que supostamente Putin pensa?
O que há de concreto é que o imperialismo deu um golpe na Ucrânia em 2014, colocou um governo fantoche rodeado de nazistas (o que o PSTU teima em negar), o novo governo passou a cometer um genocídio contra a população que falava russo em seu território, então, a Rússia participou de uma conferência em Minsk para conversar sobre a paz com a Ucrânia, costurando um acordo que a Ucrânia jamais cumpriu. Por fim, o imperialismo tentava colocar a Ucrânia na OTAN e ameaçava a Rússia com armas nucleares, o que levou à operação especial em solo ucraniano.
O PSTU há muito que não faz qualquer política baseada na realidade, mas sim, na opinião do imperialismo. Se o imperialismo é contra, o PSTU também é, se é a favor, o PSTU também é a favor. A única diferença da política do PSTU para a do imperialismo, política que Gustavo Machado mantém, é a de que o partido disfarça sua aliança com o imperialismo com a política do “nem-nem”.
Essa política prega sempre que nem o imperialismo, nem a força que o imperialismo quer derrubar, merecem o apoio dos trabalhadores. No entanto, em todas as vezes que o PSTU se utilizou dessa política, acabou por se colocar contra as forças que inimigas do imperialismo. Prova disso é a política durante o golpe de 2016 no Brasil, quando o partido levantou a palavra de ordem “Fora todos!”, mas, quando Dilma caiu, logo o “Fora todos!” foi abandonado, mostrando que era apenas “Fora Dilma”.
O mesmo vale para todas as outras oportunidades: “nem Lula, nem Bolsonaro”, “nem França, nem os militares africanos”, “nem Hamas, nem Israel”, “nem EUA, nem Talibã” e por aí vai.