A ministra da Saúde Nísia Trindade foi demitida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última terça-feira (25) após dois anos no cargo. Ela será substituída por Alexandre Padilha (PT), atual titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), cujo cargo ainda segue sem definição, em uma troca que evidencia as articulações políticas como fator determinante para a queda de Trindade. Escolhida por Lula em 2023 por sua experiência na Fiocruz e proximidade com o presidente, Trindade deixa o posto em meio a pressões por maior controle do orçamento da pasta, uma das mais robustas da Esplanada.
A mudança expõe a fragilidade do governo diante de negociações partidárias, ainda que em menor escala do que as concessões maiores, feitas ao imperialismo, como no caso do Banco Central. Trindade assumiu o Ministério da Saúde no início do terceiro mandato de Lula, em 2023, indicada pelo presidente como parte de seu programa de governo. Em julho daquele ano, Lula declarou no evento de sanção do novo Mais Médicos: “tem ministros que não são trocáveis. São uma coisa da escolha pessoal do presidente. A Nísia não é ministra do Brasil, ela é minha ministra.”
Sua nomeação contou com o aval do médico pessoal de Lula, Roberto Kalil Filho e do próprio Padilha, então aliado próximo.
Padilha, por sua vez, deixa a SRI para assumir a Saúde, é um nome experiente no PT e com trânsito no Congresso, diferentemente de Trindade, que não tinha filiação partidária nem conexões com o “Centrão”. O bloco pressionava por maior influência sobre o orçamento da pasta, estimado em R$180 bilhões para 2025, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual. Para a SRI, os cotados são Isnaldo Bulhões ou Antonio Brito (PSD-BA) ou José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara.
A saída da ministra ocorre em uma conjuntura de tensões internas no governo. Há semanas, circularam boatos de que o “Centrão” queria emplacar um nome próprio na Saúde, enquanto aliados de Trindade, muitos, ligados ao PT, resistiam à pressão. Esses relatos, ainda não confirmados, sugerem que a burguesia, representada por esses partidos, busca dobrar Lula para entregar mais poder ao bloco.
Fato é que a demissão reflete uma negociata: o governo cedeu posições para acomodar aliados, mesmo que isso signifique abrir mão de uma indicação pessoal do presidente. A assessoria do Planalto não comentou os motivos oficiais da troca até o fechamento desta matéria.
Os boatos, mesmo que não totalmente verdadeiros, refletem o clima de pressão sobre o governo. Fontes extraoficiais apontam que o “Centrão” tentava tomar Ministério da Saúde desde a presidência de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara, enquanto aliados do PT na pasta tentavam blindar Trindade.
O episódio mostra como a direita pressiona Lula para que entregue sempre mais posições no governo, enfraquecendo a posição do presidente. Essa concessão, porém, pode complicar ainda mais a relação do governo com sua base social — trabalhadores e movimentos populares —, que esperavam um Ministério da Saúde alinhado às promessas de campanha.