Abdullah Ocalan, líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), pediu nessa semana para que o grupo deponha as armas e se dissolva. A declaração é resultado das negociações que estão sendo feitas entre o governo turco e o grupo político curdo e foi lida pela Delegação Imrali, composto por políticos pró Partido Democrata Curdo, diretamente da prisão onde Ocalan está. O líder justificou que a decisão se dá porque a atuação armada não se faz mais necessária na atual conjuntura.
Ocalan fundou o PKK em 1978 com a ideia inicial de lutar por um Estado Curdo independente, através da luta armada. A atuação fez com que o grupo fosse considerado pela Turquia, EUA e União Europeia como uma organização terrorista e com que fosse reprimido pelo governo turco em diversos conflitos, o que levou a prisão do seu líder em 1999, tendo sido no primeiro momento condenado à pena de morte, mas que depois foi alterada para prisão perpétua.
O grupo atua na região chamada de Curdistão, que envolve os países da Turquia, Irã, Iraque e Síria e representam uma população de 30 a 40 milhões de pessoas, sendo considerada a maior nação sem um Estado próprio.
A luta por um Estado Curdo possui um caráter legítimo, no entanto as suas lideranças foram manipuladas durante os anos para que atuassem na desestabilização de governos nacionalistas da região como o da Síria e o da Turquia. Nesse sentido, a repressão que o presidente da Turquia, Recep Erdogan, impõe ao PKK é uma forma de tentar manter o regime e resistir às pressões imperialistas sobre o país.
Um fato importante que norteia as negociações que estão ocorrendo entre o governo turco e o PKK foi o golpe que aconteceu na Síria em 2024 e que derrubou o presidente nacionalista Bashar Al Assad. Erdogan aproveitou da situação de enfraquecimento do país vizinho para avançar posições e ter melhores condições de negociar com os curdos.
A declaração de Ocalan teve pronta repercussão entre os líderes do PKK, que declararam que irão seguir a ordem do líder e atuarão pela dissolução do grupo. No entanto, Mazlou Abdi, chefe das Forças Democráticas Sírias, aliada do PKK considerou a declaração como “histórica”, mas que não se aplicava à Síria. As negociações podem resultar inclusive na liberdade de Ocalan, conforme colocado por Devlet Bahceli, aliado de Erdogan e principal representante do governo turco pelo acordo.