A esquerda no Brasil já perdeu totalmente a bússola no que diz respeito ao problema dos direitos democráticos dos brasileiros. O apoio desesperado à perseguição promovida contra Jair Bolsonaro e outros bolsonaristas pelo Judiciário brasileiro, é uma demonstração da falta de política das direções do capo, que não conseguem enfrentá-lo politicamente, então esperam que os juízes e policiais o façam, custe o que custar.
É o caso do deputado federal do PT e líder do governo na Câmara Lindbergh Farias. Em coluna publicada no sítio Brasil 247 intitulada Bolsonaro na cadeia, ele procura justificar por que se deve defender a prisão do ex-presidente no processo farsa levado adiante contra ele.
Ele começa seu texto afirmando que “é um insulto à sociedade brasileira a tentativa de anistiar os golpistas que agiram com o objetivo de aniquilar a democracia em nosso país, entre eles o ex-capitão Jair Bolsonaro”, demonstrando sua total incompreensão do que seria a “democracia” em nosso País.
O que Lindbergh quer expressar é que os manifestantes do 8 de janeiro teriam executado uma tentativa de acabar com a democracia no País, ou seja, uma tentativa de golpe de Estado. Tal apreciação está em total desacordo com a realidade. A ideia de que tal manifestação de extrema direita teria sido uma tentativa de golpe entrará para os anais da história brasileira como uma das análises mais absurdas que já se viu.
A manifestação em si começou e acabou sem que fosse feita nenhuma movimentação no sentido de destituir Lula do governo. Os militares não colocaram os tanques nas ruas para exigir sua derrubada, não houve tampouco alguma movimentação no poder Legislativo ou Judiciário no sentido de retirar Lula da presidência.
O que se viu foi apenas um protesto, totalmente legítimo, de pessoas insatisfeitas com o resultado eleitoral. Lindbergh e outros encaram tudo aquilo como uma tentativa de golpe porque não possuem memória política e não se lembram que a própria esquerda já realizou manifestações de muito maior intensidade e até de maior violência do que a do 8 de janeiro.
Mais adiante, ele afirma que a Procuradoria-Geral da República fez uma “rigorosa denúncia” contra Bolsonaro e outras 33 pessoas. Nesse caso, ele se refere a todo o processo que agora está sendo levantado com base nos planos contidos no suposto “punhal verde-e-amarelo”, que incluiria até uma suposta tentativa de assassinato de Alexandre de Moraes, Alckmin e o próprio presidente Lula.
O plano, se é que existe e tem algum resquício de seriedade, não configura em si um crime. Pensar em cometer um crime ou discutir o cometimento de crime com outras pessoas não é o equivalente à execução desse crime.
Não foi feita nenhuma tentativa de assassinato contra essas pessoas e, inclusive, a adição de Bolsonaro nesse plano todo também é obra da imaginação da PGR. Na delação de Mauro Cid (única base de sustentação para todo esse processo), o próprio afirma que não é possível dizer que o ex-presidente soubesse de todo o plano.
Lindbergh não entra no detalhe de por que a denúncia da PGR seria “rigorosa”, e não o faz justamente porque não há sustentação para tal afirmação. Ele procura justificar sua posição lembrando de ações do passado de Bolsonaro, como a sua ameaça ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um programa de entrevistas, sua defesa de Brilhante Ustra, sua agressão à deputada Maria do Rosário (PT-RS), ou então, quando planejou a explosão de quarteis enquanto ainda era tenente do Exército.
Tudo isso pode ser muito ruim, ou não, mas não dizem respeito ao processo atual. Bolsonaro não pode ser preso porque fez coisas com as quais a esquerda discordou. Se for assim, o que se tem é a defesa de um processo político contra ele, algo totalmente ditatorial e que abriria um precedente perigosíssimo para a esquerda brasileira.
Lindbergh também adiciona ao rol de “crimes” cometidos por Bolsonaro as suas supostas mentiras sobre as urnas eletrônicas, ressaltando que ele foi eleito presidente e obteve “sucessivos mandatos de deputado” desde a inauguração do que ele classifica como um “inovador sistema”. Ele lembra que os filhos de Bolsonaro também foram eleitos da mesma forma e critica que eles se colocam agora como “antissistema”.
Com sua colocação, Lindbergh procura demonstrar que criticar as urnas eletrônicas representaria algum tipo de contradição, sendo que não há nada mais democrático do que poder fazer críticas ao sistema eleitoral de seu país, o que é proibido hoje no Brasil pela ditadura judiciária exercida pelo STF, com o apoio de setores da esquerda como o próprio parlamentar petista. Logo abaixo, ele afirma:
“As mensagens do tenente-coronel Mauro Cid expõem, de forma crua, as tramoias da quadrilha golpista, que urdiu até o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Maquinaram um golpe violento, que incluiu o estímulo a extremistas que atacaram a sede da Polícia Federal e tentaram explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, em dezembro de 2022”.
Aqui, ele procura fazer uma associação totalmente indevida. O fato de um bolsonarista ter tentado explodir um caminhão no aeroporto de Brasília não implica necessariamente a figura do ex-presidente nesse crime. Ele não teve nenhuma participação no ato da instalação da bomba ou em seu planejamento.
Lindbergh também afirma que Bolsonaro teria estimulado os manifestantes do 8 de janeiro, o que não foi provado e tampouco configura crime. Manifestar-se contra algo é um direto democrático de todo cidadão brasileiro e deveria ser defendido pela esquerda, não transformado em golpe.
A posição adotada pela esquerda nacional em toda essa questão é totalmente errada, e mostra a sua falência política. Essa defesa de um processo judiciário totalmente criminoso e levado adiante com motivações políticas (ou seja, uma perseguição política) é antidemocrático e configura, na verdade, um fortalecimento do bolsonarismo, que vê em seu líder um mártir e um perseguido pelo sistema.
Todo o processo contra Bolsonaro está sendo levado adiante pelo Judiciário brasileiro com apoio do imperialismo. A esquerda está sendo apenas uma “torcida”, não está participando desse processo político.
Essa incapacidade de derrotar politicamente a extrema direita irá apenas fortalecer o bolsonarismo. É preciso agir e ter um programa político de enfrentamento com os bolsonaristas e o imperialismo, e não apoiar o Judiciário golpista em suas investidas anti-democráticas.