No dia 24 de fevereiro de 1949, foi assinado o primeiro dos acordos de armistício que encerraram a guerra árabe-israelense de 1948-1949. Firmado entre “Israel” e Egito na ilha grega de Rodes, o acordo marcou um momento crucial na história do Oriente Médio, estabelecendo as bases para a configuração geográfica da região nos anos seguintes. A guerra árabe-israelense de 1948, conhecida pela escumalha sionista como a “Guerra da Independência” e pelos palestinos como al-Nakba (“A Catástrofe”, em português), teve início em 15 de maio de 1948, um dia após a declaração de independência do Estado artificial de “Israel”. O conflito foi desencadeado pela rejeição árabe ao Plano de Partilha da ONU (Resolução 181) que previa a criação de dois Estados – um judeu e outro árabe – no território da Palestina, então sob mandato britânico.
Com a retirada britânica, tropas dos países árabes vizinhos – Egito, Transjordânia (atual Jordânia), Síria, Líbano e Iraque – invadiram o recém-criado pelo imperialismo Estado de “Israel”. O objetivo declarado era impedir a consolidação do Estado sionista e estabelecer um Estado árabe unificado na Palestina, como havia sido em toda a história antes da invasão imperialista. No entanto, a guerra resultou em uma vitória israelense significativa. Ao final do conflito, “Israel” não apenas consolidou os territórios atribuídos pelo imperialismo na ONU, como também expandiu seu domínio para cerca de 75% da área total da Palestina hoje ocupada. A guerra teve consequências devastadoras para os palestinos. Cerca de 711 mil árabes foram deslocados ou expulsos das áreas controladas por “Israel”, tornando-se refugiados. Esse êxodo em massa é lembrado como um dos eventos mais traumáticos da história palestina.
Após meses de intensos combates e com as forças árabes em desvantagem militar, as Nações Unidas intervieram para mediar um cessar-fogo. Sob a liderança do diplomata Ralph Bunche, as negociações começaram em janeiro de 1949 na cidade grega de Rodes. Apesar das tensões e impasses iniciais – incluindo exigências israelenses pela retirada total das tropas egípcias e resistência egípcia em ceder posições estratégicas –, os esforços diplomáticos culminaram no primeiro acordo entre “Israel” e Egito em fevereiro daquele ano, combinando uma força militar numerosa e de alta qualidade do imperialismo com a capitulação das entidades egípcias.
O Acordo entre Israel e Egito, assinado em 24 de fevereiro, estabeleceu os seguintes pontos principais:
- Linha de demarcação do armistício: A linha foi traçada ao longo da fronteira internacional pré-existente entre o Egito e o Mandato Britânico da Palestina (1922), com exceção da região próxima ao Mediterrâneo. Nessa área, o Egito manteve controle sobre uma faixa costeira que passou a ser conhecida como Faixa de Gaza.
- Bolsão de Faluja: As forças egípcias sitiadas no Bolsão de Faluja foram autorizadas a retornar ao Egito com suas armas. A área foi entregue ao controle militar israelense.
- Zona Desmilitarizada: Foi criada uma zona desmilitarizada em torno da estrada Uja al-Hafeer (atual Nitzana), que se tornou sede do Comitê Bilateral do Armistício.
Um aspecto importante do acordo foi a cláusula que declarava que a Linha de Demarcação não deveria ser interpretada como uma fronteira política ou territorial definitiva. Essa ambiguidade refletia as tensões subjacentes ao conflito e deixava em aberto questões cruciais sobre o futuro da Palestina.
Após o acordo com o Egito, “Israel” assinou armistícios semelhantes com Líbano (23 de março), Transjordânia (3 de abril) e Síria (20 de julho). Esses acordos consolidaram as chamadas “Linhas Verdes”, que serviram como fronteiras provisórias até a Guerra dos Seis Dias em 1967. Cada um desses acordos teve características específicas:
- No caso do Líbano, a linha do armistício foi tratada como uma fronteira internacional definitiva.
- Com a Transjordânia, “Israel” garantiu o controle sobre Jerusalém Ocidental enquanto os jordanianos mantiveram Jerusalém Oriental e Cisjordânia.
- O acordo com a Síria resultou na criação de zonas desmilitarizadas ao longo das Colinas de Golã.
Para os países árabes e os palestinos, os acordos foram uma derrota humilhante por se tratar da capitulação das burocracias dos países supostamente aliados. A Faixa de Gaza ficou sob administração egípcia, enquanto a Cisjordânia foi anexada pela Transjordânia. Para os palestinos, isso significou não apenas a perda territorial mas também o adiamento indefinido do sonho por um Estado independente.
Esses acordos também estabeleceram um padrão para futuras negociações no Oriente Médio: soluções temporárias baseadas em linhas provisórias que frequentemente ignoravam as demandas palestinas por autodeterminação e direitos básicos. Além disso, criaram condições para novos conflitos regionais ao deixar questões fundamentais – como a situação dos refugiados palestinos e as fronteiras definitivas – sem resolução.
Os Acordos de Armistício assinados em 1949 encerraram oficialmente o primeiro conflito árabe-israelense, mas não trouxeram paz à região. Pelo contrário, eles pavimentaram o caminho para décadas de instabilidade e violência no Oriente Médio. Para os palestinos, esses acordos simbolizam o início da ocupação israelense em novas terras palestinas e o fracasso dos países em se posicionarem corretamente na história, que consistiria numa luta imediata para garantir seus direitos nacionais.