A ditadura sionista de “Israel” voltou a mostrar sua verdadeira face ao descumprir o cessar-fogo firmado em janeiro com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), deixando em aberto a continuidade da segunda fase do acordo que prevê a libertação de prisioneiros. Enquanto o Hamas cumpriu rigorosamente sua parte no trato, libertando 30 prisioneiros na primeira fase – entre civis israelenses, soldados e cidadãos tailandeses, além de devolver corpos de israelenses mortos pelos sionistas –, o regime de Benjamin Netaniahu se recusa a soltar 602 prisioneiros palestinos, cuja libertação estava prevista para sábado passado (22).
Segundo o jornal israelense The Times of Israel, a decisão seria “respaldada pelos Estados Unidos”. A justificativa apresentada pelos sionistas para adiar a libertação dos prisioneiros é tão frágil quanto cínica: a ditadura alega que o Hamas teria violado o acordo ao realizar “cerimônias de propaganda” durante a entrega dos corpos dos prisioneiros, como os dos pequenos Ariel e Kfir Bibas, assassinados brutalmente pelo seu governo.
Netaniahu exige agora que o Hamas cesse tais atos e entregue mais quatro corpos antes de cumprir sua parte. Trata-se de um golpe. O que mais preocupa a ditadura sionista é que, a cada ato público e transmitido pela imprensa da Resistência, fica evidente a discrepância colossal entre a civilidade dos revolucionários palestinos e a selvageria desenfreada das forças de ocupação de “Israel”, que nunca receberá o afeto demonstrado pelos israelenses capturados pelo Hamas, porque, ao contrário destes, os palestinos são tratados com brutalidade e desumanidade.
Em resposta, o Hamas anunciou que não participará de novas negociações até que “Israel” respeite os termos já acordados, conforme declarou o porta-voz Abdul Latif al-Qanou ao sítio The Cradle: “a Resistência não participará de novas negociações a menos que a ocupação cumpra o acordo e implemente os requisitos da primeira fase”. A postura dos partidos que a compõem é clara: o descumprimento de “Israel” compromete qualquer avanço para a libertação dos prisioneiros restantes.
O apoio “irrestrito” dos Estados Unidos à violação sionista agrava ainda mais a crise. Segundo The Times of Israel, a Casa Branca declarou no domingo (23) que a decisão de “Israel” de adiar a soltura dos prisioneiros é uma “resposta apropriada” ao suposto “tratamento bárbaro” dos prisioneiros pelo Hamas, incluindo a exibição dos caixões das crianças nas ruas de Gaza. Porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Brian Hughes afirmou: “dado o tratamento bárbaro dos prisioneiros pelo Hamas, incluindo a horrível exibição dos caixões das crianças Bibas pelas ruas de Gaza, a decisão de ‘Israel’ de atrasar a libertação dos prisioneiros é uma resposta apropriada”.
O presidente norte-americano Donald Trump, por sua vez, reforçou que respaldará “Israel” em qualquer decisão, seja para manter o cessar-fogo ou retomar a guerra. Enquanto isso, a segunda fase do acordo, que prevê a libertação de até 27 prisioneiros vivos em troca de milhares de prisioneiros palestinos e a retirada total das forças de “Israel” de Gaza, segue paralisada.
Pressionado por sua coalizão de extrema direita, Netaniahu resiste até mesmo a iniciar as negociações, sob ameaça de colapso de seu governo caso ceda à paz. O enviado norte-americano Steve Witkoff, em declarações aos órgãos norte-americanos CNN e CBS, confirmou que partirá nesta quarta-feira (26) para a região – com paradas em Catar, Egito, “Israel”, Emirados Árabes e Arábia Saudita – na tentativa de estender a primeira fase, que termina em 1º de março.
“Temos que conseguir uma extensão da fase um, e então estarei indo para a região esta semana, provavelmente na quarta-feira, para negociar isso”, disse ele, sinalizando o interesse de “Israel” em evitar a segunda etapa, que exigiria o fim definitivo da guerra.
A atitude de “Israel” não é novidade: desde o início do cessar-fogo, o regime sionista tem sabotado o acordo. Segundo The Cradle, “Israel” impede a entrada de equipamentos e moradias móveis em Gaza, itens essenciais para aliviar a catástrofe humanitária no enclave, em clara violação dos termos negociados.
Além disso, a recusa em libertar os 602 prisioneiros palestinos no sábado (22) – parte da sétima rodada de trocas, que viu o Hamas soltar seis prisioneiros israelenses – foi acompanhada de exigências extras não previstas no pacto, como a entrega de mais corpos sem cerimônias. Mahmoud Mardawi, oficial do Hamas, declarou que o grupo só voltará à mesa de negociações quando “Israel” cumprir sua parte, apelando aos mediadores para pressionar o regime sionista.
Do lado palestino, a Resistência mantém contatos com mediadores para resolver a crise, conforme revelou um líder à emissora libanesa Al Mayadeen na segunda-feira (24). “Os contatos estão em andamento para resolver a questão da libertação dos prisioneiros palestinos”, afirmou, destacando que o Hamas exige a soltura dos detentos antes de entregar mais corpos de prisioneiros.
A postura é uma resposta direta à procrastinação de Netaniahu, que, segundo o sítio Axios, ignorou recomendações de chefes dos serviços de segurança de “Israel” para avançar com a libertação e negociar a segunda fase. Abdel Latif Al-Qanou, porta-voz do Hamas, acusou o premiê sionista de recorrer a “táticas de procrastinação e adiamento”, afirmando que “a falha da ocupação em cumprir a libertação da sétima leva de prisioneiros no horário acordado constitui uma violação flagrante do acordo”.
A intransigência de “Israel” é ainda mais escandalosa diante do cumprimento rigoroso do Hamas. Na primeira fase do acordo, o grupo libertou 33 prisioneiros – mulheres, crianças, homens acima de 50 anos e casos humanitários –, além de 105 civis em uma trégua de novembro de 2023 e quatro prisioneiros nas primeiras semanas da guerra.
Também entregou os corpos de Oded Lifshitz e da família Bibas (Shiri, Ariel e Kfir), apesar da confusão inicial com a entrega equivocada de uma mulher gazense anônima, corrigida no dia seguinte. Enquanto isso, “Israel” deveria ter libertado cerca de 1.900 prisioneiros palestinos, incluindo 270 condenados a prisão perpétua por ataques contra israelenses, mas agora usa pretextos cínicos para descumprir o combinado.
A escalada da crise e os planos de guerra
Por trás da violação do cessar-fogo, a ditadura sionista pode estar preparando o terreno para retomar a guerra. Segundo o jornal norte-americano The New York Times, três fontes anônimas da defesa de “Israel” revelaram que o exército já estaria planejando uma nova campanha em Gaza, mirando oficiais do Hamas acusados de desviar ajuda humanitária e destruindo infraestrutura usada pelo governo local.
“O exército israelense já fez preparações para uma nova e intensa campanha em Gaza”, informou o jornal, destacando que apenas Trump poderia dissuadir Netaniahu de abandonar o acordo. O Haaretz vai além: “para Netaniahu, não há segunda fase”, relatou o jornal em 24 de fevereiro, citando o ministro Ron Dermer, que teria dito a Witkoff que o plano do premiê é libertar todos os prisioneiros em uma única etapa ou voltar à guerra total, reimplementando uma “versão” do Plano dos Generais – que expulsou centenas de milhares de palestinos do norte de Gaza e devastou o sistema de saúde local.
O ministro da Energia de “Israel”, Eli Cohen, explicitou as condições sionistas para a segunda fase: “a libertação de todos os sequestrados, a remoção do Hamas da Faixa de Gaza, o desarmamento da faixa e o controle de ‘Israel’ sobre sua segurança“, informou The Cradle. Enquanto isso, os EUA, sob Trump, oscilam entre apoiar a extensão da primeira fase e endossar uma retomada da guerra.
Witkoff declarou à CBS que a segunda fase envolve “um cessar-fogo permanente e o fato de que o Hamas não pode voltar ao governo”, mas deixou nas mãos de Netaniahu o destino do grupo em Gaza. “Quanto a existir [de qualquer forma], eu deixaria esse detalhe para [Netaniahu]”, disse a The Times of Israel, sugerindo que os EUA estão dispostos a tolerar a continuidade do Hamas desde que excluído do poder, o que dificilmente acontecerá.
Impasse e futuro incerto
Com a primeira fase do cessar-fogo prestes a expirar em 1º de março, o futuro do acordo é incerto. O Hamas mantém 63 prisioneiros em Gaza – 62 capturados no ataque de 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas e sequestrou 251, e o corpo de Hadar Goldin, morto em 2014. Desses, 36 foram confirmados mortos pelo exército de “Israel”, enquanto outros oito foram resgatados vivos e 41 corpos recuperados. A segunda fase, essencial para libertar os 27 prisioneiros vivos restantes, incluindo o americano-israelense Edan Alexander, depende de “Israel” cumprir sua parte, algo que Netaniahu parece decidido a evitar.
A recusa em libertar os 602 detentos, muitos dos quais enfrentam condições desumanas nas prisões sionistas, contrasta com a entrega pontual dos prisioneiros pelo Hamas, expondo quem realmente sabota a paz.