O artigo Prisão para todos os golpistas e seus financiadores, publicado no órgão do PSTU Opinião Socialista, celebra o fato de “finalmente” o Procurador Geral da República (PGR) Paulo Gonet ter aberto, no último dia 18, uma denúncia contra o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e outros 33 acusados de uma suposta tentativa de golpe de Estado. Em um primeiro momento, defendendo a denúncia aberta por Gonet, o artigo diz:
“A denúncia se baseia não só em delação premiada, mas num conjunto robusto de provas, como documentos, planilhas, áudios interceptados ou recuperados, além de depoimentos. Consta até mesmo um discurso já pronto para ser proferido por Bolsonaro logo após seu sonhado golpe. Mostra ainda a relação entre o ataque às urnas eletrônicas, os bloqueios de estradas (financiados por políticos da ultradireita e empresários), os acampamentos nos quartéis até o fatídico 8 de janeiro, no contexto da tentativa de se tomar o poder e, na prática, se instaurar uma ditadura no país (grifos nossos).”
Ao conceder defender a burocracia estatal de maneira tão enfática, particularmente ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal (STF), o PSTU negligencia o papel central que essas instituições desempenharam no golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e na operação que, em 2018, impediu Luiz Inácio Lula da Silva de concorrer às eleições presidenciais, no que foi um segundo golpe de Estado. Juntos, PGR e STF não apenas cumpriram um papel decisivo para a derrubada golpista do governo petista, como também facilitaram a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência, sem enfrentar resistência significativa.
A posição do PSTU, por sinal, coincide com a dos grandes veículos de comunicação da burguesia, como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo, os três principais propagandistas do imperialismo no País, como fica evidente pela leitura dos referidos órgãos de imprensa:
“O oferecimento da denúncia já era esperado à luz do robusto conjunto de elementos de autoria e materialidade contra os acusados reunidos pela Polícia Federal (PF)”, escreveu o Estadão no editorial intitulado Bolsonaro a caminho do banco dos réus. Já o carioca O Globo publicou o editorial intitulado Denúncia contra Jair Bolsonaro é sólida e gravíssima, no qual destacou a denúncia da PGR é “histórica” e acrescentou: “a denúncia da PGR está embasada não apenas em delações, mas em manuscritos, arquivos, planilhas, trocas de mensagens, áudios e depoimentos”. Igualmente golpista desde sempre, a Folha de S. Paulo escreveu o editorial Denúncia persuasiva da PGR dificulta defesa de Bolsonaro, destacando que Gonet “foi ainda incisivo ao descrever Bolsonaro e seus principais lugar-tenentes como incitadores e líderes do 8/1, que o Supremo Tribunal Federal já considerou, em centenas de processos, ter sido um (sic) tentativa de golpe e de abolição do Estado de Direito”, o que se bem não tem palavras idênticas à matéria de Opinião Socialista, tem exatamente a mesma política.
Esse alinhamento não pode ser ignorado: ou os monopólios de imprensa que se consolidaram como tal na Ditadura Militar apoiando regimes de terror (como o militar no Brasil e o sionismo na Palestina), passaram a ser, de alguma forma, inimigos do fascismo que sempre apoiaram, ou o PSTU conseguiu se deslocar para a direita o bastante para defender os mesmos interesses dos piores inimigos dos trabalhadores, que ao contrário do PSTU, tem um interesse concreto no caso. Na década passada, ficou evidente que sem uma intervenção séria no regime político, o imperialismo não conseguiria recuperar o controle do Brasil, um dos países mais importantes do mundo entre as nações atrasadas.
Desse fenômeno saíram os crimes do imperialismo contra o País, a presidenta Dilma e a Petrobrás, denunciados pelo norte-americano ex-NSA Edward Snowden, assim como processos golpistas como o Mensalão, a Lava Jato, o Inquérito das Fake News de Alexandre de Moraes e todas as intervenções realizadas pelo Judiciário contra o Executivo e o Legislativo. Esse processo, porém, não acabou. Continua, porém, o alvo agora não é a esquerda, mas a extrema-direita, setor da burguesia que nos países desenvolvidos e em países atrasados mais desenvolvidos (como o Brasil), tem sido uma das principais impulsionadoras da crise imperialista, pelo antagonismo dos setores menores da burguesia com a política dos monopólios.
Tivesse mais a luta de classes como bússola para se orientar politicamente, e não os editoriais dos órgãos de propaganda do imperialismo, o que os morenistas do PSTU fariam, em primeiro lugar, era analisar a denúncia da PGR com base no seu fundamento social. Quais são as classes em disputa nesse conflito é a primeira questão que todo marxista minimamente sério levantaria sobre o episódio. Claramente, isso exclui o PSTU, que até tenta disfarçar sua subordinação política com tiradas como:
“A denúncia enfraquece, por hora, o bolsonarismo, mas não está garantida a punição aos golpistas. Muito pelo contrário, o recém-eleito presidente da Câmara, Hugo Motta, apoiado por Lula, relativizou a tentativa de golpe e chegou a defender anistia a golpistas. Mais uma demonstração de que não se deve confiar nas instituições dessa democracia dos ricos sequer para punir quem tentou suplantá-la. A classe trabalhadora não pode ter nenhuma confiança no governo Lula, no Congresso Nacional, ou na própria Justiça (grifos nossos).”
Palavras ao vento, apenas, que se contradizem com a posição central do artigo, de defender a denúncia feita pela PGR e curiosamente, reforçada na conclusão do artigo:
“É preciso reforçar a exigência de nenhuma anistia a golpista, investigação e prisão de todos os golpistas, e nenhuma confiança de que as instituições desse regime dos ricos farão isso.”
Ora, o que o PSTU está chamando, ao contrário do que proclamam, é a total confiança nas “instituições desse regime dos ricos”, a saber, a Polícia Federal que encaminhou à PGR o inquérito usado por Gonet para a denúncia oferecida pela PGR, e tudo em aliança com o STF, que agora, deve julgar o caso. É exatamente o padrão lavajatista que antes escandalizava a esquerda e qualquer pessoa de espírito minimamente democrático, mas que agora, é apoiada por ditos trotskistas, que se de fato o fossem, deveriam ser os primeiros a defenderem os direitos democráticos da população. Não é o caso do PSTU.
Os morenistas até se esforçam para manter pelo menos uma retórica comunista, porém são traídos pelos posicionamentos, que revelam o quão subordinado ao imperialismo estão. A última coisa que os trabalhadores e estudantes mais avançados devem fazer é seguir esse tipo de orientação e apoiar a burocracia judicial, e o imperialismo, por tabela. A reorganização do sistema político brasileiro para os fins desejados pelos monopólios mundiais não beneficiará os trabalhadores em nada, pelo contrário, servirá para organizar ataques ainda mais duros contra o povo brasileiro.
Por isso, longe do que defende o PSTU, os golpes desse setor da burguesia mundial deve ser denunciados, seja contra quem for, ainda que uma figura tão execrável quanto Jair Bolsonaro. Finalmente, a luta mais importante não é contra ele ou os demais 33 denunciados. A luta que orienta os comunistas, é a que se trava contra a classe burguesa, e principalmente a imperialista, que o PSTU defende.