Souleymane Cissé, um dos maiores expoentes do cinema africano, faleceu nesta quarta-feira (19), em Bamaco, capital do Mali, aos 84 anos. O cineasta é conhecido por filmes como Finyé, Yeelen e Baara.
A informação foi confirmada por sua filha, Mariam Cissé, que declarou à imprensa que a família está profundamente abalada. “Ele dedicou sua vida ao cinema, à arte e ao seu povo”, disse.
Cissé foi o primeiro cineasta negro africano a receber um prêmio no Festival de Cannes, levando o Prêmio do Júri em 1987 com Yeelen. Em 2023, recebeu a Carroça de Ouro pelo conjunto de sua obra. Além da produção cinematográfica, foi um articulador na defesa do cinema africano, sendo fundador e presidente da União dos Criadores e Empresários do Cinema e do Audiovisual da África Ocidental (Ucecao).
Na manhã do dia de sua morte, o cineasta participou de uma coletiva de imprensa e reforçou a necessidade de maior apoio estrutural para o cinema africano. “Temos cineastas talentosos, mas é fundamental garantir que os filmes sejam vistos. As autoridades devem se comprometer com a construção de salas de cinema”, afirmou.
Cissé nasceu em Bamako, em 1940, e se formou em cinematografia no Instituto Gerasimov, em Moscou. Em 1975, lançou Den Muso (A Menina), primeiro longa de ficção filmado em Bambara, abordando a história de uma jovem muda estuprada. O filme foi censurado pelo governo malinês, e o diretor chegou a ser preso sob a acusação de receber financiamento estrangeiro.
Sua obra traz uma crítica ao colonialismo e à exploração contra o povo africano. Entre outros de seus filmes de impacto, Baara (O Trabalho, 1992) expõe a exploração da classe trabalhadora e a ilusão do individualismo, enquanto Waati (Tempo, 1995) retrata a opressão racial sob o apartheid.