Esquerda

Luta de classes ou defesa da democracia?

Os acontecimentos envolvendo os bolsonaristas devem ser analisados sob a ótica da luta de classes

A possível prisão de Jair Bolsonaro deixou boa parte da esquerda pequeno-burguesa excitada. Alguns, ainda confusos, buscam apresentar uma explicação para o caso, tendo em vista que, de fato, é impossível que toda a estrutura jurídica e política que derrubou Dilma em 2016 simplesmente mudou de lado e, agora, seria “democrática”. Segundo uma coluna apresentada por César Fonseca, redator do portal Brasil 247, “a direita vacila se continuaria ou não a apoiar o ex-presidente ultradireitista diante da iminência de sua condenação a possíveis 40 anos de prisão pela Suprema Corte”.

Essa análise é decorrente da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, na pessoa de Paulo Gonet, que busca investigar as manifestações de janeiro de 2023, apresentadas pela imprensa capitalista e pelo próprio STF como sendo uma “tentativa de golpe”.

A questão apresentada pelo redator é: a direita tradicional irá apoiar a “ultradireita”, na pessoa de Jair Bolsonaro? Mesmo com a possível prisão resultado da denúncia apresentada pela PGR? 

A questão, vista dessa maneira, torna a possível prisão de Bolsonaro, ou as prisões já efetuadas a mando de Alexandre de Moraes, todas obras do além, que não envolvem interesses políticos presentes no regime político. Tudo que foi feito contra os bolsonaristas, pela questão colocada pelo redator do Brasil 247, ou seria algo sobrenatural, ou seria a “defesa da democracia”, o que não deixa de ser algo sobrenatural também.

“A maioria dos eleitores ultradireitistas, em 2026, voltaria a votar em um notório golpista que atentou contra a democracia, conduzindo organização criminosa contra o estado de direito, conforme denúncia do PGR, depois de análise das investigações da Polícia Federal?”

Essa pergunta não deixa de ser resultado de outra confusão política. A existência de processos e mesmo de prisões não reduz o apoio popular de pessoas que, ao contrário da direita tradicional, detém uma base real de apoio entre a população. Basta ver o caso do próprio Lula, que ficou preso por mais de 500 dias. Nem por isso deixou de ser eleito. 

Os eleitores de Jair Bolsonaro não irão recuar um único milímetro em razão dos processos, de Alexandre de Moraes e mesmo de uma possível prisão. Na realidade, se o ex-presidente for preso, a tendência é que seu apoio popular pode até aumentar. Isso se essa prisão não resultar em uma crise gigantesca. 

“A direita que apoiou Bolsonaro, em 2018, voltaria a fazê-lo ou iria, por falta de candidato competitivo, unir-se à Frente Ampla lulista, com perfil de centro-esquerda, como aconteceu em 2022? Enfim, repetiria a dose com o lulismo carregado de tintas conservadoras sob orientação econômica dada por teto de gasto neoliberal, que, atualmente, divide a própria esquerda? 

Ou buscaria uma alternativa a Bolsonaro, tipo governador paulista Tarcísio de Freitas, de São Paulo, ideologicamente, bolsonarista, mas, aparentemente, sem condições de vitória, como demonstram as pesquisas preliminares, que o levam a admitir não ir à disputa por puro pragmatismo?”

As dúvidas do redator refletem um problema grave de análise política da esquerda. O problema em não ver que está em ação a luta de classes. Tudo que se deu até o momento na questão contra os bolsonaristas é obra da direita tradicional. Se Bolsonaro começou a ficar acuado por conta das ameaças de prisão, isso é obra desse setor da direita.
Essa ala, obviamente, não está disposta a encampar mais um mandato do governo Lula. Basta ver como o governo está estrangulado neste mandato pós-prisão. Não consegue realizar praticamente nenhuma mudança social e todas as tentativas nesse sentido são estranguladas. É óbvio que o governo Lula é intragável para a direita tradicional brasileira e mesmo a internacional. 

A possível prisão de Bolsonaro será obra dos golpistas de sempre, da direita tradicional. Tal qual foi a prisão de Lula em 2018, retirado, pelo Poder Judiciário, das eleições, entregando (fraudando) aquela eleição para que Bolsonaro saísse vitorioso. Quem, em sã consciência, acredita que o Sr. Fernando Haddad tinha alguma chance naquela eleição. Basta ver o que tem feito à frente da economia nacional. 

“Os militares, ocupantes de mais de seis mil cargos, na Esplanada, que estavam ao lado dele, teriam ou não dado apoio aos seus projetos, ou recusaram-nos em favor da preservação das instituições, embora evidenciem provas de que estiveram envolvidos nas articulações golpistas?”

Outra dúvida que revela certa inocência do redator. O golpe que acontece é o golpe que tem apoio dos militares. Não existe golpe de Estado sem isso. E essa lição quem deu foram os golpes que efetivamente aconteceram, de 1964 e de 2016, e não esse circo do “ataque violento ao estado democrático de direito” montado pela Rede Globo e Alexandre de Moraes.  

Se Jair Bolsonaro aparenta sair das cartas da burguesia golpista, certamente não será Lula a manter os interesses desse setor que manda e desmanda no País. 

Sem sombra de dúvidas, porém, uma conclusão é relativamente fácil de chegar: a prisão de Bolsonaro não vai reduzir sua base social e política. Resta saber se não é justamente essa a função de sua perseguição, ou se irão tentar, como em outras oportunidades (fracassadas), empurrar goela abaixo do povo os velhos vampiros de sempre da direita tradicional.

Outra conclusão fácil de chegar é que, tendo em vista vários golpistas do passado ainda na ativa, como o próprio Paulo Gonet, da PGR, Lula e o PT precisam começar a contar com outros apoios, em especial da população trabalhadora, caso não queiram assistir um “filme repetido”.

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