“O problema do uso de smartphones nas escolas é apenas a ponta do iceberg”. Assim começou a publicação assinada por Fernando Quiroga, no portal Brasil 247. O problema do uso de celulares nas escolas, de fato, está longe de ser um problema real, mas, ao contrário do que pontua o autor em seu texto, o problema não está no acesso à informação, mas no corte da educação e nos saques aos recursos feitos pelos banqueiros.
Em seu texto, é possível identificar, em cada parágrafo, a exultação pelo autoritarismo presente nas falas do autor, quando descreve o que é o smartphone, como “um dispositivo móvel que combina a funcionalidade do telefone celular tradicional com recursos avançados de computação” e, com base nisso, afirma que há o problema em adolescentes o enxergarem como uma “extensão do próprio corpo”. “Ele não é uma babá, como costuma-se dizer […] ele é a própria mãe e o próprio pai. Ele é ‘o dispositivo’.”
Enquanto o governo se preocupa em queimar cartucho lutando para proibir celulares, ignora que as escolas estão caindo aos pedaços, que os professores não têm salários dignos e que muitos alunos sequer têm acesso a uma alimentação adequada.
Em seguida, Fernando continua: “O contato visual da mãe com o bebê desvia-se para a luminosidade de conteúdos ininterruptos que aparecem na tela. […] Agora, é a própria alimentação que perde sentido de ser. O sabor, a textura, a temperatura, a combinação de alimentos – tudo isso é jogado ao lixo!” Deixando a poesia das palavras empregadas pelo autor, a proibição do celular nas escolas também não é, nem de longe, eficaz. Ela não restaurará o contato humano nem resolverá o distanciamento causado pelas tecnologias. Pelo contrário, a medida é mais uma forma de controle sobre os jovens, que já enfrentam um sistema educacional sucateado. Novamente, é repugnante ver a proibição dos celulares na escola, por parte de alguém de esquerda, ser tratada como uma medida progressista e que combaterá uma suposta “alienação”, quando a verdadeira alienação está na falta de investimento em educação – não no uso de dispositivos móveis.
Não obstante, o autor apresenta que a “regulamentação do uso de celular nas escolas é, por isso, um ato de coragem, como salientou o presidente Lula ao sancionar a lei, justamente porque é, sobretudo, uma medida de proteção à saúde e à aprendizagem.” A verdadeira coragem seria enfrentar os problemas reais da educação, como o sucateamento das escolas, a falta de professores e o desvio de recursos para o pagamento de juros aos banqueiros. Um ato de coragem seria arrancar das presas dos tubarões da educação as gordas e crescentes fatias do dinheiro público, cortando suas barbatanas que seguram o sangue de milhões de crianças brasileiras. Enquanto o governo possui a “coragem” de sancionar uma lei repressiva criminosa e inútil para qualquer fim progressista, o orçamento da educação é “corajosamente” saqueado, e os estudantes continuam sem condições mínimas para aprender.