Pegando carona na choradeira generalizada da imprensa golpista brasileira com o anúncio do fechamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) pelo presidente norte-americano Donald Trump, os articulistas Felipe Bailez e Luis Fakhouri, da Folha de S.Paulo, tiveram a indecência de escrever o artigo A conspiração Usaid: Trump, Musk e as eleições de 2022.
O texto diz que “mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram monitorados pela plataforma Palver vêm intensificando uma narrativa que associa a Usaid a uma suposta interferência com intenções golpistas nos rumos políticos do Brasil”. O texto segue dizendo que a “narrativa” sustenta que “a Usaid desvia recursos dos impostos dos Estados Unidos para financiar operações de influência e censura que favorecem determinados interesses políticos”, que “o presidente Jair Bolsonaro, retratado como vítima de interferência externa, teria se mantido no poder”, caso não fosse a intromissão da USAID, e que há uma suposta rede de influência “que se estende também a figuras internacionais como George Soros, apontado como o grande financiador por trás de uma rede de ONGs que colaboram com a Usaid para promover uma agenda globalista, e a Bill Gates, cuja fundação é citada como uma fonte de apoio a projetos controversos alinhados a essa suposta política de censura”.
Até aí, o texto não traz nenhuma grande novidade. Trata-se apenas do relato de uma plataforma fundada pelos próprios autores do texto sobre o que é discutido nos grupos de WhatsApp de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O que há de grotesco, no entanto, é que o texto procura apresentar a tal “narrativa” como algo fora da realidade. Dizem os autores:
“Ao refletir sobre essas acusações, é fundamental lembrar que a narrativa que coloca a Usaid como a grande vilã da interferência política e da censura é, antes de tudo, uma adaptação de teorias conspiratórias antigas, agora recontextualizadas para se adequar ao discurso da extrema direita. Em um momento em que a confiança nas instituições é essencial para a consolidação da democracia, o debate público deve se fundamentar em evidências verificáveis, e não em retóricas alarmistas que apenas ampliam a polarização.”
Ao dizer que são “teorias conspiratórias”, os autores querem dizer que são falsas. Isto é, que são apenas teorias, que são apenas utilizadas para manipular a opinião pública. E mais: ao falar em “fundamentar” o “debate público” em “evidências verificáveis”, os autores ainda rechaçam as tais teorias, indicando que elas seriam negativas para o que chamam de “democracia”.
Não poderia haver nada mais reacionário. De uma maneira geral, teorias conspiratórias não são negativas para nenhum regime democrático. Pelo contrário, elas servem para estimular a desconfiança das pessoas no Estado e nas autoridades. Isto é, servem para limitar a ação do Estado, que, por sua própria natureza, conspira a todo instante contra o povo. Quando os autores falam que as tais “retóricas alarmistas” seriam negativas para a “consolidação da democracia”, estão, portanto, pedindo que as pessoas tenham uma fé cega no Estado, que é conhecido por realizar todo tipo de maldade contra a população. Estão desarmando a população diante dos grandes monopólios e mafiosos que se valem da máquina pública para lucrar bilhões à revelia da vida do povo.
No caso da USAID, no entanto, a questão vai muito além de teorias conspiratórias. Trata-se de uma agência que, comprovadamente, atuou em inúmeros golpes de Estado em todo o mundo. Uma agência que foi criada, desde o seu início, para combater os regimes inimigos do imperialismo norte-americano.
Chamar de teoria conspiratória a ideia de que a USAID possa interferir na política de um país é colocar toda a teoria do imperialismo abaixo. É acreditar que os Estados Unidos – aquele mesmo país que jogou duas bombas atômicas no Japão – é uma nação filantrópica, que, sabe-se lá por quê, dedica-se a distribuir ajuda humanitária em todo o mundo.
Ninguém é tão trouxa assim. Os que falam em teoria da conspiração apenas querem omitir a ditadura brutal que existe no mundo