Neymar é um fenômeno em si. A sua volta, após dez anos, ao futebol brasileiro é um fenômeno à parte, coroando uma nova fase dos principais clubes nacionais em que jogadores que antes se concentravam no mercado europeu estão voltando — ou vindo, no caso de estrangeiros — para o País do futebol.
Os clubes brasileiros, que dominaram completamente a competição continental — a Libertadores, com cinco títulos consecutivos, com três finais exclusivamente brasileiras — estão repletos de craques. No São Paulo, temos Lucas Moura e Oscar; o Botafogo de Igor Jesus e Alex Telles; o Flamengo de Arrascaeta e Gerson; o Palmeiras de Veiga e Estevão; o Corinthians de Depay e Garro; o Fluminense de Ganso e Árias; o Atlético de Hulk e Arana; entre outros.
Mas, agora, o melhor jogador do mundo, atleta ao mesmo tempo geracional e histórico, voltou às raízes, na Vila Belmiro, jogando pelo Santos Futebol Clube. O Peixe e seus torcedores podem ter uma nova esperança, após a primeira queda para a Série B, em 2023, e a conquista do campeonato no ano passado.
Com Neymar, o time de Pelé, Zito, Coutinho, entre tantos outros notáveis do futebol brasileiro, volta de onde nunca deveria ter saído. Mas a volta de Neymar vai além disso: é uma revolução para todo o futebol brasileiro. É a comprovação de que o Campeonato Brasileiro é o melhor do mundo.
O príncipe do futebol voltou para fazer história, vestindo a mística camisa 10 de Pelé e liderando um time agora renovado com jogadores como Tiquinho Soares, Guilherme e o venezuelano Soteldo.
Os inimigos do futebol nacional, isto é, a imprensa burguesa comprada pelo imperialismo e representante de seus interesses, trataram logo de colocar dúvidas sobre a importância do feito. Muitos afirmavam, sem qualquer tipo de fundamento, o fim da carreira de Neymar — que está desde o fim da Copa de 2022 sem ritmo de jogo, tendo passado pela pior lesão da sua carreira no final de 2023. Uma lesão que chegou em sequência de uma outra no início do ano retrasado.
Uns duvidaram — querendo que isto fosse verdade — de Neymar retornar com o talento que o consagrou como melhor jogador do mundo (se não pelas premiações fajutas, para os verdadeiros amantes do esporte). Outros minimizaram a volta do maior artilheiro da Seleção Brasileira após Pelé, alegando que o craque ficará por apenas alguns meses. E, se é verdade que o contrato com o Santos vai apenas até junho deste ano, muita coisa ainda pode acontecer até lá. Neymar, claramente, demonstrou estar feliz em voltar para casa. Mas, mesmo que volte para o estrangeiro no meio do ano, serão quatro meses inesquecíveis para o futebol nacional.
Sobre a estreia: Neymar calou a boca dos críticos, numa noite quase perfeita. “Quase” porque, ao fim do tempo regulamentar, o Peixe acabou empatando com o Botafogo-SP, de Ribeirão Preto. Mas em relação ao evento e à atuação do jogador, uma noite perfeita.
Primeiramente, porque Neymar respondeu em campo ao seu ex-técnico do Al Hilal, Jorge Jesus, que alegou não haver condições físicas para o craque atuar, uma opinião com a qual, como ficou claro nas entrevistas pós-jogo, ele não concordava. Mas, no futebol e na vida, não adianta falar: é preciso fazer.
E Neymar fez.
Ainda sem ritmo de jogo e se recuperando, ficou o primeiro tempo no banco. Vimos um Santos com vontade, se articulando principalmente por meio do seu setor ofensivo, com craques de altíssimo nível — Tiquinho, Guilherme e Soteldo, além da joia da base Bontempo, garoto com muita habilidade e personalidade. Mas o time, talvez nervoso, estava bagunçado, errando muitos passes. A vontade era a mesma que fez esse time vencer o rival São Paulo por 3 x 1, mas faltou a qualidade nos momentos decisivos.
Mesmo assim, após uma jogada de Guilherme, artilheiro do Paulistão e do Santos, vivendo a melhor fase de sua carreira, pênalti para o Peixe. O artilheiro cedeu a bola para o novato do elenco, o magistral Tiquinho Soares, que converteu e abriu 1 × 0 contra o time de Ribeirão, marcando seu primeiro gol pelo Alvinegro Praiano.
No intervalo, sai Bontempo e entra Neymar, com a braçadeira de capitão, melhorando exponencialmente ao ataque santista. Nos primeiros minutos, alguma pressão do Botafogo-SP, mas nada muito fora do roteiro. Neymar, ainda entrando no clima da partida, chamou o jogo para si, aparecendo em todos os lados do campo, tentando alguns dribles e distribuindo passes para os companheiros.
Como não poderia ser diferente, a única maneira de parar o homem era com faltas duras. Nada novo para o jogador que mais sofre faltas no mundo. E, aliás, com um pouco mais de 45 minutos em campo, foi o jogador que mais sofreu faltas na partida: cinco no total. Sendo um fenômeno da natureza, a única maneira de tentar pará-lo é com força bruta.
Mas Neymar precisou de 15 minutos para fazer uma jogada espetacular, driblar a defesa adversária e meter uma porrada com o pé esquerdo, sua perna “ruim”, para o gol, quase marcando um golaço. E criou várias outras chances claras de gol, para o lateral Godoy, para Guilherme, que mandou uma na trave.
O Santos foi atacando com força. O Botafogo-SP reagiu com uma boa chance para seu melhor jogador, Silvinho, que foi parado pela trave santista. Aos 22 minutos do segundo tempo, porém, fatalidade: numa falha defensiva do Santos, gol de cabeça de Alexandre Jesus, que fez a tradicional comemoração “moleque atrevido” de Neymar. Enquanto o Santos ainda tem claros problemas defensivos, o Botafogo-SP marcou seu quarto gol na competição, todos de bola parada — ou seja, algo que deveria ter sido previsto pela comissão técnica portuguesa liderada por Caixinha (suspenso), que ainda tem muitos ajustes para fazer na equipe.
Mas o que se viu em toda atuação de Neymar foi estilo, beleza, fazendo o difícil parecer fácil, pintando um quadro de Da Vinci com a bola nos pés. Aliás, deve-se ressaltar também a extrema qualidade dos outros três atacantes santistas, o irreverente Soteldo, mas principalmente o majestoso Tiquinho e o destemido Guilherme, que auxiliariam o príncipe na exposição do futebol-arte.
Saiu de uma tabela entre Neymar — num passe de gênio — e Guilherme o lance que levou à expulsão do zagueiro botafoguense Walison, aos 28 minutos. Depois disso, pressão total do Santos, tentando perfurar a muralha organizada pelo time tricolor na área defensiva. Aos 37 minutos, mais uma bola na trave do artilheiro do Paulistão, em outra jogada articulada pelo camisa 10. Um minuto depois, uma linda deixada de Tiquinho para Neymar, que dessa vez não acertou o gol.
Infelizmente, o gol não saiu. Mas o principal destaque do jogo foi o completo entrosamento do trio Neymar-Tiquinho-Guilherme, parecendo que jogam juntos há anos. O ataque do Santos, de fato, está totalmente qualificado para levar o time para disputar no topo do futebol brasileiro. Será preciso, porém, resolver o problema defensivo. Será essa a missão da comissão técnica portuguesa, que, aliás, errou durante a partida.
Após a expulsão do jogador adversário, o substituto de Caixinha demorou para colocar um time mais ofensivo. Pelo contrário, tirou o ofensivo Soteldo para colocar Thaciano. Apenas no final da partida colocou Luca Meirelles para aumentar a potência ofensiva.
Dito isso, que bom ver Neymar de volta na Vila Belmiro e no Brasil.